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15 anos do tetra. Ou sai que é sua Taffarel

Esse é um blog de relações internacionais, mas vez ou outra algum assunto paralelo consegue adentrar aqui, não posso deixar de falar desse dia, que foi um dos dias mais felizes da minha vida, sim, sou meio estereótipo, gosto de samba, gosto de futebol, gosto de caipirinhas, como feijoada. E daí? Como se gostar dessas coisas ou não faz de alguém menos ou mais intelectual, o que faz essa diferença chama-se Biblioteca.

Mas, não nos esqueçamos das relações internacionais, então antes de prosseguir nesse terreno das lembranças futebolísticas da minha adolescência, recomendo bastante (perdão do pleonasmo) a leitura do texto anterior sobre a quem interessa o sangue em Honduras? A luz dos últimos acontecimentos e do que antevejo para os próximos dias, fará muito sentido, se fazer essa indagação.

Isso posto, lembro perfeitamente dessa partida, da dureza da marcação italiana e brasileira, lamentei, como todos, a cabeçada perdida no inicio do primeiro tempo por Romário, em um cruzamento do Capitão Dunga. Quase morri com um ataque do italiano Massaro, foi um jogo nervoso, disputado no calor impiedoso da Califórnia, lembro de um chute do Romário de fora da área, mas sem perigo para o goleiro Palhuca.

Há os que dizem que aquele time jogava feio, eu gostava, poxa foi a primeira vez que vi o Brasil campeão do mundo. Ah alguém aqui consegue dizer que se esqueceu daquele chute do Mauro Silva, o carregador de pianos daquele time, em Palhuca queima roupa e a bola vai à trave. E a agonia prosseguia o Super Zagueiro Franco Baresi, recém operado naquele dia, jogou como um colosso que era.

Prorrogação, um prelúdio do verdadeiro tormento que viria na decisão por tiros livres da marca do pênalti. A alegria foi indescritível, mas ver um dos maiores jogadores do mundo, errar e sentir o peso da esperança desfeita sobre suas costas foi algo meio triste, Baggio merecia não ter sido o que errou. Não merecia essa pecha, mesmo anos depois ele tendo provado que continuou andando (lembram da propaganda com ele do uísque Johnie Walker, keeping walking©). Nem Baresi, nem o grande Márcio Santos, também não mereciam errar, mas assim ainda estaríamos até hoje tentando decidir.

Aquele ano de 1994 foi inesquecível, claro que todo ano o é, mas foi um ano especial para mim, ainda um adolescente foi o ano que comecei a me interessar por relações internacionais, fruto de uma gincana sobre os países da copa em que minha turma representava a Noruega, e ao pesquisar dados (na embaixada e em livros, internet era nula a esse tempo), ali o bichinho das RRII me mordeu, percebi ver isso só recentemente.

Um ano que começou sombrio com aquele primeiro de maio, no circuito de Imola, onde pereceu o grande Ayrton Senna, ano que morreu Kurt Cobain, e no lado mais verdadeiramente sombrio foi o trágico ano do Genocídio de Ruanda, só mesmo o futebol para dar alegrias.

Ano em que nasceu o plano Real e nos desdobrávamos entre a cotação das Unidades Reais de Valor- URV e Cruzeiros Reais, depois o próprio Real, mas lembro da palpável incerteza de que não seria só mais um “pacotão” econômico. Que eram lugar comum na vida das pessoas, tínhamos até um know how de ir aos bancos trocar dinheiro. Operações de Overnight. Era um tempo complexo para acompanhar as coisas da economia, pode parece incrível, mas era muito menos transparente. Falando em temas econômicos comerciais foi o ano que finalmente teve fim a Rodada Uruguai.

Nesse sentido a disputa de pênaltis e seu drama correspondem como sempre a vida, que alterna horas ruins, horas boas, e horas mais ou menos. Mas com um pouco de “forçassão” de barra tudo pode ser uma metáfora da vida. Algumas parecem tão profundas, mas são destruídas numa leitura crítica.

Muitos foram os fatos que marcaram aquele ano e frases igualmente, mas nada significa mais 1994 para mim, do que: Sai que é sua Taffarel. Um dia para ser lembrado, de fato nada mudou com aquele troféu, ainda assim tudo mudou.

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