Mais uma vez respondo a um aluno concluinte do ensino médio (no meu tempo 2°) que me pergunta sobre o curso, as aptidões do profissional e o dia-a-dia do mesmo no mercado de trabalho.
Antes de começar a responder devo dizer ao leitor [...] (como vocês sabem omito o nome em respeito à privacidade), que nunca se é tarde para tentar descobrir o que te motiva na vida, e ao fim do ensino médio, você tem todas as opções, todo o mundo aberto a você. Há uma pressão muito grande por vezes auto imposta nos jovens com o vestibular, com questões de carreira em uma idade em que não se tem ainda a mínima experiência para se determinar quem você é o que você quer da vida, portanto ter dúvida é normal, natural e sinal de uma mente sequiosa de conhecimento. E mesmo que você entre em uma universidade, você pode sempre trocar de curso, mesmo formado e gostando da sua profissão nunca sabemos os caminhos que a vida nos levará, já usei esse exemplo aqui outras vezes, mas o dono da marca Osklen, um dos melhores homens de negócio desse país é médico e um dia descobriu outra vocação. Ok. A essa altura com essa digressão lhe deixei mais indeciso, mas acostume-se a vida é assim mesmo. Faz parte de ser adulto. E por favor, sou a ultima pessoa do mundo que pode reclamar do uso da língua portuguesa por outrem, meu processo de revisão deixa, infelizmente, passar cada erro digno de figurar em exemplos de como não escrever de manuais.
Feita essa breve introdução e digressão, voltemos ao tema da missiva eletrônica. As matérias que você cita gostar são realmente parte das matérias que em geral são as favoritas dos que optam por relações internacionais, interessante você gostar de literatura e não de português eu não consigo dissociar uma coisa da outra. (sei que na prática há diferenças, mas gostar de uma implica em acabar nem que seja por “osmose” aprendendo a outra) até aí tudo bem, até o fato de você se dizer indiferente a matemática, por que é um fato pouco conhecido, mas as ciências sociais, principalmente em suas teorias de matriz Norte-Americana são permeadas pelo uso da matemática. Isso sem contar a economia (parte importante do curso).
Vou lhe ser sincero na linha de ocupação que eu me insiro que é a consultoria e assessoria internacional é sim preciso eloqüência, persuasão e muitos conhecimentos, por que os dois primeiro se constroem em cima da convicção e essa só possível quando se sabe do que se está falando. Você diz ser introvertido, ora uma coisa não interfere na outra já que você pode ser introvertido, mas se chamado a mesa um bom negociador ou orador, ainda mais por que o curso universitário com seus seminários, apresentações, simulações de negociação te dará ferramentas para superar isso, por que não obstante a profissão são características desejáveis em profissionais de qualquer área.
A questão da fluência e domínio da língua pátria e das estrangeiras é vital, afinal é inconcebível que um profissional das relações internacionais, não importa em qual vertente não seja fluente em pelo menos inglês. As duas opções que você coloca de espanhol ou francês são opções excelentes cabe a você determinar qual delas você tem facilidade, qual traria mais prazer ao aprender.
É difícil lhe dizer como é o dia-a-dia padrão de um profissional que atua nas relações internacionais pela diversidade de ocupações possíveis, mas a maior parte do tempo é em frente a uma tela de computador isso posso garantir, conseguindo informações, processando-as e trabalhando-as de forma que possam servir aos diversos fins.
Um exemplo, se eu for contratado para elaborar um plano de internacionalização de uma determinada empresa ou de um produto dessa empresa, após avaliar internamente essa empresa, vou a internet e outras fontes, descobrir como é o mercado para esse produto, quais países seriam vantajosos para começar, concorrentes, legislação, classificação aduaneira, estratégias de penetração no mercado, ao final escrevo um plano de ação a ser executado, com os passos que a empresa deve tomar.
Há necessidade de se viajar, principalmente daquelas que são executivos em multinacionais, mas não é tão cigana assim a vida de um profissional de relações internacionais por vezes ela se dá mais em bibliotecas e na web, do que em aeroportos e salas de embarque, mas sim viajar, em algum momento faz parte da rotina, e sim é desgastante, mas não chega a ser tão comum assim, no mercado privado (sempre em busca da redução de riscos) e nos órgão públicos são viagens quase sempre curtas que não pesam tanto na vida pessoal e familiar. A vida nômade em algumas horas é um desconforto principalmente em períodos longos onde você vive da mala, quartos de hotel podem ser bem deprimentes, mas a maioria das viagens não são de períodos longos, são até freqüentes, mas como já disse não colocam peso excessivo na família. Aqui não considero diplomatas por que esse é um caso a parte e há uma série de problemas e benefícios associados. Que em fóruns adequados que abordam a carreira diplomática você encontra respostas melhores.
Como você mesmo diz em seu e-mail como leitor desse blog está ciente das dificuldades de colocação no mercado profissional, isso é importante não estou aqui no papel nem de recomendar, nem de desencorajar ninguém a cursar relações internacionais meu único compromisso é dividir minha experiência. E alertar para esse que é um problema recorrente entre os estudantes de RRII, que a questão do emprego.
Espero que esse texto lhe seja útil e caso ainda não tenha lido recomendo a leitura de outros dessa tag, que dão inclusive mais detalhes do dia-a-dia do profissional, pretendo começar uma série de entrevistas com profissionais da área, para dar um retrato mais completo, contudo, é difícil conciliar agendas.
Deixo meus votos de sucesso e como sempre desejo a todos que possamos em alguns anos sermos colegas de profissão.
Comentários
Masi uma vez, obrigado.