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Desafios a segurança e estabilidade na América do Sul

Não, meus leitores, não farei aqui um texto sobre defesa aprofundado em teorias e em visões dos Estados, nem vou comentar o irrelevante Conselho de Defesa Sul-Americano, vou aqui usar de expediente que raramente aparece nesse blog, mas partirei para provocação, ou seja, vou propor um debate que não pretendo encerrar, mas sim induzir ou até mesmo provocar uma reflexão.

Muito tem se escrito sobre bases militares americanas, em belicismo colombiano, ou sobre compras massivas de armamentos pelas nações da região, em parte reagindo às compras venezuelanas, até sobre os lançadores de foguete de fabricação sueca que foram apreendidos com membros das FARC.

Tudo isso tem ocupado as páginas destinadas a segurança, muito tem se falado, também, sobre questões de soberania ligadas ao ataque da Colômbia a base das FARC em território equatoriano, como as ligadas a territórios indígenas, presença de ONG’s em zonas tidas como sensíveis, tudo isso é abordado freqüentemente, bem como a possibilidade e maneiras de combater insurgências e outros tipos de conflito caracterizados como conflitos de Quarta Geração.

Ainda na linha da ameaças identificadas até mesmo velhos cenários de levante comunista e o famigerado Foro de São Paulo, também têm sido explorado na imprensa com maior ou menor grau de atenção, mas há cobertura, e na seara acadêmica há muitos estudos.  (sobre esse ultimo julgo que seria válido uma boa pesquisa acadêmica sobre o assunto, se há não consegui encontrar ainda)

A reativação da IV Frota da Marinha dos EUA ouriçou muitos, alguns com aquele eterno medo de perder o controle sobre a região amazônica, que tem lugar central nas preocupações geopolíticas, que ecoam e reverberam, em várias correntes de opinião brasileiras.

Outro notório ponto de instabilidade é a instabilidade política na região, governos ineficazes, corruptos, clientelistas, populistas, muitos com instituições débeis e com a cultura do homem forte, do pai da pátria, do pai dos pobres. Portanto há embora mais remoto para alguns e mais palpáveis para outros o risco de termos um estado falido a nossa borda, o que pode gerar um fluxo migratório e de refugiados.

Tudo isso é perigoso e uma extensa literatura aborda pormenorizadamente cada uma dessas ameaças com várias conclusões. Contudo, a principal ameaça regional, que é objeto de estudo de muitos pesquisadores dos mais variados campos, é a questão das drogas e de como combatê-las e diminuir o poder dos traficantes.

As drogas estão destruindo nossas sociedades, corrompendo as forças de segurança, matando os jovens, o impacto nas famílias e na segurança pública é marcante, todos estamos sujeitos a nos deparar com dependentes químicos ensandecidos praticando crimes cruéis, ou pedindo dinheiro nas ruas, se vendendo e por ai vai.

É cristalino para mim que o crime transnacional é o principal inimigo a estabilidade regional, que se vale da porosidade das fronteiras, da corrupção das instituições, da pobreza e ausência do estado.

Mas, isso é notório e muitos dos Estados da região têm ao menos oficialmente políticas de combate, redução de danos e prevenção. Muitos discutem se as drogas são uma questão de enfrentamento ou questão de Saúde Pública.

A provocação que me abate é até que ponto a América do Sul está mesmo combatendo as drogas? Por que vemos que a presença americana para esse fim provocou ojeriza generalizada, mas nenhum plano alternativo, para que se faça esse combate sem essa presença, ou seja, muito se reclamou, mas nenhum país assumiu algum protagonismo no sentido de auxiliar a Colômbia em sua luta, apenas os bons e velhos discursos, mas na prática o que vemos é nenhum tipo de ação conjunta, regional, forte. Claro há uma cooperação policial, mas nada que rivalize com o plano Colômbia.

Portanto, do que adianta uma reação tão extremada, sem oferecer qualquer tipo de alternativa prática. E mais, muitos são os líderes e movimentos sociais da região que se escondem por trás de hábitos culturais pré-colombianos para não só não combater as plantações de coca, como incentivá-las.

Eu já estive nos Andes e sei como mascar uma folha de coca alivia o torpor e o desconforto da altitude, além de ajudar com a sensação de fome, sei que seu uso é cultural e legitimo, mas um controle dessas plantações se faz mais que necessário, na Bolívia eu pude ver o estrago que a corrupção e violência das quadrilhas impõem a sociedade, em especial, os mais pobres.

E o mesmo é verdade em todas as cidades da região, ouso extrapolar com um grau de certeza, que todas as cidades do mundo sofrem com a criminalidade, violência ligada as drogas, além da dor dos familiares, é óbvio que o combate a demanda é importante, mas, não se pode negligenciar o combate pelo lado da oferta.

Nossa segurança, estabilidade, instituições e cultura estão sendo destruídos pelas drogas e o que a América do Sul, faz para evitar isso? Outro dia Lula e Evo apareceram em público com colares de folhas de coca, como se fosse um sinal de resistência cultural, ou um sinal contra o que consideram intromissão estrangeira, mas há de se diferenciar a defesa de valores culturais e incentivo a irresponsabilidade que não ter rígido controle sobre as plantações de coca, que por sinal tem sido ampliada na Bolívia.

Fica a pergunta o que fazem nossos representantes eleitos, nossos governos, nossos vizinhos e aliados para tratar desse problema que espalha uma trilha de tragédia, corrupção, morte e desgraça por todo o continente? Será que as bases americanas, são mais perigosas para você ou para mim, do que as nossas ruas inundadas com toneladas de drogas e legiões de viciados?

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