Pular para o conteúdo principal

No llores por mi, peronismo

Relegada ao segundo plano por conta da situação em Honduras as eleições legislativas da Argentina são um assunto interessantíssimo. Primeiro pela apatia do eleitorado que somada ao medo da gripa A (H1N1) teve um índice de comparecimento muito baixo e o voto na Argentina tal qual no Brasil é obrigatório. (Falando em gripe A (H1N1), a província de Buenos Aires decretou estado de emergência sanitária)

As eleições foram antecipadas por medo do oficialismo que as dificuldades advindas da crise financeira mundial afetariam o resultado, o que acabou por não dar certo ou no mínimo evitou uma derrota mais contundente.

O ex-presidente da Argentina e agora, também, ex-presidente do Partido Justicialista (continua primeiro cavalheiro) Nestor Kirchner, foi o cabeça da lista que teve uma surpreendente derrota em seu reduto a província de Buenos Aires e em Santa Cruz terra natal de Cristina.

Confesso que sou muito intrigado e apaixonado pela Argentina, é um país que sempre que posso vou, e particularmente captura minha atenção a longevidade e força do peronismo, que se alastra pelo sistema partidário e pela vida política do país, com herdeiros exóticos como sindicatos, empresários, status quo político. Não vou nesse texto conduzir uma análise profunda do peronismo, isso merece uma reflexão feita com mais elementos e com mais tempo. Mas, é espantosa a força de um movimento que aparentemente comporta qualquer tipo de política.

A derrota do primeiro-casal enfraquece a presidente, agora as vésperas da reunião do MERCOSUL, o que pode levar essa reunião a ser um encontro que trate mais de censuras ao golpe em Honduras que de fatos concretos, ainda mais por que é a economia e a relação com os setores produtivos que enfraqueceu o a ‘força K’, já que a queda vertiginosa do crescimento argentino (elevado em muito por que a base de comparação era muito fraca) e da arrecadação diminui a força dos programas assistenciais, também desgastaram muito o governo de Cristina as suas disputas constantes com produtores e exportadores agrícolas, que gerou desabastecimentos. Essa eleição, também, apresentou fortes nomes para a disputa presidencial.

Interessante é que a Presidente será obrigada, como ela mesma admitiu, a negociar em nome da governabilidade habilidade que não lhe é uma característica conhecida. No fim das contas o peronismo continua forte. Sua face “kirchnerista” sofreu um duro golpe, no entanto, mesmo que tentem relativizar a derrota. Mas, o opositor vencedor faz parte dos peronistas dissidentes. Portanto, no llore por lo peronismo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...