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Bases americanas, fronteiras, Uribe, Lugo, Morales e Lula. Ou sobre helicópteros em chamas – II

Foi criado o tal Conselho de Defesa Sul-Americano, que se pretender ser eficaz e contribuir para a paz da região deveria articular ações coordenadas de combate, repressão ao narcotráfico, que é transnacional e violento por excelência. O Brasil se mostrou extremamente desagradado pelo aumento da presença militar na Colômbia dos EUA, mas não ofereceu alternativas a essa presença, liderança no cerco aos narcotraficantes (estejam transvestidos de guerrilheiros, milícias, ONG’s e por ai vai).

Nesse sentido as negociações com a Bolívia, por exemplo, poderiam ter sido conduzidas dando a vitória pública ao regime boliviano que precisava se afirmar diante das expectativas que gerou e poderia em troca desse “prejuízo” com as refinarias e investimentos nesse país ter alcançado ao menos um compromisso de redução da área plantada com pés de coca nesse país e um combate e patrulhamento mais acirrado da fronteira além de cooperação policial mais estreita.

Outro ponto são as negociações com o Paraguai que como já disse aqui podem ser conduzidas de forma a alcançar resultados pragmáticos que sirvam para sustentar o combalido governo do trânsfuga Lugo (que parece ter levado a sério a idéia de ser o pai do povo, se me permitem o gracejo), de maneira que ao ceder na questão de Itaipu, consigamos um compromisso de maior pressão das autoridades paraguaias em grupos de traficantes de armas e de receptadores de carros roubados.

O Brasil se quer uma potência benevolente e quer projetar uma imagem de liderança positiva que age como elo entre atores centrais e atores mais periféricos, nesse conceito faz sentido que o Brasil ceda constantemente a nações menores numa forma de softpower, contudo, ai se instala um dilema por que não obstante a estratégia de governo resguardar o interesse nacional. Assim, pressionar por alguma concessão em segurança que é além de vital ao interesse nacional mutuamente vital para todas as partes envolvidas na questão.

É hora de agir contra o tráfico de drogas e de armas de maneira dura e coordenada por que não é um problema do Rio de Janeiro, do Brasil, da Colômbia, da Bolívia, do Paraguai, mas sim um grave problema de segurança da região. Isso sem contar a devastação humana e familiar que os assassinatos e o vicio trazem nas famílias, nas comunidades. Com o agravante que esse dinheiro ainda aumenta a magnitude da corrupção e degradação institucional na região.

Portanto, creio ser mais produtivo a região se somar aos esforços dos EUA e incrementá-los e com o tempo substituir tratando a questão de maneira pragmática, fazendo uso dos recursos técnicos e financeiros dos EUA, sem deixar uma questão como essa ser ideologizada.

A realidade continental, contudo, se mostra completamente diferente do que proponho há um viés ideológico complicado de se lidar por que polariza a opinião pública, principalmente com relações aos EUA. Não obstante isso é possível com trabalho do Itamaraty obter ao menos compromissos com países vizinhos, com vistas a uma região mais estável e pacifica.

E quem sabe assim cessem cenas trágicas e lamentáveis como as que vimos nesse fim de semana, que alias vemos todos os dias em todo o país, não importa quão pequena a cidade ou comunidade.

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