A Reunião Extraordinária dos mandatários dos países membros da UNASUL, na turística e famosa Bariloche, na patagônia argentina. O objetivo da reunião é por si só terreno pantanoso, discutir um acordo firmado entre Colômbia e EUA, ou seja, é um tema que bate profundamente em duas questões fundamentais, autodeterminação e não ingerência, em resumo, trata-se de soberania. Claro, que um ente extra-regional pode sim ser visto como ameaça a segurança regional tornando o tema em questão de segurança coletiva.
É interessante notar, que outrora defensores ferrenhos da soberania, outrora ultrajados por ataques colombianos a bases das FARC, no Equador, agora relativizam a soberania. Seja moderadamente como o Chile, seja com planos de doutrinas regionais como a Argentina, seja agressivamente acusando a Colômbia de conspiração para começar uma guerra na região como Equador e Venezuela. Seja clamando por dialogo regional e tratamento coletivo como o Brasil.
A questão que não pode ser negada escondida, contudo, não deve ser minimizada ou amplificada, também, é a questão partidária, ideológica. A meu ver o grande desafio dessa cúpula é construir algum tipo de entendimento, ou diminuir as tensões, o jornal Financial Times, coloca que a reunião é chave para a liderança brasileira na região.
Tradicionalmente o Itamaraty prefere agir como ponte negociadora longe da pressão das reuniões, construindo acordos de maneira discreta, portanto o desafio é aliar esse traço de ação da PEB, que procura sempre distensionar com o perfil espalhafatoso dos envolvidos, principalmente Corrêa e Chávez, e por reação Uribe, também, adotou esse estilo se tornando cada vez mais incisivo em seus discursos.
O desafio lançado vai muito além da questão das bases em si, mas está na mesa a própria agenda de integração da região, se será feita pragmaticamente ou se simpatias pessoais e ideológicas irão ter papel ativo na formulação de políticas. Esse episódio mostra, também, como serão difíceis as negociações no âmbito da UNASUL, onde o discurso é uníssono, mas propostas e ações concretas são diversas.
A Colômbia vem reiteradamente argumentando que os países da região apenas manifestam solidariedade quanto ao terrorismo e a guerra civil, que desafia a ordem constitucional vigente nesse país, não oferecendo assistência ou qualquer tipo de ajuda, que Bogotá considere aceitável, e nesse ponto a posição brasileira se enfraquece ao dizer que é neutro no conflito com as FARC, sob o manto de por manter a neutralidade será capaz de ajudar em negociações, até agora, não se tem visto isso.
Outra questão que fica patente é que parte do discurso quanto às drogas, assim como em vários outros temas o Brasil, toma uma posição de não assumir compromissos, e responsabilizando os países industrializados. Essa postura não combina, a meu ver, com o anseio brasileiro de ser um global player o que por definição exige uma postura pró-ativa, além de liderança pelo exemplo e não só pelo discurso ou peso da geografia.
Outro líder que está em teste é o presidente americano Barack H. Obama, já que me parece claro, que mesmo que o documento final adote uma retórica mais suave, os Estados da Região parecem determinados a pressionar do Departamento de Estado e o Departamento de Defesa.
Há uma questão legitima que é realmente um incomodo ter bases disponíveis para a maior potência militar do planeta numa região muito próxima ao Brasil, contudo, é patente que os EUA são aliados e amistosos quanto ao Brasil. Que por sinal pode ganhar muito poder de barganha se for o ator responsável por resolver ou acalmar a situação.
Por isso mesmo outros estados da região buscam protagonismo numa tentativa de aumentar seu poder relativo, quanto ao Brasil, Colômbia e Venezuela. Em especial Argentina e Chile, que se mostram pouco confortáveis com a idéia de uma liderança mais ativa do Brasil.
Como sempre quanto se trata a cúpulas devemos esperar seus textos oficiais e seus desdobramentos práticos, até agora temos visto desconfiança, bravatas, antiamericanismo, reações destemperadas, assim um discurso moderado no texto final pode ser uma vitória para a Colômbia.
O trecho que tive acesso da fala do presidente Lula mostra sinais destoantes, pois fala em reconciliação, moderação e ao mesmo tempo censura as escolhas políticas do governo Uribe, censura que não consta ter sido emitidas em outras situações, também, danosas. (leis que limitam a liberdade de expressão, mais precisamente de imprensa, para dar um exemplo).
Um dos maiores desafios é que no Brasil a simples menção da presença militar estrangeira extra-regional na Amazônia, desperta verdadeiras fobias e paranóias quanto a tomada de recursos naturais e perda de espaço territorial, o que não é uma possibilidade concreta, não pode ser descartada, mas não pode ser tratada como uma certeza, como é feito por alguns.
Para findar esse texto enquanto esperamos por mais dados concretos repito uma questão que já levantei aqui. O que é mais perigoso para o cidadão brasileiro as bases americanas? Ou nossas instituições e organismos de segurança sendo corrompidos (ou no mínimo sobrecarregados) pelo crime transnacional?
Dos males qual é o pior uma superpotência aliada a um vizinho em guerra civil? Ou nossas cidades inundadas de drogas? E talvez a pergunta mais difícil de aferir quais serão os resultados serão alcançado em decorrência dessa cúpula?
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