Muitos vão dizer que foi decretar o fim da prisão de Guantánamo, outros que o foi o discurso no Cairo, ou o gesto de conceder sua primeira entrevista a uma rede de televisão internacional a uma rede de um país islâmico.
Contudo, a primeira grande decisão política apareceu agora que foi abandonar o projeto de escudo antimísseis, que teria a função estratégica de subordinar a defesa européia aos EUA, aumentar a simbólica presença no território que compreendia pacto de Varsóvia, pressionando e confinando a Rússia, além de bases que permitiriam pressionar o Irã.
O escudo deteriorou a já muito difícil relação entre Putin e Bush, que segundo relatos era pessoalmente muito difícil, os dois líderes ao que tudo indica não se suportavam e seus países não superaram completamente décadas de desconfiança, nesse contexto o avanço e a pressão sobre a Rússia podem ter levado a Moscou usar da dependência européia por energia russa, como fator de pressão. Além da ocupação direta na sua esfera de poder.
A dura reação russa colocou a Europa em uma posição delicada receosa de ser alvo de um míssil iraniano, receosa da pressão econômica russa, portanto, a própria Europa contribui para a diminuição do avanço da OTAN rumo ao leste.
Uma oportunidade se apresentou para que Obama pudesse marcar posição diferente da de seu antecessor, fazer um pouco de relações públicas e conseguir que a Rússia coloque pressão no Irã.
Mas, temos que considerar uma coisa com um déficit público que segundo economistas pode atingir cerca de 70% do PNB dos EUA (por causa dos planos de estimulo e duas guerras em andamento) a isso se soma o fato de que as forças americanas estão desgastadas, o tempo de serviço ativo ampliado e até mesmo a Guarda Nacional mobilizada, esse aumento de efetivo na Europa significaria duas coisas, ambas difíceis: a. Em fechamento de bases nos EUA e transferência de pessoal para a Europa. b. Pedir ao congresso por aumento de fundos para defesa.
As duas situações têm um preço político enorme nos EUA, a primeira atinge diretamente os congressistas, mais duramente aqueles dos distritos que perderiam essas bases que em geral são o centro da economia do entorno e a segunda colocaria Obama em nova frente de negociação com o Congresso, e como o seu plano para saúde (que na verdade, foram determinações e delegou ao congresso alcançar um plano o que tem minado politicamente a Casa Branca e ocupado seus interlocutores).
Podemos ver que foi a oportunidade perfeita de se diferenciar de Bush, parecer mais disposto ao dialogo, mais afeito a paz e anunciou o fim de um plano controverso, caro e de eficácia duvidosa segundo muitos especialistas militares, e ainda apresentou uma alternativa que teoricamente protegeria Israel, também, o que acalmaria o lobby israelense que julgava que a atual administração não apoiava a esse Estado, como as anteriores, mesmo com Biden como Vice-Presidente.
A depender de como os atores da região se comportarem essa pode ter sido a primeira grande atuação americana, simbólica, mais que tudo, mas parece ser o campo do simbolismo aquele em que Obama tem sua maior força.
Numa analogia esportiva a bola está na quadra russa e ainda temos que ver como serão as reações dos países do leste europeu e de algumas das ex-repúblicas soviéticas uma vez que as correntes de opinião pública desses países podem perceber esse recuo de maneira que se considerem preteridos em troca do apoio russo para conter o Irã.
Fica a dúvida foi uma decisão política, estratégico-militar, ou mais um caso de “it’s the economy, stupid”?
Comentários
Ao meu ver, tal atitude engloba todos os campos ditos na última frase do texto, mas com enfâse ao ponto estratégico-militar.
É imprescindível para os EUA não deixar que algum país da região se torne um polo de poder, ainda mais agora que não há um Iraque capaz de balancear poder com o Irã. Ou seja, como ele tirou um dos atores desse jogo, agora deve exercer tal função.
Grande abraço,
Vinicius Takacs