Pular para o conteúdo principal

Domingo: Dia de atender aos leitores desse blog

Nessa semana temos uma dúvida sobre empregabilidade que chegou por e-mail, a estudante de Relações Internacionais, que nos escreve estuda em Goiânia, em uma tradicional e conceituada Universidade. E em suas perguntas ela sintetiza as dificuldades de muitos graduandos quanto à aplicabilidade do que aprendem e ofertas de emprego.

Creio que muitos leitores se beneficiarão dessas respostas, mas considero apropriado lembrar, que tudo que aqui escrevo é repartido de minhas experiências pessoais, e de experiências de pessoas próximas que acompanhei, refletem um ponto de vista, outros podem ter tido experiências completamente distintas, e isso é claro, não faz nenhum de nós, mentirosos ou pessoas interessadas em desanimar outros, ou insuflar. Aqui apenas emito minha opinião, tão válida, quanto às outras.

Por respeito à privacidade como sempre, omito nome e e-mail, de nossa correspondente. Assim a chamaremos do tradicional nome [...].

O e-mail como recebi:

“Olá

Boa Noite

Eu acabo de encontrar por acaso o seu blog.

Eu me chamo [...] e estou graduando o curso de Relações Internacionais pela …

Eu gostaria muito de estagiar na minha área, e tenho me interessado bastante na ONU, eu gostaria de saber mais sobre como eu poderia vir a estar estagiando e como é o campo de trabalho para um internacionalista em Brasília.

Muito Obrigada desde já.”

Bom, comecemos pelo estágio. Em geral, as oportunidades de estágio nos organismos que compõem o sistema das nações unidas que mantêm representação em Brasília, são anunciados em jornal, por site e divulgados por e-mail, um passo interessante é se inscrever no CIEE, existem muitas vagas nesses organismos, a demanda também é grande e a maioria das posições não é remunerada.

Ser funcionário da ONU é complicado o funil é apertado, tenho amigos que entraram, portanto não é impossível, mas a maioria das chamadas da ONU são para projetos, consultoria, e nesse caso possuir, quase sempre doutorado, no mínimo mestrado. Para trabalhar na ONU, os processos seletivos são abertos via site da ONU.

Pode-se fazer a ponte estagiário funcionário, mas é muito raro, não quero de maneira alguma desanimá-la, mas é realmente muito difícil, o caminho mais comum é trabalhar em projetos da ONU, e ai conquistar posições até se tornar funcionário da ONU, propriamente dita. Mas, são muito difíceis as vagas e requerem muita escolaridade. Para ter certeza busque as informações nos sites e nos editais de programas da ONU no Brasil, que em geral são pagos e a contratação feita pelo governo brasileiro.

O mercado de trabalho em Brasília é muito dependente do setor público, isso chega a ser o óbvio do óbvio, portanto as oportunidades de emprego dependem de concurso público ou de se obter cargos comissionados, que ao contrário da crença estabelecida exigem muita dedicação, jornadas de trabalho longuíssimas.

Há um mercado privado, muito competitivo, como em todas as cidades, as poucas vagas são muito disputadas, há muitas oportunidades em representações diplomáticas estrangeiras, mas na maioria há uma tendência de ser um emprego sem muita possibilidade de crescimento, não que não exista. Há as oportunidades muito interessantes de análise em relações internacionais nas entidades de classe empresarial, CNI, CNA, CNC e por ai vai.

E claro há a atividade empreendedora seja em consultoria, seja representando produtos e serviços estrangeiros no Brasil, essa linha de ocupação exige além de competência e estomago para viver com os altos e baixos do mercado, contatos e habilidade para circular nos meios onde essas oportunidades se apresentam.

Algum dos mais bem sucedidos em termos financeiros se for essa uma medida que você use de referência, são empreendedores, mas empreender é uma característica que independe da formação acadêmica. Embora em todos esses organismos que citei tenho conhecidos ou amigos que se sentem muito bem e felizes com o trabalho que realizam.

De toda maneira é um mercado que têm oportunidades, mas não são abundantes e são complexas de conseguir. Portanto, existem oportunidades, existem chances de trabalho (não necessariamente emprego), mas é difícil, creio que devo ser sincero com você.

Para não desanimá-la em demasia há os que se formam, navegam anos a deriva, e se encontram e se realizam na área, é importante, se manter atualizada, estudar muito e ter autoconhecimento, para descobrir vocações e maneiras de aplicar conhecimentos adquiridos nos bancos escolares ao mundo real e essa consciência pode lhe agregar muito valor, mas não surge fácil.

Será difícil, agora não é a dificuldade que vai lhe afastar de buscar seus sonhos, não é? Use a ciência das dificuldades para preparar-se melhor. Para conseguir alguma vantagem competitiva e comparativa.

Deixo meus votos sinceros de sucesso em seus anseios, preparasse, tenha força e persistência, estude são os únicos instrumentos reais para aumentar suas chances, ainda assim, na vida não há certezas.

Abraços e espero que se torne uma leitora assídua desse blog, que tem como princípio o respeito e deferência pelas relações internacionais como ciência, e também, como as atuações em suas muitas subáreas. Meu compromisso é com a honestidade intelectual, errando ou acertando, faço com o máximo da minha capacidade, limitada posto que sou humano.  Há uma enorme possibilidade de que eu não tenha agragado nada de novo, nesse caso, perdão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

Ler, Refletir e Pensar: Libya's Terrorism Option

Mais um texto que visa nos oferecer visões e opiniões sobre a questão da Líbia que é sem sombra de duvida o assunto mais instigante do momento no panorama das relações internacionais. Libya's Terrorism Option By Scott Stewart On March 19, military forces from the United States, France and Great Britain began to enforce U.N. Security Council Resolution 1973 , which called for the establishment of a no-fly zone over Libya and authorized the countries involved in enforcing the zone to “take all necessary measures” to protect civilians and “civilian-populated areas under threat of attack.” Obviously, such military operations cannot be imposed against the will of a hostile nation without first removing the country’s ability to interfere with the no-fly zone — and removing this ability to resist requires strikes against military command-and-control centers, surface-to-air missile installations and military airfields. This means that the no-fly zone not only was a defensive measure...