Hoje foi inaugurada a 64ª Assembléia Geral da ONU mantendo a tradição a primeira intervenção foi do representante brasileiro, que nesse certame foi o Presidente da República.
As linhas gerais do discurso do Presidente Lula estão repercutindo como não poderia deixar de ser na imprensa brasileira e foram coerentes com os discursos anteriores e com o que se espera desse tipo de evento, em que em uma parte inicial se aborda as grandes questões da política internacional, continua delineando e anunciando vislumbres de políticas que se quer adotar e se faz um balanço quando oportuno dos avanços de país.
E foi isso que Lula fez sem grandes novidades e claro que o drama hondurenho renovou o interesse em ouvir esse discurso, bem como a proximidade da Conferência de Copenhagen e a Cúpula do G-20, que se aproxima. Por isso mesmo algumas palavras duras foram ditas, o velho jogo de empurra das questões ambientais. Nem mesmo as inferências sob como as nações mais desenvolvidas controlam o status quo e tentam evitar ao máximo uma maior fungibilidade do poder, podem ser consideradas provocativas ou novidades já que esse é o discurso no qual se pauta o processo pelo qual os países em desenvolvimento vêem amealhando mais espaço de decisão como o próprio G-20.
Nesse clima também foi o discurso, do cada vez mais sob fogo interno, do estreante Barack H. Obama (o popstar atual da política internacional), que fez questão como, também era natural e esperado de ressaltar e demarcar, as diferenças de suas políticas quando comparadas as de seu antecessor e para isso se focou na questão climática no volume de investimentos feitos na busca de tecnologias que criariam o que se convenciona chamar agora de “economia verde”, mas também, deixou claro que todos os países devem se comprometer com essa agenda, claro, sem assumir compromissos quantificáveis.
Discursos de líderes mundiais por ocasião da Assembléia Geral, raramente são diferentes do script esperado e das declarações protocolares, com ênfases distintas já que em um órgão da abrangência da ONU abarca um arco de agendas e interesses bem amplo.
Claro, há líderes que são pitorescos por sua própria natureza e por suas grotescas incoerências, nesse quesito nenhum dos discursos que assisti foi mais representativo disso que o discurso do líder líbio Kahdafi, que cobrava meios mais democráticos no processo de decisão da ONU, não que seja uma aspiração ilegítima, mas vinda de um ditador é no mínimo uma declaração espalhafatosa.
Pode não ter captado a atenção da imprensa como a comparação feita entre Bush e o Diabo feita pelo líder venezuelano Hugo Chávez, ou com o famoso “¿Por que no te calas?” do Rei Juan Carlos da Espanha, falando ao mesmo Chávez, não foi na ONU, mas foi um desses momentos espalhafatosos e pitorescos das relações internacionais.
De uma maneira geral pode-se perceber que a preparação para o G-20 e para Copenhagen deram o tom dos discursos, com vislumbres de teses que serão defendidas nessas Cúpulas.
Entre os países latinos os votos por resolução pacífica da crise hondurenha e de uma forma de saída institucional, foram assuntos recorrentes com abordagens mais ou menos incisivas.
Nada de concreto ou de grandes tendências novas foram observados nesse dia de Cúpula, mas importantes vislumbres de linhas gerais de política surgiram que podem nos servir de material analítico nessa tentativa perene de completar o interminável quebra-cabeça das relações internacionais.
P.S: UNESCO: Mais uma derrota da diplomacia brasileira que se juntou ao bloco que apoiava o candidato egípcio derrotado, me parece que o Itamaraty tem julgado mal ultimamente as chances dos candidatos que decidem apoiar e/ou lançar em organismos multilaterais.
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