Meus caros sei que Honduras é um assunto que está em todo canto. Aqui mesmo nesse blog são demasiados os textos, por algum momento tentou-se criar uma polarização primária entre pretensos democratas (que condenavam o golpe) e “brucutus da direita” (que defendiam a deposição de Zelaya).
Não é preciso dizer que esse tipo de abordagem, além de ser demasiadamente ideológica e abre caminho para argumentos que na maioria das discussões caem em falácias como argumentos “ad hominem” e em linhas de argumento que se concentram em debates acerca de futilidade como “foi retirado de pijamas” ou acerca da Constituição de Honduras e nesse particular se perdeu a meada principal do assunto em minha opinião que é tentar estabelecer como se construiu o quadro que culminou na deposição. Como restaurar a normalidade institucional em Honduras? E a análise da atuação das terceira-partes no assunto, como Brasil, EUA, Venezuela, Nicarágua, Costa Rica, UE, OEA e ONU.
Esses assuntos acabaram marginalizados na agenda dos debatedores políticos, em especial, na imprensa e nos blogs. É verdade que nem todos, aqui e em outros lugares, se analisou os caminhos institucionais e políticos da América Central, e como agiram os atores principais, nesse particular fui e ainda dou muito crítico ao modo abrupto com que a OEA agiu e outros autores dificultando a saída patrocinada pelos EUA que se apresentava no agora batizado “Plano Arias”.
Minha preocupação primeira sempre foi com a integridade do tecido social hondurenho e da integridade de sua população, que poderia ser exposta a tal nível de polarização que uma guerra civil poderia ter inicio, ou uma insurgência a depender do tamanho do grupo zelaysta e de como o governo interino tentaria impor sua autoridade. Após isso a minha preocupação foi analisar como e se haveria restauração da ordem democrática, que é um valor pelo qual nutro muito apreço (sei que a objetividade deve ser primordial, mas axiologicamente falando não consigo deixar de levar em conta a democracia). Uma terceira fonte de avaliações sobre os impactos que ações acerca do caso hondurenho tiveram na ordem política regional.
Nesse ultimo ponto várias inferências foram feitas a partir de discursos e atos políticos, incluso ai a ingerência brasileira que nem mesmo a blitz de relações públicas do governo pra defender essa atitude foi capaz de como dizem os americanos dar um “spin” nesse tema, que acabou ofuscado ao menos no debate público pelas argumentações nacionalistas de defesa da Embaixada, alias foi defendendo esse uso sem precedentes em nossa história de uma Embaixada brasileira que se ressuscitou o tema da retirada golpista, claro assim se desvia o debate. Assim é a política. E aqui nesse blog nós nos preocupamos pelos estudos das relações internacionais. E esse tema rende muito.
Feito esse paralelo de como se deu o debate aqui e em outros lugares, vamos a análise das notícias do dia, que nos servem de material com a dificuldade de se fazer uma filtragem muito complicada das fontes já que a proximidade dos eventos dificulta o acesso a dados.
A grande noticia do fim de semana e do inicio dessa semana é a possibilidade depois de muita pressão interna e externa de uma solução acordada para a crise, o que nos traz a esperança de que cessem confrontos mais violentos, apesar d’eu crer que persistirão por alguns dias. O clima ainda é tenso demais as forças de segurança cansadas e tensas assim como os manifestantes e isso pode levar para ações extremadas, isoladas ou não.
São auspiciosos os sinais, contudo, a volatilidade das personalidades e forças envolvidas nos levam a primar pela precaução quanto a cenários e desenvolvimentos.
Esse assunto, contudo, é exemplar para os que começam agora na ciência difícil da análise internacional, para vermos como é difícil manter a neutralidade, objetividade e coerência lógica nas análises. É um caso que nos serve para aprender a lidar com esses eventos. E, principalmente, nos ensinam a lidar com nossas próprias questões e escolhas aquilo que se chama de axiologia.
Resta muito a ser pesquisado e analisado e há a possibilidade bem real e tangível de que muito do que se pensou e escreveu no calor dos acontecimentos estar errado. No melhor dos cenários, errado somente pela dificuldade de acesso a informações e de tempo para tratamento metodológico, no pior dos casos erros de lógica ou ideologização do tema. Mas, a ciência se faz assim de acertos e erros, enfim de debates feitos com civilidade e sobre fatos e resultados de análises.
Comentários