Pular para o conteúdo principal

Cúpula da Unasul

Durante essa segunda feira ocorrerá à reunião de Cúpula da Unasul, na “muy chevere* Ciudad de Quito” não é difícil prever a retórica que estaremos expostos. O cerne, deve girar em torno de solidariedade a Zelaya, antiamericanismo (com um frenesi em torno das bases americanas e o acordo militar da Colômbia com os EUA), rejeição do tal “neo-liberalismo” (claro sem definir, e sem assumir que os países mais estáveis economicamente na região foram os que adotaram a tal receita “neo-liberal”), provavelmente responsabilização dos “homens brancos e de olhos azuis” pela crise. E claro a grande novidade, na vanguarda do atraso (essas semanas tem sido pródigas em situações para o uso dessa frase), que é tal proposta de jornalismo-ético.

Escrevi nessas ultimas semanas sobre métodos de análise, sobre interpretar discursos, e termos nessa reunião mais uma oportunidade de fazê-lo. Por que pela própria característica dos envolvidos (muitos dados a verborragia), na questão colombiana reside um enigma para o Brasil, a velha dúvida da política externa desse período Lula, optará o Itamaraty, pelo pragmatismo, ou pela ideologia, trabalhará para acalmar a situação ou se omitirá.

Chávez, já está a criar o seu clima de vítima do império, ao acusar Uribe de belicista (a quem espanta que um país em guerra civil declarada a décadas se arme constantemente?), e dizer que seu país foi invadido por uma lancha colombiana, que já teria deixado o local, quando as suas forças chegaram. Era de se esperar, o líder bolivariano está contra a parede, desde que os lançadores de foguete, corroboraram os e-mails achados no infame ataque no Equador.

Uma coisa, contudo, deixou-me apreensivo foi a negativa feita pelos chanceleres da Unasul, hoje, nesse domingo em Quito, para a legitimidade das eleições em Honduras, que vale lembrar, já estavam marcadas antes do golpe. Isso mostra que não é bem a democracia o interesse desses Estados, mas sim defender Zelaya. Isso é assustador. Do ponto de vista que qualquer solução factível e realista para crise hondurenha passa por novas eleições e restabelecimento da plena ordem constitucional. Que agora parece ser objetada pelos que se diziam defensores da democracia, parece haver como já disse inúmeras vezes um desejo que a situação em Honduras se resolva com sangue e não com palavras.

Esperemos os resultados dessa reunião de cúpula, tenho alguns questionamentos que tentarei averiguar. O principal é se o Presidente do Peru agüenta a pressão e se mantém sem condenar o acordo entre Colômbia e EUA.

Outra diz respeito a mídia, quantos veículos e repórteres vão aceitar a hipótese chavista de que as bases geram insegurança, pois seriam apoio logístico para a captura dos recursos naturais da Venezuela (petróleo)?

Outros questionamentos tomam conta do meu cérebro, sem que eu saiba se serei capaz de obter uma resposta objetiva e que possa ser provada: Será que Chávez, teme tomar “um chega pra lá” como levou a Geórgia? E por que os EUA invadiriam a custos enormes um país, abrindo uma terceira guerra com seu exercito no limite, para se apropriar de um petróleo que lhe é vendido rigorosamente em dia, apesar de toda retórica?

Sabemos bem como estudantes das relações internacionais (incluo estudantes, profissionais e interessados) que convêm a muitos governos a noção de uma ameaça imediata e real, para empurrar medidas extraordinárias, ou para ter alguém a quem culpar, ou desviar a atenção de problemas internos. Obama e sua popularidade mundo afora haviam retirado “el diablo” como elemento de discurso, mas com as bases ele volta com toda a força.

Aguardemos para saber como se darão esses eventos. Mas já temos uma idéia de como serão as coisas, isso cada um de nós tem.

______________________

* Essa é só pra quem já pos os pés no Equador

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom texto!
Realmente, sabemos o que podemos esperar dessa reunião. Duvido que algo surpreendente venha acontecer. Obviamente o centro dos debates será o acorde entre Colômbia e EUA.
Ao meu ver, enquanto nos preocuparmos com Chaves e demos credibilidade ao que ele tagalera, perderemos oportunidades de desenvolvimento. Como pode um líder de Estado que oprime a democracia criticar um líder democrático? O que mais me preocupa, entretanto, é a posição brasileira frente a este cenário. Mas nesse caso é melhor aguardar os movimentos para formular uma opnião.

Vinicius Takacs - Caos RI

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...