Pular para o conteúdo principal

De bravata em bravata

A imprensa e a chamada “comunidade internacional” (conceito usado soltamente pelos jornalistas e políticos) celebraram, como definitivo (com exceções é claro), na semana retrasada com o Acordo em Honduras. Escrevi aqui que o acordo era bem-vindo, mas que não era liquido e certo que esse acordo traria a estabilidade política.

Manuel Zelaya parece determinado a ser restituído a qualquer custo, inclusive da própria democracia Hondurenha, ainda mais depois que o Departamento de Estado demonstrou em alto e bom tom que aceitaria o resultado da eleição como legitimo não obstante a restituição do presidente deposto.

Desta vez o governo interino se demonstrou mais flexível ao demonstrar efetivo compromisso com o acordo indicando nomes e dando condições para que a comissão de verificação trabalhar.

O grupo político de Zelaya por seus cálculos políticos decidiu retomar a bandeira da restituição, talvez para pressionar pela via da bravata que o Congresso o restitua, já que o apoio das nações latinas é fundamental para Zelaya ao atribuírem a legitimidade das eleições a restituição.

Portanto a situação voltou ao cenário inicial um embate entre grupos políticos hondurenhos pelo controle e proeminência. Algo que seria natural se não flertasse com o prolongamento de uma situação de tensão social e isolamento econômico que castigam ainda mais a população do segundo país mais pobre da América Latina, pode-se até especular que o prolongamento dessa situação de agura está nos cálculos de Zelaya e seus apoiadores como estopim que irromperá manifestações populares que o reconduzam ao governo com plenos poderes, para inclusive manter seus planos originais.

Devo salientar que não há provas concretas de que isso esteja em jogo é uma possibilidade que cabe ser aventada, mas não em tom denunciador, apenas como uma elaboração lógica a partir dos discursos e da insistência pela via da bravata, por nosso “hóspede”. Que pode, também, ter calculado que com as dificuldades de Obama em coordenar a política para América Latina (que sofreu mais um revés ao ter seu indicado para a embaixada em Brasília recusado pelo Senado) possa ser vacilante em seu apoio aos resultados das eleições.

O jogo é muito maior que só a restituição é o próprio futuro político do grupo bolivariano em Honduras, que se respeitado o acordo terá sido o primeiro país a resistir a uma investida profunda do meio bolivariano de conquistar o poder, que pela forma como foi conduzido não poderá ser facilmente replicado.

Como analista tendo a ver a restituição de Zelaya ocorrendo e sendo usada como vitória política, inclusive do Brasil, mesmo sendo fruto de uma atuação muito bem sincronizada do Departamento de Estado dos EUA. E não terá grandes poderes nesse período, mas se firmará como figura política forte em Honduras o que pode atrasar ou mesmo inviabilizar o tão necessário processo de reconciliação política e social hondurenha. Mas, pelo ritmo das coisas ainda veremos muitos sobre essa crise.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...