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Si vis pacem, para bellum

O velho adágio romano de Publius Flavius Vegetius serve para ilustrar uma questão que nunca deve ser negligenciada ao se analisar as relações internacionais, que é a sempre presente possibilidade do uso da força militar.

A guerra é algo que parece inerente aos ajuntamentos humanos muito antes do primeiro Estado-Nação e provavelmente muito depois que o ultimo desses tiver caído. Há evidências pré-históricas de homens e outro hominídeo morto em circunstancias violenta que indicam enfrentamento entre grupos rivais, provavelmente pelo domínio dos recursos.

Não por acaso a disciplina das relações internacionais nasceu sob os auspícios dos que tentavam estabelecer mecanismo para o alcance da paz perpetua ao “estilo kantiano” substituindo o que se julgava ser instável e fator gerador de guerras a Balança de Poder, que fora adotada formalmente ao final das guerras napoleônicas como mecanismo de ajuste que mantinha o equilíbrio de poder na Europa por meio de alianças de geometria variável que contrabalançavam a ascensão de um poder dominante, esse sistema garantia que o poder permanecesse equilibrado entre os atores preponderantes, e como todo sistema estabelecido tentava manter o status quo, esse equilíbrio, como sabemos, começa a ruir com a unificação Italiana e Alemã, com a corrida armamentista e o aumento das rivalidades imperiais com escaramuças na África.

Por fim os nacionalismos e a xenofobia acabaram exaltando os sentimentos pan-germânicos e pan-eslavos, a decadência do sistema estabelecido que é conhecido como Concerto Europeu, os tratados secretos da diplomacia Bismarkiana, terminaram por jogar a Europa em uma enorme deflagração militar, que hoje chamamos de Primeira Guerra Mundial.

Portanto a questão da guerra é da paz são fundamentais para analisar o que costumamos chamar de sistema internacional, por muitos momentos nós como analistas olhamos para essas questões de maneira asséptica, abordamos os grande pensadores sobre a guerra e suas concepções e elucubrações e começamos a cogitar as hipóteses de conflito, emprego de força, mas não podemos nunca esquecer que a guerra é a tragédia da humanidade é um esforço que visa eliminar, ou seja, matar o pessoal inimigo.

Como analistas temos a noção que o estigma do conflito armado é indissociável do sistema internacional, a todo o momento há ameaças de emprego, há o que chamamos de flexão de músculos, que é mostrar força para tentar dissuadir qualquer tentativa de agressão. Ainda assim não podemos nunca minimizar ou tratar friamente a possibilidade de uma guerra, seja qual for o estopim e a justificação, não podemos nunca esquecer a dimensão humana, não podemos nos esquecer dos que vão sangrar, serão expulsos de suas casas, convocados para servir, não podemos esquecer aqueles que vão sangrar e morrer na lama. Portanto, buscar a paz e manter a paz é algo que não deve nunca ser minimizado.

Contudo, não tenho ilusões que a paz perpétua seja algo tangível, creio que sempre haverá a guerra. E o estigma da morte violenta e o medo dela (como já diria Hobbes) estarão presentes em nossas sociedades. Mas, como analistas é temos que manter sempre os caminhos do entendimento aberto, por que é necessário tentar o máximo possível salvar vidas. Mas, o pulo do gato (se me permitirem o vocábulo popular) é que os responsáveis pela defesa; as Forças Armadas e a Inteligência se mantenham preparadas, como nos ensina o adágio titulo desse texto, a cautela nos ensina que devemos sempre estar preparados, pois por mais que se tente a paz, não se pode ter certeza do sucesso na negociação.

A mesma prudência que nos leva a evitar a deflagração militar é que pede que estejamos preparados, parafraseando Sun Tzu, é a guerra o campo onde se decide a vida e a morte dos estados.

Nesse sentindo é importante que os pesquisadores e analistas de defesa, militares e de relações internacionais consigam identificar às ameaças a segurança, os pontos fracos, os possíveis pontos de tensão. E assim, partir para agir tentando desarmar as ameaças futuras é preciso estar atentos por que as ameaças são bem mais difusas, a confrontação entre estados é cada vez mais difícil de ocorrer, mas confrontação entre estados e redes de opiniões (sejam políticas, religiosas e etc.).

Por que com doutrinas e hipóteses não bem formuladas podem ter efeito de cegar as forças de segurança a ameaças verdadeiras, o que é uma ameaça séria a paz, reitero, se percebemos a profundidade do adágio, assim se quisermos ter paz, temos que nos preparar para guerra, seja para dissuadir, seja para alcançar a paz pela vitória nos campos de batalha, que hoje, são todo lugar.

É fato notório que em assuntos de defesa sou um estudante entusiasmado, mas não profundo conhecedor, sou um leitor assíduo de quem entende do assunto, mas mesmo para mim é claro que é preciso que tenhamos linhas de pesquisa atentas aos problemas globais e regionais. Eu vivo no mundo do comércio exterior, dos negócios internacionais e ainda assim percebo quão necessário é conhecer as ameaças a estabilidade e paz, pois desavenças profundas, guerras e animosidades podem gerar desconforto nos negócios, não-pagamento e problemas como nacionalizações, aumentos repentinos de impostos e insegurança jurídica.

Portanto, aproveito esse espaço, para no meio da minha reflexão render uma homenagem aos abnegados pesquisadores dessa área de conflitos, que dão a todos nós materiais, subsídios e meios e técnicas de análise que são úteis a nós que estamos no mercado, por que acaba que tudo está conectado. Afinal a guerra e o comércio são as mais antigas e duradouras formas de interação entre agrupamentos humanos, sejam clãs, cidades-estados, reinos, impérios ou Estados-Nação.

Voltando ao tópico até que ponto o Brasil está preparado, e até que ponto percebemos as reais ameaças a segurança e estabilidade nacional, regional e mundial? Sem nacionalismos, já que onde nascemos não deixa de ser um acidente do acaso e da geografia. Sem duvidas uma das dificuldades de ser cientista social, em especial no campo das relações internacionais.

Considero que se evitarmos que uma situação tensa culmine em guerra, salvamos vidas, mas não podemos ser ingênuos sobre a possibilidade de ocorrer uma deflagração militar, que como já disse sempre está presente. Outrossim, temos que manter a vida humana como valor máximo até que não seja mais possível, ai o auto-interesse de preservação se torna o imperativo do estado que por sua vez existe para proteger seus cidadãos e lhes permitir buscar por uma vida feliz e completa.

E nesses dias em que a América Latina sente os efeitos de um fenômeno moderno que é uma rede informal, ideológica ligada ao crime, desafiar os poderes estabelecidos. Não só em Honduras (onde uma crise de governabilidade foi mal-resolvida), pensem bem em toda a região, tirem suas conclusões. Não custa lembrar a sabedoria dos séculos:

Se quiseres a paz, prepara a guerra.

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