A visita do mandatário francês Sarkosy, como convidado de honra nas festividades do 7 de setembro e os comentários do presidente Lula favoráveis aos caças franceses recolocaram o programa de renovação da frota aérea, conhecido como projeto F-X2. Processo que se arrasta há anos, o que é natural pelo longo prazo desse “casamento” com fornecedores e pelos valores bilionários envolvidos e lobby de todo tipo de todos os envolvidos.
Isso claro aliado as complexidades de encaixar um sistema de armas que seja versátil, que se coadune com as capacidades operacionais e logísticas do Brasil e com as hipóteses de emprego, com a doutrina de defesa brasileira. Além dos propalados aspectos de transferência de tecnologia.
Muito tem sido dito sobre o assunto nos últimos dias, muito sem conhecimento técnico ou político. Muitos dão como certo que o negócio será fechado com os franceses, mas há muito que considerar e se observar, incluso os princípios régios da administração pública: transparência, publicidade e economicidade. Claro, que há limites e exceções a esses princípios no que tange a detalhes específicos, ainda mais em equipamentos militares. Ainda assim é preciso que esse processo seja muito bem acompanhado pela sociedade com a serenidade necessária, sem o alarmismo descabido que encontra muito espaço na mídia seja o eterno medo de perder a Amazônia que consome a comunidade brasileira de Estudos Estratégicos (que têm por sinal muita razão em muitos dos seus cenários), ou a nova “Pré-Sal mania” do governo Lula.
Esse cenário somente corrobora o que já era previsto desde os tempos FHC, quando a estabilidade econômica nos permitiu vislumbrar uma inserção internacional mais ativa e pró-ativa. E o que era previsto era a insuficiência e pouca institucionalização dos setores e carreiras analíticas capacitadas para conduzir políticas globais em todas as frentes, como um global player se pretende. Falta pessoal, em alguns casos falta estrutura e uma curva de aprendizado que não seja “fulanizada”, que seja institucional.
Além de tudo isso tem o onipresente fator em assuntos governamentais o respeito à lei, principalmente nesse caso a lei de licitações. Não entrarei em detalhes técnicos que não domino, mas em aspectos políticos essas compras e as alianças derivadas dela, devem ser feitas com pragmatismo sem ideologias e vinculadas à doutrina militar e de defesa, para que atendam as necessidades do Brasil, sejam sustentáveis para o já sobrecarregado contribuinte brasileiro e ofereçam vantagens diplomáticas e respostas eficientes as ameaças reais e potenciais enfrentadas pelo Brasil.
Por que há algo que não fica claro nos discursos ao povo brasileiro, algo ao melhor estilo Stan Lee (“com grande poder, vem grande responsabilidade”), que é o preço de uma maior projeção política brasileira. Esse preço é cobrado em muitos casos em tesouro e sangue. Para deixar bem claro, defesa é um assunto que deve fazer parte da primeira linha da discussão nacional, já que é grande parte do que se entende por política externa.
Outra observação é como há opiniões não devidamente pensadas que são circuladas, não tenho vergonha de dizer que há muito que tenho que estudar nesse caso, ainda mais por que vejo ameaças diversas a integridade e segurança nacional, que muitos especialistas no assunto e quero estudar mais para entender isso, não dá pra ser a priori arrogante ao ponto de fazer afirmações categóricas sobre isso. Eu como analista me preocupo muito mais com a debilidade institucional e operacional do governo e a erosão da segurança pública do que com cobiças descabidas a riquezas naturais, que sejamos claros, são vendidas e entregues normalmente a todo tempo.
Esse assunto ainda voltará a esse blog, afinal é um tema importante, complexo e que envolve comércio, política, defesa, interesses privados, interesses corporativistas e afeta diretamente aos contribuintes e cidadãos. Além de afetar toda a forma como as relações continentais se darão e a capacidade de projetar força e imagem do Brasil, e que imagem o Brasil quer apresentar. E ainda abarca as necessárias mudanças e melhorias no sistema de administração pública nacional (controladoria, planejamento, e outras coisas).
No que tange aos caças, ainda não tenho dados suficientes para emitir uma opinião, mas não me parece apropriado que o presidente faça declarações como as que foram feitas em um processo ainda em curso.
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