Mais uma vez recebo o e-mail de um jovem que está lidando com as dificuldades profundas que são inerentes ao vestibular e a escolha de uma carreira no final da adolescência e claro as tradicionais indagações sobre empregabilidade, que são perfeitamente normais.
Algumas respostas podem parecer redundantes para quem segue esse blog e por isso desculpo-me, mas é por que alguns fatos permanecem os mesmos. Além, dessas indagações há também outra bastante comum que aflige muitos vestibulandos que é optar ou não por outra graduação como forma de atenuar as dificuldades de inserção profissional.
Feita essa pequena introdução vamos as respostas para questão central que é o pedido para que eu esclareça as áreas de atuação de um profissional de relações internacionais já que o leitor afirma que deseja trabalhar com qualquer coisa relativa ao internacional em ONG’s, consultoria, embaixadas.
Vamos por partes cada uma dessas ocupações embora possam ter o mesmo título no cargo têm atribuições muito distintas e obviamente estão em campos distintos as Organizações Não Governamentais Internacionais, são organizações do chamado terceiro-setor, em geral são grupos chamados de advocacia (no sentido que defendem, advogam, por uma causa) que atuam de várias maneiras. E o serviço prestado pelo internacionalista depende do tipo de atuação da ONG em questão, podendo variar de observar e mapear posições políticas em determinado assunto nas diversas políticas externas dos países e tentar introduzir os pontos de vista defendidos por essa organização na agenda.
Uns exemplos para ficar mais claro supondo que você seja um analista internacional de uma ONG ambientalista, seu trabalho a essa altura seria mapear as posições que os países pretendem defender na próxima reunião do clima em Copenhagen, e elaborar em conjunto com a equipe da ONG estratégias que influenciem essas posições em favor da posição da ONG, além disso, há a possibilidade que essa ONG atue em rede com outras ONG’s, e ai a atuação do internacionalista se focaria na comunicação com essas outras organizações, na construção de uma agenda única e a condução dos contatos.
O serviço de consultoria pressupõe uma experiência anterior em que você tenha adquirido know how e seu trabalho é emprestar esse aprendizado para que o cliente tenha uma curva de aprendizado mais eficiente ao lidar com questões internacionais.
Um exemplo de consultoria ligada ao comércio exterior, que você cita como algo de interesse, o cliente deseja começar a exportar, mas na equipe da empresa dele não há ninguém que tenha lidado com comércio exterior então seu trabalho seria criar um plano de internacionalização, em conceito muito parecido com o plano de negócios, nesse plano, após avaliar a cultura da organização, nível de gerentes fluentes em línguas estrangeiras, tipo de produto, capacidade de produção, capacidade financeira, entre outras coisas, você apontará os caminhos que devem ser tomados, os custos e os prazos além de quem será responsável pelas ações, como funciona o departamento de relações internacionais dessa empresa, atribuições, métodos, rotinas e práticas.
E ao depender de quão especifico for o trabalho, caberá a você sugerir mercados para começar o processo, maneiras como se pretende conquistar e reter participação nesses mercados, canais de distribuição, seleção de parceiros, se é ou não preciso ir a feiras internacionais, nesse sentido determinar qual feira, planejar a agenda a ser executada nessa feira, incluso agendar reuniões previamente, determinar ao pessoal da publicidade e do marketing que estratégia a empresa vai adotar.
O diferencial desse trabalho feito por um profissional de relações internacionais está na capacidade levar em conta fatores de risco político, interno e externo, bem como negociações internacionais que possam afetar esse negócio. Claro que isso é só um exemplo, como consultor tenho cada dia visto que as demandas dos clientes são realmente muito variadas.
Já trabalhar em embaixadas é trabalhar no setor público e isso pode se dá de duas maneiras distintas, como funcionário local de representação estrangeira no Brasil, muitos amigos meus trabalharam e estagiaram em embaixadas, fazendo serviços variados desde ligados a inteligência comercial, a rotinas burocráticas da embaixada.
A outra maneira é como servidor do quadro do Ministério das Relações Exteriores que variam do Assistente de Chancelaria (cargo de nível médio, creio) a Diplomata, passando por Oficial de Chancelaria. A admissão a todos esses cargos se dá por concurso público, sendo o cargo de maior possibilidade de evolução e prestigio o de diplomata, que exige muito estudo, mas bota muito nisso para obter a aprovação no CACD – Concurso de Admissão a Carreira Diplomática, concurso anual e muito mais estudo para concluir o Curso do Instituto Rio Branco (equivale a um mestrado em diplomacia).
Na esfera pública há outras carreiras que lidam com assuntos internacionais, todos os organismos federais, ou quase todos tem assessorias de relações internacionais, além de carreiras no Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio, na Agência de Promoção das Exportações e Investimentos – APEX. Claro nenhum desses concursos citados é exclusivo para formados em relações internacionais.
E com o crescimento da paradiplomacia muitos estados e municípios estão abrindo vagas em assessorias internacionais.
Ainda assim não é um cenário auspicioso que aguarda os recém-formados, a maioria acaba por trabalhar em áreas que são marginais ao curso de relações internacionais, ainda que alguns já tenham me confidenciado que mesmo não trabalhando com RI, per se, os conhecimentos adquiridos lhes são úteis.
Muitos, também, são os que se arrependem amargamente da opção por relações internacionais não é de maneira nenhuma um mercado fácil, principalmente para conseguir a primeira colocação. Não quero lhe desanimar, nem a ninguém que aqui busca por informações, mas não posso negar-lhes essa verdade.
Eu acredito firmemente que uma decisão deve ser tomada com o máximo de informações possíveis por isso reitero esse aviso de precariedade no mercado, para que em caso de opção por relações internacionais desde o começo o aluno fique atento para as oportunidades de melhorar seu currículo, que o aluno busque por soluções e principalmente esteja mentalmente preparado para enfrentar as dificuldades com galhardia (estarei ouvindo muito aos discursos de Amorim).
Desejo toda a sorte do mundo e que em breve sejamos colegas de profissão. Espero que esse texto, em conjunto com toda a literatura acumulada nessa tag, tenha sido útil.
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