Pular para o conteúdo principal

Dúvidas de Leitores: A última do ano

Mais uma vez recebo uma pergunta de um leitor e mais uma vez o tema é empregabilidade, essa resposta é a ultima que forneço esse ano. O nome da leitora da aprazível cidade de Goiânia será como sempre omitido. Segue abaixo o texto do e-mail como me chegou.

“Olá, meu nome é [...]. Estou interessada em cursar relações internacionais, mas tenho dúvidas a respeito do curso. Moro em Goiânia e quero R.I na UnB e tenho medo de não encontrar um bom emprego após a formação, porque li em algumas comunidades do Orkut e muitos falaram que estão decepcionados com o curso porque estão desempregados. E gostaria de saber a sua opinião porque muitos que cursaram R.I ficam desempregados após o término do curso? À chances de conseguir um emprego após a graduação do curso? Uma vez conversei com uma garota que me disse que não compensa cursar R.I porque qualquer pessoa pode atuar, como por exemplo, quem faz administração, direito, etc.

E quem entra no curso de R.I, como eu, por exemplo, que só tenho fluência em inglês pode arrumar um bom emprego na área de R.I ou precisa de mais de uma língua para arrumar um emprego nessa área?

Ajude-me, por favor, pois estou querendo muito cursar R.I, mas por causa dessas dúvidas, fiquei um pouco confusa.”

Bom quanto à questão da decepção encaro como natural de quem se esforçou por anos em um curso universitário que se levado a sério é bastante puxado, demanda uma carga de leitura bastante considerável (mas, creio que quase todos os cursos superiores assim o são).

Tenho textos aqui nesse blog e no portal Mondo Post (link) que tratam da decepção, de modo geral eu não compartilho do pensamento geral que imputa a dificuldade de obter colocação profissional apenas numa pretensa incompetência ou inabilidade de quem se encontra desempregado, acho essa linha de pensamento um pouco cruel e deslocada da realidade já que a quantidade de vagas é limitada.

O desemprego é uma realidade palpável para o formado em relações internacionais, embora haja exemplos e muito notáveis inclusive de bacharéis que obtiveram empregos na área o prognóstico não é fácil, não tenho as estatísticas exatas de desemprego entre os formados, mas arrisco com um grau de confiança muito boa de que mais de 50% não trabalham na área.

Dentre as causas do desemprego, como coloco em inúmeros textos, está em certa medida essa concorrência que você coloca, embora essa mesma característica multidisciplinar seja em minha visão uma das maiores forças do bacharel, a síntese dessa teoria que defendo se encontra aqui. Eu gosto dessa concorrência me animo com ela, embora haja limites legais para isso.

Não nego, contudo, que muita gente compartilha da visão dessa moça, de que essa concorrência afasta o empregador. Defendo que cada um de nós tem a obrigação de vender nosso “peixe” para os empregadores, não tenho arroubos coletivistas, mas nesse caso de inserção no mercado cada um de nós acaba se tornando um ‘embaixador’ da profissão.

A dúvida lingüística sobre o inglês é muito recorrente aqui, tanto que em geral respondo diretamente por e-mail. Sim, o inglês é fundamental e o fato de você ser fluente é muito importante, outras línguas (como espanhol, francês, italiano, etc.) são fatores diferenciais é claro. Embora se você falar apenas inglês não terá nenhuma grande dificuldade em conseguir emprego, bom enfrentará muitas dificuldades, mas não por causa da língua.

Creio que a resposta está curta e que você espera um bom aconselhamento, mas me sinto bastante desconfortável em aconselhar alguém, posso dizer que sou apaixonado pelo que faço, há empregos na área embora sejam muito difíceis como já disse acima. Há quem trabalhe na área, há quem não. A vida é feita de incertezas.

Recomendo a leitura da tag dúvidas de leitores e que você reflita profundamente e ai tome uma decisão.

Desejo-lhe toda sorte no caminho que você escolher.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...

Teoria geral do comércio de Krugman e Obstfeld

Modelo elaborado por KRUGMAN e OBSTFELD (2001, p 65) propõe um formato de comércio internacional baseado em quatro relações: a relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a oferta relativa; a relação entre preços relativos e demanda; a determinação do equilíbrio mundial por meio da oferta relativa mundial e demanda relativa mundial; e o efeito dos termos de troca [1] sobre o bem estar de uma nação. Quanto ao primeiro item a inferência desse modelo é suportada pelo conceito microeconômico que uma economia, sem deformidades, produz em seu ponto máximo da fronteira da possibilidade de produção, como esse modelo assume mais de um fator e mais de um bem, a forma como a distribuição se dará será determinada pela oferta relativa de determinado bem alterando as possibilidades de produção de toda a economia por alocar mais recursos na produção desse bem. No que se refere à relação entre preços relativos e demanda pressupõe que a demanda por determinado bem deriva da relação entre...