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Itaipu, siempre Itaipu o La garantia soy yo

É amplamente divulgado na mídia que o governo Brasileiro no esteio da reunião de Cúpula do MERCOSUL, concluiu uma segunda rodada de negociação com o Paraguai, sendo que o “jogo de ida” foi em Brasília.

O Brasil decidiu aquiescer com as demandas paraguaias de revisão em valores de ajuste os mecanismos claros ainda não foram esclarecidos, mas como depende da aprovação do Congresso devem em breve vir à tona, e tem potencial, inclusive de ter papel relevante no discurso do período eleitoral, que começa agora em 2010.

Muitos irão lamentar que mais uma vez o Brasil cedeu a demandas de parceiros menores, outros irão comemorar que essa manobra pode dar sobrevida a difícil presidência do trânsfuga Lugo, já que pode dizer que cumpriu o que havia prometido.

Creio que o Itamaraty, perdeu até onde tenho informações, uma chance ótima de exercer seu tão propalado pragmatismo. Explico, temos vários interesses no Paraguai, interesses que vão da estabilidade política de um vizinho próximo (afinal não queremos um fluxo migratório, ou de refugiados), passam pelos “brasiguaios” (link wiki, logo pesquisa adicional se fará necessária para entender a questão caso não seja iniciado (a) no assunto) e tem a meu ver seu ápice nas questões de segurança e porosidade de fronteiras.

Uma proposta pragmática do Brasil condicionaria esse aumento pleiteado a uma resposta paraguaia nas questões de segurança pública, como receptação de carros roubados, tráficos de drogas, tráfico de armas, tráfico de pessoas, contrabando de produtos de origem duvidosa (falsificados, roubados).

A questão da área da tríplice fronteira é importante para assegurar ganhos na segurança pública, que seriam mútuos por sinal, então essa revisão do acordo de Itaipu (o termo não é correto, pois não se tocou no acordo), poderia ser uma ótima oportunidade de avançar uma agenda de interesse brasileiro cedendo em algo que é percebido pelas correntes de opinião majoritárias no Paraguai como de honra nacional.

Espero para ver como será formatado esse acordo, é certo como muitos apontam que a venda da energia excedente no mercado aberto, não resulte em um acréscimo sensível da renda paraguaia com essa energia, o que deve manter o tema a mesa e na agenda bi-lateral.

A depender de como será o desenho desse acordo teremos um elemento palpável para saber qual a corrente que domina a atuação do Itamaraty se ideológica baseada na solidariedade entre as esquerdas locais, ou se pragmático, entendendo a necessidade de agradar a um vizinho próximo, mas nesse processo, implementar uma agenda que tenha o interesse nacional, como norte.

É preciso ter em mente que o trânsfuga Lugo é aliado aos chamados movimentos sociais paraguaios e seus discursos são fortemente antibrasileiros, com Itaipu como carro chefe, e motivo de comoção nacional, outra vertente é que ligado a movimentos campesinos (sem terra) tem um discurso ligado à reforma agrária, o que afeta aos “brasiguaios” supracitados. E tem encontrado muita resistência no sistema político e na burocracia paraguaia.

Como fez promessas de muitas mudanças, incluso invocando sua imagem de homem ético, afinal antes de ser um trânsfuga era um Bispo da Igreja Católica, esse processo criou uma expectativa de mudanças rápidas, que são irrealistas, aliado a essa frustração vieram os escândalos sexuais, consecutivos que tornaram sua posição ainda mais complicada, por isso o avanço no tema Itaipu, que é a grande chance de recuperar sua imagem.

Por isso havia a oportunidade de um posicionamento forte do Brasil, cedendo e tirando “a corda do pescoço” de Lugo, poderíamos (e não sei se isso ocorreu) ter empurrado vários pontos da agenda que sugeri acima que é importante para o Brasil, também, para abrir espaço para investimentos, com segurança jurídica, incluindo e principalmente o agronegócio.

Resta-nos agora ter mais dados para analisar se a ideologia venceu o pragmatismo, o que é possível antever com um grau de certeza razoável é que o assunto será escrutinado pela oposição, hoje mesmo já foram protocolados pedidos para que o TCU acompanhe o processo. Não creio que seja o suficiente para que o Congresso não ratifique o Tratado, mas deve ser o suficiente para termos elementos analíticos

Comentários

Vinicius Takacs disse…
Estimado Mário,

Sou um dos autores do blog Caos Internacional http://caos-ri.blogspot.com e parabenizo você e seu blog!
O que acha da idéia de compartilharmos links?
Aguardo retorno!

Vinicius A. Takacs
Anônimo disse…
Hombre: não existe possibilidade de paraguaios invadirem o Brasil, por outro lado, brasileiros invadindo o pequeno Paraguai é uma realidade. Os paraguaios invadem a Argentina, sempre. é uma questão cultual. por que não analisamos a situação mais seriamente?
Mário Machado disse…
Hombre, (por que não usar o nome real?)

Quem falou de invasão de paraguaios no Brasil, que tal ler e compreender, pode até contestar, mas faça de verdade. Com elementos, questão cultural é uma das respostas mais rasas que pode existir.

Repare que eu falo de segurança pública, não nacional, falo de criminalidade cujo combate é benéfico para o Brasil e para os Paraguaios.

Minha tese é que se é para o Brasil ceder todo esse dinheiro dos contribuintes, algo tem que exigir em troca, fazê-lo apenas por ideologia pra ajudar um amiguinho que tá com a moral baixa é que não pode.

De todo jeito fica o convite a contestar com elementos. Por que meu amigo, toda minha vida academica profissional é séria é feita com rigor análitico. Pode acusar-me de qualquer coisa, menos de não ser sério.

Abraços,

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