Pular para o conteúdo principal

Abstrações

Por que cursamos uma universidade? Por que buscamos pelo chamado nível superior de ensino? Nesse blog gosto de tratar de assuntos altamente técnicos, debates sobre assuntos do dia a dia, no calor dos acontecimentos (o que indubitavelmente abre espaço para juízos temerários, não por má-fé, ou por cegueira ideológica, mas pela falta de informações completas), me arrisquei até em textos opinativos de caráter editorial (claro como não sou jornalista, podem não editoriais que sigam a boa norma da redação jornalística), contudo meu tipo de texto preferido são os textos que chamo de reflexão.

São meus favoritos por que são escritos livremente, isto é, sem as amarras do método cientifico e sem compromissos ontológicos, gosto de pensar que são desabafos intelectuais provocados pela inquietação que resta em nossas mentes quando deparados com textos teóricos, filosóficos e históricos.

Essas abstrações ajudam a demonstrar para meus leitores o processo de construção do meu pensamento que em matéria de relações internacionais não é nada dogmático e está sempre aberto para revisões de conceitos adequações e mostro esse processo por que creio ser útil para a análise do que escrevo. Para que não julgue minhas palavras em termos do “que eu quis dizer realmente” por que ao demonstrar o caos de idéias claras que por vezes povoa minha mente fica claro até mais para vocês minha preferências aprioristícas, ao que se chama axiologia.

Tenho idiossincrasias que premiam tudo que escrevo consigo identificar que nesse sentido sou um defensor entusiasmado da democracia (liberal-ocidental, significando liberdade de expressão, eleições livres e periódicas, harmonia e independência entre os poderes, respeito às regras do jogo e a Constituição, respeito às instituições, alternância de poder, respeito aos Direitos Humanos e principalmente supremacia dos direitos e liberdades individuais).

Sou caudatário também do livre comércio como meio de maximização do bem estar das populações. Acredito no menor estado possível, sei uma heresia nesses tempos de crise, mas é claro para mim, que a intervenção estatal é terreno fértil para corrupção, conluios, desvios de finalidade, transformado a economia de mercado numa economia cartorial, além do mais não é por que uma empresa pertence ao governo, significa que o povo é dono dela, ou se beneficia disso, basta para isso considerar o preço do combustível nos postos.

Hão de me dizer: “mas na hora da crise seu precioso capitalismo liberal de mercado recorreu ao apoio do Estado para não quebrar”. Posso responder sinteticamente que todo o dinheiro que o Estado tem é fruto de uma apropriação de dinheiro particular, na forma de impostos, assim nada mais natural que o mesmo Estado que prospera e existe por que é financiado pelo dinheiro particular confiscado, devolva parte desse dinheiro para preservar o sistema que lhe financia.

E tenho a convicção que menor for o poder estatal menor sua habilidade de interferir na vida dos cidadãos, por vezes super-regulando aspectos particulares da vida das pessoas, cada minuto perdido em burocracia é uma afronta a liberdade, ainda que algum grau de limitação é devida em troca de ordenamento e serviços providos pelo Estado.

Para alguém como eu é muito indecoroso, por exemplo, que o governo use seu peso para dirimir a liberdade
de expressão, seja perseguindo dissidentes, seja criando um quadro de belicosidade entre a imprensa e os seus apoiadores. Sem querer plagiar Tocquevile , mas não há males da liberdade que não se corrijam com mais liberdade.

Tenho plena ciência que essas abstrações da teoria política são inerentes ao meu pensamento, sem falar em outros valores, mesmo que no exercício da ciência eu busque pela objetividade, essas coisas afetam as escolhas, até mesmo a escolha temática, no caso de um estudo acadêmico por exemplo.

Voltando para indagação inicial desse texto é função da universidade, do ensino superior ensejar esse tipo de pensamento abstrato, mas fundamental para que o individuo possa se construir eticamente e filosoficamente.

Não, não prego um divórcio entre o ensino superior e a busca de um diploma para conseguir uma carreira melhor, melhor nível de vida e ascensão social, são motivos legítimos, mas não devem ser objetivos únicos em si mesmo, por que sem o pensamento abstrato, sem valorar o conhecimento, sem a constante reflexão não há no profissional aquele elemento de visão de mundo que se espera de alguém “formado”.

Essa reflexão sobre abstrações é provocada pela leitura que venho desenvolvendo nos últimos dias, sempre me preocupo com o papel que tenho a cumprir na sociedade e se esse papel existe. Ainda mais no clima atual em que um ufanismo e nacionalismo têm dado o tom das análises internacionais, transformando qualquer um que seja crítico das posições oficiais em uma espécie de traidor da pátria, da classe e da raça. Pois eu considero dever de qualquer cientista social analisar com decoro e honestidade intelectual os fenômenos da política internacional (no caso especifico das relações internacionais).

Como já disse certa vez é a preocupação metodológica, factual e intelectual que provem da reflexão abstrata constante que permite que se analise a realidade de maneiro menos apaixonada, distanciada do objeto e dos atores, e atenta para não ser contaminada pela aceitação acrítica de versões oficiais ou conspiratórias. Essa conduta separa uma opinião embasada feita por um especialista na área, ou por alguém que mesmo não sendo especialista se conduz com esses princípios, de uma opinião qualquer de mesa de bar.

Aqui, portanto, nesse blog primo pela clareza nas intenções e o faço por que acredito ser a conduta ética e cientifica mais adequada, ainda que esse seja um espaço opinativo por excelência, busco justificar essas opiniões e mais convido aos leitores que façam o mesmo que reflitam. E em um debate ainda que seja acalorado, busco ouvir (ler) os argumentos da contraparte, por que um bom debate se faz em torno de argumentos e de como são construídos esses argumentos assim se cresce e aprende de outro modo é apenas um bate-boca digno de partidários políticos.

Ok, admito é um texto um tanto heterodoxo esse variando de assuntos e sem um fecho conclusivo, mas a idéia é estimular o debate (ainda que no intimo dos leitores). Nesse ponto o título abstração caiu como uma luva, não?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...