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A empregabilidade em Relações Internacionais, muitos caminhos poucas certezas

Esse é um dos assuntos recorrentes aqui nesse blog, afinal de contas são muitas as opções, poucos são os que conseguem ver essas opções, então tento ajudar, mas há limites, afinal, não sou, nem pretendo ser consultor de carreiras, mas como amigo das relações internacionais, não posso deixar de falar disso. Sei pelas palavras que usam nos mecanismos de busca para aqui chegarem, que esse não é um assunto do momento, mas creio ser importante. Para a vida do analista, para o estudante das relações internacionais, não é um tema das relações internacionais, mas é um ‘meta-tema’, já que a empregabilidade tem afetado a maneira como se ensina as relações internacionais. (Esse texto é longo, por hoje venci o cursor e a praga da página em branco).

Isso por um lado é excelente, quando levam as universidades a divulgar o curso, conseguir que seus alunos estagiem, criem empresas juniores, núcleos de simulação que simulem mais que só nações unidas, ou organismos multinacionais, mas mesmo que só simulando isso, se os alunos usarem pra aprender as técnicas de negociação já é utilíssimo. Já os focos excessivos de algumas universidades, não julgo ser necessário, contudo, não tenho elementos para corroborar ou derrubar essa minha tese, então é hora de esperar para ver o resultados.

É lamentável a quantidade de formandos em Relações Internacionais que não têm a mínima noção do que fazer com o curso, depois de graduado, não sabe como oferecer ao mercado suas habilidades, por que nem sabe que habilidades são essas. Isso é muito triste, por que além de mostrar uma grave falha sistêmica nos cursos, e uma falha maior ainda dos próprios estudantes.

É claro que há desconhecimento sobre o curso em muitos departamentos de RH, mas um bacharel, convicto de seu curso pode superar isso, ou tentar atenuar ao menos, com uma carta concisa de apresentação, que mostre o que é o curso, e o que ele como profissional pode acrescentar a essa organização, mas para isso é preciso saber o que se tem capacidade de fazer, autoconfiança e alguma experiência, seja empresa Junior, seja estágio, idealmente ambos.

Há uma idéia difundida entre muitos que há uma dicotomia entre teoria e prática, entre as matérias que seriam puramente cientificas e a aplicabilidade no mercado, dicotomia que por uma série de artigos em meu blog, e no portal Mondo Post, tento mostrar ser falsa.

Como resposta a esse dilema, dramático, em que se encontram os egressos em relações internacionais, as universidades tem respondido com cursos com enfoque, é uma resposta mercadológica, mas lembrem, o mercado que as universidades se inserem é o mercado de disputa por alunos, portanto, a priori essa disputa não reflete com aplicabilidade ou empregabilidade, embora, seja necessário afirmar, que professores e coordenadores, por conviverem dia a dia com os alunos e suas inseguranças e incertezas tentam elaborar maneiras que diluam essa dificuldade. Por isso o tal modelo de enfoque tem prevalecido, não sou pedagogo nem filosofo da ciência, não vou entrar em termos aprofundados se isso é ruim ou não.

E por que evito isso, por que tenho convicção que não há divórcio entre teoria e mercado, há um distanciamento, crônico até, entre universidade e mercado, muitas vezes por motivações ideológicas na primeira parte e falta de confiança da segunda parte. É claro para mim, que o conhecimento é a melhor ferramenta de qualquer organização, não importa a que setor da economia se dedique, portanto uma formação intelectual sólida é desejável, ainda mais no mundo atual em que organizações têm que se adaptar rapidamente a novas situações concorrenciais e tecnológicas, bem como devem ser capazes de como organização aprender rapidamente e filtrar com velocidade e qualidade a profusão de informações que a atual era da Tecnologia da Informação imprime a vida das pessoas e das organizações.

Em meus artigos no mondo post faço um levantamento da atividade negociadora, que é a meu ver talhada para o profissional de relações internacionais por motivos lá expostos, que em resumo são: conhecimentos sobre assuntos diversos, o que facilita a tomada de decisão, a capacidade de analisar objetivamente em vários níveis um mesmo assunto, sensibilidade cultural, além da habilidade lingüística e de articulação, que são inerentes a quase todos que se interessam por esse campo. Portanto, a atividade negociadora transforma a maior desvantagem apontada que é a multidisciplinaridade em virtude, pois essa poli-valência faz com que essa empreitada use menos recursos humanos.

Mas outras são as possíveis aplicações “práticas” do curso de relações internacionais, entre as várias possibilidades hoje destaco a consultoria, uma atividade, que exige a conjunção de conhecimento, experiência e capacidade empreendedora. A atividade de consultoria é por excelência uma atividade de prestação de serviços intelectuais, ou seja, por seu conhecimento a serviço de algum tipo de organização e vária em sua natureza e em seu porte, sem recorrer a teorias da administração eu divido em dois grandes grupos as consultorias, as consultorias latu senso, e a assessoria internacional.

Por que a diferenciação? Pela natureza do serviço e do prestador, no primeiro caso a excepcional habilidade, conhecimento, experiência e reconhecimento do consultor, são suas ferramentas, ele coloca sua habilidade e estoque de experiências para avaliar serviços e métodos de empresas, propondo e conduzindo novas ações. São projetos maiores, de alta lucratividade, são longos e resultam em melhorias e mudanças significativas nas rotinas das empresas, ou conduzem projetos especiais, e algum nível esses altos consultores, também, servem em altos cargos executivos no poder publico, em cargos de primeiro e segundo escalão.

E há a consultoria assessoria, que eu prático, por natureza esse tipo de serviço é servir para implementar e trabalhar a área internacional de empresas médias e pequenas e principalmente, assessorando novos empreendedores, preparando projetos de internacionalização, a diferença é de escala, já que consultores como eu tendem a trabalhar individualmente ou associado a outros poucos, mas isso é natural no mercado, todos tem que construir um nome, construir seu caminho.

Mas, o que é preciso?

Experiência sem duvida, conhecer o que é trabalhar na seara internacional, mas acima de tudo é preciso método, é preciso rigor, por que fazer uma consultoria é exatamente como conduzir uma pesquisa cientifica, em várias fazes, dependo é claro da demanda do cliente, em geral se faz estudos em duas frentes, fatores internos do cliente, produto e/ou serviço, outra externa. Não vou dar receitas, mas apontar caminhos, todo esse trabalho só é possível se o consultor souber ser pesquisador, souber entender as relações internacionais, mas diferente do analista, o consultor deve ter soluções para apresentar aos clientes e ser capaz de conduzir a aplicação das medidas, seja, um plano de exportação, uma preparação para um feira ou evento internacional, até ajuda em negociações mais complexas.

É preciso conhecer suas habilidades pessoais, ter acesso a conhecimentos qualificados, ser capaz de entender e transmitir isso ao cliente é preciso ter compromisso firme com a ética e com o cliente, com a viabilidade real de seu projeto, atenção aos custos. A isso tudo é preciso que se tenha a facilidade de construir redes de relacionamento, e para isso saber se comportar eticamente com colegas de profissão é imprescindível.

Todos os formados estão aptos a serem assessores de relações internacionais e consultores? Na minha opinião sim, desde que saibam o que estão fazendo, que busquem sempre estar ativos. Por que no campo das relações internacionais há muito trabalho, mas há pouco emprego, então pra quem tem vocação empreendedora é possível, mas precisa, ter consciência e inteligência para aproveitar os conhecimentos universitários e embalar isso para as necessidades das empresas, sobretudo, as menores, em que o peso financeiro de um executivo com capacidade internacional, é além dos meios que essas empresas dispõe, muito também, por causa da legislação trabalhista nacional.

Não é o empreendedorismo que vai ser a tábua de salvação dos alunos de relações internacionais, mas meus amigos essa é uma saída, pra quem tem visão de mercado, desejo de empreender, coragem de arriscar e alma guerreira.

E reitero, nessas atividades de consultoria não pode se afastar da academia, mas não pode se afetar pelo academicismo. Tem que ser dinâmico entre outras capacidades e é preciso também, amar muito o que faz, e amar empreender. Portanto o foco da universidade pode até ajudar, mas sou um daqueles chatos que acham que as pessoas, individualmente, têm que decidir o que querem fazer da vida. Não nutro nenhum preconceito por quem tem outras aspirações, há quem desdenhe de quem opte pelo caminho dos negócios internacionais ou pela docência, ou pelos concursos públicos. Cada cabeça uma sentença.

Comentários

Bruno disse…
Obrigador por dispor esse texto esclarecendo algumas dúvidas à respeito do futuro do empregador ou de quem cursa Relações Internacionais.
Meu nome é Bruno e começarei na próxima semana o curso de Relações Internacionais, e tenho alguns receios à respeito de como ele é ensinado nas universidades,há vários boátos de que em muitas universidades este curso possui algumas "falhas". Eu faço aulas de inglês semanais, mas gostaria de saber se há mais alguns cursos alternativos que possam me ajudar a melhorar meu perfil profissional e que me prepare ou adpteme melhor ao curso de Relações Internacionais.

desde já Obrigado

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