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The heat is on. Ou sobre Honduras

Como já havia previsto as negociações entre o governo deposto de Honduras e o governo interino eram fadadas ao fracasso, ou no mínimo, da escalada verborrágica das partes envoltas.

O Presidente da Costa Rica que sob o apoio da Secretária de Estado Hilary Clinton apresentou um plano de sete pontos para a conciliação nacional em Honduras, o plano em si é bastante realista, contudo, parte de uma premissa muito difícil que é a premissa que pela simples pressão e censura internacional conseguirão a recondução de Zelaya ao poder.

O governo interino aceitou pelo que pude apurar até agora (ainda não há muitos dados) vários pontos e apresentou uma contraproposta que causou a fúria da Alba e do “Mel” Zelaya, que diz que eles aceitam a voltam de Zelaya, para que ele enfrente o devido processo legal, ou seja, tenha possibilidade de se defender das acusações que lhe são feitas incluso traição.

A reação dos partidários de Zelaya e dele próprio foram previsíveis, com bravatas de que não permitiram o primeiro golpe militar do século XXI e que os “golpistas” são arrogantes.

O problema central da questão é que tanto o Presidente Arias (Costa Rica), quanto o Secretário Geral da OEA, negociam, com uma pré-condição, a volta de Zelaya ao poder, Arias é mais sensível aparentemente a situação enfraquecida do presidente deposto ao propor que essa volta seja um governo de coalizão nacional, o que significaria que o presidente deposto teria que aceitar aliados do interino Micheletti em seu governo, além de antecipar as eleições e ceder um mês antes dessas eleições o comando das Forças Armadas ao Tribunal Eleitoral, além de um compromisso do presidente deposto de não tentar impor a consulta declarada ilegal pela Corte Suprema Hondurenha.

É uma solução muito interessante, mas esbarra em duas dificuldades fundamentais, para os depositores Zelaya não tem condições legais e políticas de ser reconduzido a presidência e sua volta significaria uma admissão de violação da ordem constitucional, o que eles não admitem, além de abrir um precedente perigoso de ingerência externa.

Do ponto de vista de Zelaya e principalmente de Chávez qualquer resultado que não o desembarque triunfal de Zelaya em Tegucigalpa não é um resultado aceitável, por que como já cansei de escrever aqui representaria a primeira grande e substancial derrota da exportação do modelo bolivariano – chavista.

O governo dos Estados Unidos tem um papel importante a desempenhar e tenho visto movimentos nesse sentido, com a declaração do Departamento de Estado que a solução tem que ser de “hondurenhos para os hondurenhos” feita por seu porta voz. O que pode ser entendido, como um leve ajuste nas declarações anteriores e um aviso contra ingerências externas.

É preciso cuidado com a ênfase que a imprensa fará sobre o tal prazo de 72 horas, prazos, datas, e coisas assim são muito mais maleáveis em diplomacia do que parecem, ainda mais com os EUA, dizendo que a solução tem que ser interna, ou seja, deve advir das negociações na Costa Rica e outras em Tegucigalpa, mas não em Caracas, Brasília ou Washington.

A resposta de Zelaya foi novamente convocar por uma insurreição, por violência e guerra civil, não se iludam é isso que significa insurgir-se significa conflitos armados e mortes. E fazer um apelo a isso, enquanto há espaço para negociação me parece muito mais perigoso que uma simples bravata, parece uma determinação de reverter essa situação sem ceder em nada. E claro, tudo isso feito em nome dos pobres, que “tadinhos”, precisam de um pai da pátria para protegê-los, mas antes devem morrer para ele retomar o poder. Por que, novamente, não se iludam, a maioria dos soldados de infantaria e policiais são oriundos das camadas mais baixas e dos insurgentes também.

Portanto a meu ver, dizer que se faz isso em nome dos pobres é justificação barata de um projeto de poder e ambição pessoal. A crise não é só institucional, ou seja, não é só a ruptura, mas é resultado de uma longa crise de governabilidade, que fez o vice-presidente renunciar o partido de Zelaya lhe dar as costas. Então apenas reconduzi-lo ao poder é ignorar completamente as condições internas, por que há uma premissa amplamente aceita pela chamada comunidade internacional, de que o golpe foi uma quartelada ao estilo século XX, mas ao que parece foi uma articulação institucional para defender a constituição em vigor. Desastrada, devo salientar, por que o devido processo legal deve ser sempre a base, o guia moral dos que querem de verdade defender os valores democráticos.

O Plano de Arias parece ser uma boa base para atingir um acordo factível e realista, mas é preciso que as partes queiram negociar, por que unilateralmente dar por encerrado como Zelaya está fazendo não é a rota prudente, todo processo de volta a normalidade institucional, como nos ensina a história, passa por compromisso, por cessões, de todos os lados e principalmente passa pela supressão da natural propensão a vingança, retaliação ou qualquer nome que se dê.

Portanto, talvez eximir Zelaya de um julgamento seja um bom roteiro e abrir mão da consulta popular e da volta ao poder a todo custo por parte do governo deposto também. Mas a pressão internacional feita sobre a premissa incompleta e falha e por agendas individuais, por que Cuba, Venezuela, Canadá e EUA, não se alinham pelos mesmos motivos, isso é claro até para quem nunca leu nada de relações internacionais, que acabam por seqüestrar, piorar e ampliar um problema do povo hondurenho que sofre as conseqüências disso, vivendo sob toques de recolher, ameaças de insurreição, enfrentamento nas ruas.

Nunca imaginei que me veria numa situação em que concordo plenamente com a Secretária Clinton, é preciso que a solução agrade e seja desenhada para o povo hondurenho, é claro que as forças geopolíticas regionais vão jogar com essa situação, todos os atores, todos os Chefes de Estado e líderes de organismos multinacionais estão se valendo dessa potencial tragédia para ganhos políticos é da natureza do sistema, e precisamos estar atentos e identificar quem busca por uma solução que preserve e fortalece a democracia hondurenha na região e quem reage ao simples fato de ter seu projeto geopolítico ameaçado.

Falei que o envolvimento americano é vital para resolver a pendenga a América Central é sua zona de influencia mais direta, mas no meio da batalha do “health care” e com Israel, Irã, Coréia do Norte e duas guerras para enfrentar além de uma crise global, não veremos empenho pessoal da diplomacia presidencial a menos que uma solução esteja engatilhada ou um agravamento ocorra, o que deixa as esperanças de uma solução negociada pacifica e institucional, sob os ombros dos negociadores e do Presidente Arias, por isso mesmo não vejo esse dead line de 72 horas como preponderante.

Ainda há desenvolvimentos para serem acompanhados e estudos, e estou ciente que no calor dos fatos, erros, simplificações e generalizações indevidas devo estar a cometer, mas com o que tenho de dados, continuo não vendo solução em curto prazo, e antevejo ainda uma escalada no discurso, mesmo por que é preciso fazer que a ligação FARC – Correa seja noticia apenas no (belíssimo, de gente tão amistosa e país que tenho muitas saudades, lugar “chevere”!) Equador.

O risco, contudo, é grande é como na cena do romance que narra a vida do Rei Arthur, em que um movimento brusco para matar uma cobra, acabar por detonar um conflito, uma batalha, tamanha tensão havia no ar, batalha que uma negociação poderia evitar.

Como analista me resta esperar os desdobramentos e como não sou o Pelé e não consigo dissociar o meu “eu - lírico”, meu eu analista, do meu “eu humano” resta também, rezar e desejar, que ninguém, desembainhe uma espada para matar uma cobra e comece um conflito, por os discursos não estão ajudando a pacificar o ambiente.

E repito a pergunta: A quem interessa o Sangue? [não entendeu, clique aqui]

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