O Presidente deposto Manuel Zelaya de Honduras retornou hoje a Tegucigalpa em uma articulação que revela definitivamente os alinhamentos políticos na América Latina, o governo Brasileiro que mantinha um discurso de neutralidade e era visto por muitos analistas como interlocutor moderado na esquerda ora em poder na Região.
Contudo, essa percepção pode mudar com o papel ativo que o Itamaraty tomou no recente desdobramento da crise hondurenha. Ao abrir a Embaixada do Brasil em Honduras para que o presidente deposto se instale e fique protegido do governo interino que pretende prendê-lo e julgá-lo pelos crimes que sustentaram sua deposição. O Brasil tem, claro e todo sabemos uma longa tradição de concessão de asilo político e diplomático, mas esse caso é diferente, pois esse já havia saído do território hondurenho e retornou. Uma diferença nada pequena a situações anteriores.
Ao interferir diretamente em assuntos internos de outros Estados o Brasil rompeu perigosamente com uma diplomacia notadamente voltada a negociação e solução pacífica de controvérsias, o governo Lula passa a ser um ator diretamente envolto em qualquer que seja o desdobramento desse ato.
É necessário observar que o risco de deflagração de uma confrontação violenta que pode levar Honduras há uma guerra civil, hora não obstante palavras de paz e dizer que quer uma negociação pacífica, mas em um estado político polarizado esse ato é claramente temerário, por que basta um, apenas um, grupo mais exaltado para que a situação saia de controle. Como nos confrontos no aeroporto na primeira tentativa de retorno de Zelaya, em julho passado.
Do ponto de vista da política regional pode-se especular que o presidente Lula, pretende assumir a liderança regional e ser o protagonista no lugar de Hugo Chávez, a título de especulação pode-se também crer numa ação concertada, que trás força a tese da condução e articulação política na América Latina, por meio do tal foro de São Paulo (organização que contempla partidos e movimentos sociais de esquerda das mais diferentes frentes do marxismo, incluso ai grupos de luta armada).
O fato, não obstante qualquer consideração geopolítica, é que o risco se eleva e quem se preocupa com o povo hondurenho? Com seu bem-estar e integridade física?
Assim a volta de Zelaya visa forçar sua volta ao poder, para dar uma vitória simbólica e importante ao chavismo e ao continuísmo no continente. E a abertura da Embaixada do Brasil, tragou o Brasil para a essência do conflito e a meu ver desmente completamente a separação que fazem de Lula e Chávez. Lula perdeu sua aura de moderado.
Um risco absurdo de rompimento das instituições e de guerra civil se instala em Honduras e agora com o Brasil como patrocinador da intensificação da crise. Com o risco de sermos tragados para o conflito de uma maneira mais aguda caso por conta desse asilo diplomático a integridade da Embaixada ou do pessoal brasileiro que lá serve.
Agora nos resta observar os desdobramento das ações em Honduras e como o Presidente Lula (em conjunto com Amorim e Marco Aurélio Garcia) conduzirá essa crise e cresce em importância o discurso de Lula na 64ª Assembléia Geral das Nações Unidas. E, claro, a solução passa também necessariamente pela força e peso do Departamento de Estado dos EUA.
Uma dúvida se mantém, a entrada forçada de Zelaya em Honduras, abre canais de negociação ou representa uma ruptura completa. Agora o Itamaraty terá que negociar, por que qualquer outro resultado o sangue do povo hondurenho manchará “o verde-louro dessa flâmula”.
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