O Embaixador Azambuja em breve entrevista a rede Globo News disse e faço aqui uma transcrição não literal da declaração dele (que fique claro) com muito mais tato o Embaixador deixou claro que o Brasil arrumou uma batata quente em suas mãos, um problema político desnecessário e desgastante ao permitir a entrada de Zelaya para se instalar em nossa Embaixada em Tegucigalpa, sem que, contudo, tenha sido dado o status de “Exilado Político” ou refugiado diplomático.
É preciso que fique claro que a luz do Direito Internacional o ato brasileiro não tem respaldo [Nesse particular há uma entrevista muito boa com um especialista em Direito Internacional e panelista da OMC, Durval Noronha de Goyos, aqui] já que de dentro da Embaixada o presidente deposto discursa e conduz atos políticos o que não é permitido pelo status de exilado, portanto, o que o governo Lula patrocina é uma clara ingerência nos assuntos internos hondurenhos e estimulo irresponsável a confrontação, ao expor manifestantes e forças de segurança ao conflito, além de arriscar a integridade da embaixada, o que demanda uma resposta dura, pois é inaceitável. Esse é o tamanho do impasse, por isso digo que o Brasil está sendo tragado para o meio de uma crise política em uma região nada estratégica ou vital para o interesse nacional brasileiro o que poderia justificar o risco da ação.
Ingerência e intervencionismo não são condizentes com a grande estratégia brasileira de buscar a liderança regional e ser o ator indispensável em qualquer tipo de negociação norte-sul, leste-oeste. E, claro em breve pode alimentar sentimentos antibrasileiros que são latentes no discurso de muitas correntes de opinião em nossos países vizinhos, que com alguma freqüência inclusive se posicionam contra o Brasil, ou com desconfiança das pretensões como a Cadeira Permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Nesse momento agudo de impasse é preciso ter atenção redobrada ao ouvir os líderes, os atores políticos que estão envoltos é preciso um grau de sensibilidade para ler por debaixo do “diplomatiquês” e por isso mesmo muitos especialistas divergirão.
Analisar as relações internacionais por mais que se tente não tem uma componente de futurologia e isso pode resultar em erros de projeção de cenários possíveis, já disse aqui a dificuldade reside na escassez de informações e em quão fidedignos são os relatos da mídia que nos chegam?
Por isso os discursos ganham destaque e é particularmente perigoso o tom de ultimato que as autoridades brasileiras têm enfatizado, ainda mais por que não fica claro o que o Brasil pretende ter como reação a uma violação da Embaixada, seja por forças oficiais de um governo que o Brasil não reconhece (mas exige reconhecimento), seja por vias obliquas nesse tipo de ambiente tumultuado em um país que sofre com as temíveis e multinacionais “maras” (quadrilhas criminosas que vão do crime de rua ao crime organizado como tráfico de drogas e de pessoas e se espalham por toda América Central e do Norte, com relatos de atuação inclusive no Canadá).
Esses criminosos comuns podem ser usados como “bucha de canhão” para aprofundar a crise levando a situação política a uma possível e virtual ruptura do tecido social e do próprio Estado. Situação em que muitos grupos políticos e criminosos podem lucrar muito. Isso sem falar nas forças estrangeiras, como infelizmente o Brasil que entrevêem com suas agendas próprias.
Depois dessa digressão e voltando aos discursos. Perigosa, também é a retórica inflamada de Zelaya que diz querer negociar pacificamente, e ao mesmo tempo fala em “pátria, restituição ou morte”, o que é uma clara apologia ao levante violento, a guerra civil. E impasse se completa com a decisão de enfrentar o mundo e resistir por parte do governo interino.
Como em uma situação como essa um cenário negociador pode emergir, ainda mais por que todos os enviados, incluso ai o presidente da OEA, têm um preconceito com o governo interino que levado a mesa de negociação somente exarcerba o impasse e a polarização.
E assim o Brasil, que tanto protesta contra violações do Direito Internacional, comete uma ao patrocinar atos políticos de convidado que não retém nenhum status oficial, além de hóspede de nossa embaixada, essa decisão expôs a imagem do Brasil em caso de ruptura ou guerra civil, expôs o pessoal da embaixada a riscos pessoais (que fazem parte do trabalho é verdade) e ainda produziu algo raro se não inédito que é receber como perseguido político alguém que já estava fora de seu país e forçou o retorno, numa imprudência memorável.
Nessa crise a primeira baixa foi a ambição do Brasil de ser interlocutor natural de soluções pacificas e negociadas, além da propalada moderação do governo Lula frente a seus colegas latinos mais proeminentes em matéria de políticas externas espalhafatosas.
Muito tato, serenidade e talento político serão necessários agora para que o Itamaraty esfrie essa batata sem queimar o Brasil.
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