Ainda não tive tempo para ler a íntegra dos documentos emitidos por ocasião da reunião do G-20 e escrevo essas linhas a partir dos relatos midiáticos, portanto, assumo um risco enorme de errar em minhas apreciações e caso isso se concretize, para honrar meu compromisso com a honestidade intelectual farei um texto retificando isso.
Posta essa pequena introdução vamos aos principais fatos. Como era de se esperar com o arrefecimento do período mais agudo de crise, caiu o ímpeto revisionista, ou como se falava muito a época da eclosão da atual crise “uma nova arquitetura do sistema econômico mundial”. E isso não foi a tônica dos resultados divulgados ainda que a inclusão maior dos emergentes nos processos decisórios do FMI, possam induzir a leitura de que há um novo sistema.
Na verdade pode-se dizer que essa reforma na verdade é uma adequação da geometria do poder no FMI a mudanças reais na fungibilidade do poder econômico. O Fundo Monetário manteve seu status de organismo financeiro do chamado tripé de Bretton Woods, conjunto de instituições e regimes advindo da reorganização mundial após o termino da II Guerra Mundial.
Tripé composto pelo Fundo Monetário Internacional [com vistas à regular questões de balança de pagamentos], Banco Mundial [com vistas a financiar o comércio e o desenvolvimento, como obras de infra-estrutura, etc.] e a Organização Mundial do Comércio [com vistas a liberalização de comércio internacional e regulação do comércio].
Esse sistema é claro passou por reformas constantes e essa é mais uma delas tem claro um ineditismo ao expandir a geometria do centro do sistema ao ponto que admite uma situação que já era realidade o aumento do poder relativo das economias emergentes.
Esse aumento da geometria trás um desafio por que agora as decisões passam por um processo mais complexo de decisão, com mais e diversos interesses na mesa, daí a resistência ao aumento que se foi possível em um cenário tão abrupto quanto o da atual crise. No esteio dessa maior participação dos emergentes se cria junto ao FMI um sistema de revisão da política econômica, com relatórios creio anuais, aos moldes do mecanismo de revisões de políticas comerciais da OMC, esse mecanismo é importante por que vai permitir parâmetros de comparação com metodologia unificada. Ainda que eu preveja muita reclamação quando da publicação desses relatórios.
Esse avanço dos emergentes no front econômico foi confirmado ao mesmo tempo em que no plano geopolítico uma manutenção simbólica que é um recado e um retrato das relações internacionais que foi a manutenção do G-8 confirmando que transformar maior poder econômico relativo em maior poder político e estratégico é um processo lento e que nesse front muitos membros do G-20 ainda mantêm baixa capacidade de ação.
O pressionado Presidente do EUA Barack Obama, jogou em casa um jogo mais duro, relembrando a todos o peso da superpotência remanescente, mesmo que nessa semana tenha conclamado ao mundo para que líderes regionais resolvam problemas sem esperar que os EUA o façam, uma espécie de diplomacia “de cada um com seus problemas”, amealhou uma boa quantidade de vitórias, conseguindo inclusive que a França se posicionasse com veemência contra as pretensões nucleares iranianas.
Sobre os outros pontos da agenda como as jurisdições não-cooperativas (paraísos fiscais), mecanismos de regulação bancária e a agenda “verde” de Gordon Brown, prefiro me manifestar após a leitura das declarações finais.
De modo superficial (pelos motivos já expostos) parece ter sido uma cúpula de muitas concessões feitas por todas as partes o que permite que quase todos os líderes possam sair com vitórias para relatar, o que cria um quadro auspicioso, para as próximas reuniões. Mas prefiro afirmar com dados em mão. Portanto, no próximos dias me posiciono mais adequadamente
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