[A primeira parte desse texto pode ser econtrada aqui]
Análise das relações internacionais por meio da análise de redes.
Todo método ou ferramenta analítica trabalha com conceitos que dão significados exatos a palavras e termos específicos, que assumem um caráter vital para a compreensão dos resultados obtido com uso, bem como para entender o próprio modelo. Portanto nessa segunda parte faço uma apresentação dos conceitos chaves nesse tipo de análise.
Essa ferramenta tem tido seu valor e interesse renovado com as linhas que investigam as chamadas “dark networks”, crime organizado, terrorismo, etc. E claro como falo no post anterior há linhas que usam os mesmos termos que são usados, contudo, com significados distintos, principalmente com as interpretações neo-realistas, por isso é necessário definir os termos.
Uma definição exata dos termos e da metodologia e dos risccos e uma agenda propositiva para pesquisas usando essa metodologia pode ser encontrada no trablho levado a cabo pelos professores:
Emilie M. Hafner-Burton (Woodrow Wilson School of Public and International Affairs and Department of Politics, Princeton University), Miles Kahler (School of International Relations and Pacific Studies and Department of Political Science, University of California, San Diego), Alexander H. Montgomery (Department of Political Science, Reed College).
A versão preliminar do artigo conjunto desses autores a ser publicado na revista científica “International Organization”, intitulado “Network Analysis for International Relations” pode ser encontrado aqui.
Por sinal parte dessa série é baseada nesse estudo. E em outros apresentados na bibliografia do mesmo, e claro como tudo que escrevemos, também, se sustenta no conhecimento cumulativo do que lemos e escrevemos. Mas, isso já é uma digressão, logo, continuemos...
Conceitos e termos empregados na análise de redes.
A análise de redes se concentra em investigar os relacionamentos e elos entre os agentes de uma rede. Uma rede, consequentemente, é composta por agentes e elos. Agentes podem qualquer um dos atores do sistema internacional, sejam indivíduos, organizações internacionais, organizações não governamentais internacionais, grupos de opinião pública e Estados Nacionais. E elos são todos os relacionamentos entre esses atores, por exemplo, em um grupo de indivíduos os elos podem ser medidos pela quantidade de telefonemas trocados dentro dessa rede de indivíduos, quanto mais telefonemas, um determinado agente recebe, mais central é sua posição na rede. Elos não são necessariamente cooperativos, podem ser de qualquer natureza.
A chave desse método se encontra em analisar as associações entre os agentes, os elos, e não o comportamento individual dos agentes, essa percepção é construída em três princípios:
O comportamento individual dos agentes não é autônomo, um agente em uma rede é mutuamente dependente. (Muitos são os que tratam das limitações da soberania);
Os elos entre os agentes são canais de distribuição de bens materiais e imateriais, sendo bem, tanto produtos, doenças, idéias, informações e conhecimentos, etc; e,
Os padrões de associação entre os agentes criam estruturas que podem definir, capacitar ou restringir o comportamento dos agentes.
A partir desses princípios podemos conceituar uma rede como: qualquer elo e/ou conjuntos de elos entre quaisquer agentes ou grupos de agentes. Uma ressalva a ser observada ao se utilizar esse método, não se faz nenhum pressuposto sobre as características morfológicas tanto de agentes como sobre os elos entre eles. Essa aferição deve ser feita empiricamente, portanto não se trata nem agentes nem elos de uma rede como homogêneos.
A força do elo é mensurada pela combinação de freqüência e magnitude dos relacionamentos, variando de acordo com a natureza do laço, que pode ser competitivo, ou cooperativo. A investigação sobre como os elos se distribuem, apontam o posicionamento de cada agente na rede, assim a fungibilidade do poder dentro de uma rede depende da posição e da atuação do agente, quanto mais laços, mais central é seu posicionamento, contudo, há agentes com os quais os agentes centrais não mantêm nenhum elo e isso abre espaço para que outros agentes desempenhem papéis de intermediação que lhes dão maior poder em uma rede.
Essa característica das redes talvez explique a preferência das potências médias por soluções multilaterais, à posição dos mais centrais em tentar limitar a geometria do central da rede, assim, não tem que investir tempo em construir e administrar elos mais profundos com um grupo maior de atores, essa é uma questão que me bateu, agora, quem sabe, ainda tento responde-la.
Essa análise, também, percebe que a morfologia das redes é variável, podendo ser mais coesa, e mais dispersa, com sub-redes, e o papel dos agentes principais dessas sub-redes, mantêm a integridade da rede.
Outra frente de pesquisa desse programa de pesquisa é pesquisar como as redes se formam, crescem e se dissolvem. Afinal, alguns agentes que têm menos laços, mas a adoção por eles das regras da rede interessa aos atores centrais podem barganhar com a ameaça de deixar a rede.
Também se analisa como os efeitos que a rede tem nos seus agentes, que varia de acordo com a quantidade de laços e a posição desse na rede como um todo e varia também em torno da força e dos tipos de laço. Além disso, o poder e sua distribuição entre os agentes, apesar de variável, a depender dos elos e de sua força, são fatos a serem observados com vistas a entender como as redes moldam as relações internacionais.
Algumas palavras a título de conclusão
No artigo supracitado há uma discussão interessante, que foi a que me despertou a vontade de escrever esse post que é a questão dos métodos de análise, ou seja, mesmo a analise de redes não se torne um paradigma, ela oferece uma maneira de tratar e quantificar as relações entre Estados, com menor uso de escolhas a priori, diminuindo o papel da interferência da axiologia do analista.
Tenho uma inquietação quanto a metodologias de pesquisa, portanto, decidi compartilhar com vocês uma metodologia interessante, que vale a pena ser estudada a fundo, por fornecer algumas maneiras objetivas de estabelecer a posição e o grau das relações dos atores do sistema internacional, particularmente válido por considerar atores não tradicionais e não hierarquizados. Isso pode gerar algumas contestações ao tirar o lugar primordial do Estado, contudo vai ao encontro da abordagem das forças profundas da historiografia das relações internacionais, e pode até contribuir, para análises nesse sentido.
Essa corrente analítica a despeito do que versam muitas teorias das relações internacionais, comporta a constatação prática que as políticas externas, estão conectadas a política interna e a interação dos grupos de opinião, empresas, e por assim diante, que por sua vez não são confinadas a jurisdições nacionais, essa ferramenta ajuda ao não pressupor homogeneidade em nenhum ator, ou nos laços entre eles.
Mas, como toda ferramenta analítica deve ser usada com o rigor requerido, para que as análises não resultem no banal e trivial. O texto cujo link já foi citado apresenta exemplos da aplicação prática desse método. Importante reiterar, que é preciso e necessário complementar o que apresento aqui, e que esse é um dos muitos métodos e teorias que compõem o chamado “Estado da Arte” das relações internacionais.
É importante, também, que fique claro que apresentação desses métodos não necessariamente implica em que eu seja partidário de tal corrente, e também, que o assunto está esgotado.
Outro ponto, até mesmo os autores que advogam em defesa de uma agenda de pesquisa baseada nesse método, advertem que seu uso sem a devida reflexão e aprofundamento é um exercício intelectual pífio ou no mínimo pode levar a conclusões rasas e errôneas. Além de assertivas sem a devida fundamentação.
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