Pular para o conteúdo principal

Colômbia, ou Álvaro Uribe South America Tour

O presidente Álvaro Uribe, começou uma volta pela América do Sul, para explicar o acordo de concessão de bases militares aos Estados Unidos da América, como parte das ações conjuntas dos dois países contra o narcotráfico e a guerrilha (ou narcoguerrilha). Esse giro é uma reação às críticas duras feitas por líderes sul-americanos a esse acordo, que amplia a presença dos EUA, no continente, e esses líderes chegaram a demandar informações sobre esse acordo.

Uribe sabe que é altamente impopular entre os líderes sul-americanos e seu país será o grande tema da reunião da Unasul, a qual Uribe não vai, por entre vários motivos por ser no Equador. A meu ver esse giro diplomático visa primeiro desmistificar a questão das bases e para que a Colômbia apresente (em vão em muitos casos) os fatos da questão dos lançadores de foguetes suecos, que foram apreendidos com as FARC.

A tensão maior entre os Uribe e Chávez, começou com o episódio do ataque aéreo a uma base das Farc em território equatoriano, que claro provocou reações do grupo liderado por Chávez que engloba o Equador, foi um movimento arriscado, mas creio que para o governo colombiano, eliminar um membro do Secretariado (órgão que controla as Farc, chamado por muitos na Colômbia de “Secuestariado” em alusão os milhares de seqüestrados mantidos em cativeiro pelas Farc).

Ventilou-se até a possibilidade de convocar o tal Conselho de Defesa Sul-Americano, para discutir a questão, como se o tratado, não fosse entre duas democracias, do continente, portanto, não há introdução de elementos estranhos ao sistema.

Posso estar errado, mas não lembro de comoção assim entre os mandatários da região quando a Venezuela fez acordos e compras militares de potencias extracontinentais. Interessante analisar essas posturas, mas parece que tudo isso serviu para tirar da mídia de uma vez só, a questão hondurenha (primeira derrota contundente da expansão do bolivarismo) e a própria questão dos lançadores de foguete que é minimizada. O Brasil, por exemplo, se diz desconfortável com a base de um país amigo, perto de nossas fronteiras, será que isso é mais desconfortável que ter um grupo guerrilheiro traficando drogas, armas na nossa fronteira?

Parece haver muita pressa e muita veemência nos posicionamento, ao menos na imprensa, das autoridades brasileiras ao comentar assuntos delicados, internos de outros países, o que pode ser o inicio da destruição da tradicional ação diplomática brasileira, que busca construir consensos.

A crise entre Venezuela e Colômbia como lembra em seu blog o Dr. Mauricio Santoro, oferece oportunidades para o crescimento do comércio brasileiro, contudo, a insegurança jurídica e a retenção e a criação de obstáculos para pagamentos por parte da Venezuela, me faz um pouco mais, alias, muito mais cético, quanto às benesses desse crescimento.

É importante que esses conflitos sejam minimizados e devidamente solucionados, pois toda essa comoção política, aliada a crise econômica pode gerar uma incerteza que afaste ainda mais o tão necessário Investimento Estrangeiro Direto, nessa região que ainda se caracteriza pela desigualdade social, e números de pobreza e miséria preocupantes, e muita demanda social, que pode ser cooptada por grupos radicais, que seqüestram as “causas” desses grupos, radicalizando seus elementos e os usando para objetivos políticos, que tem mais a ver com se perpetuar no poder, do que em avançar o nível de vida na região.

Uma visão que pode ser pessimista é verdade, mas é baseada nos fatos que se apresentam até agora, ainda mais por que infelizmente em muitos Estados do nosso continente tem instituições débeis e a violência política ainda é muito comum, até admirada, basta ver como Che é reverenciado.

De um prisma mais positivo o giro de Uribe, deixa claro que a diplomacia e a transparência são diretivas da Política Externa Colombiana, o que pode ajudar muito a tornar o clima político menos instável, contudo, continuará polarizado, por um tempo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...

Teoria geral do comércio de Krugman e Obstfeld

Modelo elaborado por KRUGMAN e OBSTFELD (2001, p 65) propõe um formato de comércio internacional baseado em quatro relações: a relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a oferta relativa; a relação entre preços relativos e demanda; a determinação do equilíbrio mundial por meio da oferta relativa mundial e demanda relativa mundial; e o efeito dos termos de troca [1] sobre o bem estar de uma nação. Quanto ao primeiro item a inferência desse modelo é suportada pelo conceito microeconômico que uma economia, sem deformidades, produz em seu ponto máximo da fronteira da possibilidade de produção, como esse modelo assume mais de um fator e mais de um bem, a forma como a distribuição se dará será determinada pela oferta relativa de determinado bem alterando as possibilidades de produção de toda a economia por alocar mais recursos na produção desse bem. No que se refere à relação entre preços relativos e demanda pressupõe que a demanda por determinado bem deriva da relação entre...