Os Líderes de Brasil, Rússia, Índia e China se reuniram dia 16 de junho na (semi) impronunciável cidade de Ecaterimburgo, na Rússia. Para a primeira reunião de cúpula do bloco criado a partir das análises dos economistas do Goldman Sacks. (Que pegou, por sinal). [Aqui você encontra, na íntegra, os documentos que serão citados no decorrer do texto, link do MRE, em inglês.]
O noticiário internacional se focou nos últimos dias nas manifestações decorrentes da suspeita sobre a eleição iraniana, novas sansões econômicas e militares a Coréia do Norte com apoio da Rússia e China (coincidentemente ou não o comércio de armas leves não foi embargado, um monopólio chinês, mas esse não é ponto nesse texto), e pela controvérsia sobre o mapa de votação do Brasil no âmbito da comissão de Direitos Humanos da ONU, capitaneada pela força e prestigio da ONG Human Rigths Wacth, nesse contexto os parcos minutos devotados ao internacional nos telejornais e as páginas de jornal alocadas para isso não fizeram uma cobertura mais incisiva sobre uma reunião de cúpula há uma matéria da Reuters, que tem um título interessante “Much-trumpeted BRIC summit ends quietly” (aqui).
A matéria se justifica por que a Rússia ventilou muito uma possível resolução em prol da adoção de uma nova moeda de conversão mundial, diminuindo a exposição ao Dólar, mas já era previsível que não haveria consenso além do retórico nesse assunto já que a China está indubitavelmente atrelada ao destino do Dólar, como já previa em meu texto “Lula em Genebra, mas a expectativa mesmo é pela cúpula dos BRIC’S” publicado aqui, nesse mesmo blog.
A declaração conjunta, como todo documento proveniente de um consenso é o mínimo denominador comum, a linguagem é clara, mas ao mesmo tempo evita vinculações tácitas, mesmo por que como diz a matéria supracitada da Reuters, não se pode esperar que uma reunião de poucas horas produza alterações significantes na esfera global, o texto, contudo, reafirma compromissos e aspirações já materializadas na Reunião do G-20 (financeiro, não custa reiterar, não confundir com o G-20 da OMC), como melhorias na governança e no método de tomada de decisões em organismos financeiros multilaterais, vis a vis uma maior participação do próprio grupo naturalmente.
O documento agrega interesses nacionais como, por exemplo, a reiterada condenação ao terrorismo sob todas as formas e justificativas. Evidente agenda indiana e russa. Pode-se dizer que a cúpula foi discreta, por que na maior parte sua declaração só reafirma compromissos assumidos na cúpula do G-20 e manifestam interesse de supervisionar os resultados na reunião de ministros das finanças em junho.
Há um compromisso que se materializado será bastante interessante que é a cooperação cientifica em pesquisa básica e aplicada e no campo da agricultura, assim do ponto de vista do Brasil seriamos recipientes de tecnologia e ao mesmo tempo fornecedores de tecnologia agrícola e know how, esse tipo de agenda se seguida de rodadas de negócio pode aumentar as trocas nesse grupo, no qual o Brasil o tem um relevante contato apenas com a China.
Há compromissos de segurança energética e de liberdade e facilidade de escoamento dessa produção de energia, petróleo notadamente, já que Índia e China são consumidores de energia e a Rússia fornecedora o texto de certa forma acomoda esses interesses aliados a agenda brasileira por bicombustíveis, agora com o epíteto sustentáveis, para se separar das iniciativas a base de milho e soja. E claro, compromissos na busca de energias alternativas, incluindo verbas do Banco Mundial nesse intento. O resto da declaração segue a linha da construção e harmonia entre os povos, cooperação em desastres nacionais, todas aquelas declarações de intenção que podem ou não ser seguidas de atos concretos, se forem levadas a cabo, serão experiências de cooperação muito interessantes, e nesse marco há espaço para que agentes para-diplomáticos de entes sub-nacionais busquem instrumentalizar isso. Por pressão nas chancelarias, já que há um marco amplo que cobre isso. Uma oportunidade para nossos estados e municípios.
Sinteticamente o documento demonstra consenso não aprofundado em matérias de reforma de governança nos organismos multilaterais refletindo as mudanças na política internacional em duas frentes: a) maior poder de voto dos emergentes nos organismos econômicos, b) reconhecimento do status de Índia e Brasil na ONU, entrelinhas na reforma do Conselho de Segurança. O documento, também, repete muito sobre Rule of Law, resolução pacífica de controvérsias, maior controle no sistema financeiro (principalmente em agências de classificação de risco) diálogo, enfim o de sempre, mais a retórica do G-20 como Fórum mais legitimo e compreensivo que o G-8.
O que é intrigante é um documento anexo a declaração final que é uma declaração conjunta sobre Segurança Alimentar Global, tema que tinha caído da primeira linha com a crise econômica, mas mesmo assim é raiz da divisão entre os emergentes na Rodada Doha. Por isso intrigante, realmente eu imaginei que não tocariam de maneira tão explicita no assunto, evocando até as Metas do Milênio. Ao observar esse tema temos que pensar que a China e a Índia com superpopulações têm interesses em agricultura de duas maneiras como garantir preços e fornecimento regular externo e como meio para fixar o homem no campo evitando um inchaço urbano, e nesses dois países a agricultura é pouco dinamizada e com uso intensivo de mão-de-obra. Portanto, a esses países interessa diminuir distorções na formação de preços e paradoxalmente interessa também manter níveis elevados de proteção. Isso parece ter se mantido, mas pode haver uma construção em processo que destrave isso em Doha, o que pra mim, seria muito surpreendente.
O interessante é que esse documento clama por investimentos em agricultura familiar, que agrada aos dois estados supracitados e ao Brasil, que consegue conciliar um agronegócio pujante com uma agricultura familiar relevante, mas claro o Brasil já se urbanizou. E tocam novamente na cooperação técnica, que se concatenada de maneira concreta com a política africana da China, pode resultar em avanços de produtividade nesse continente, influenciando o preço pelo lado da oferta, além claro de contribuir para gerar renda e emprego e progresso econômico nesse continente que pode ser um novo destino comercial, ainda mais com o chamado primeiro mundo em recessão, óbvio isso não seria um plano de curto prazo como a própria declaração ressalta.
Pois bem a cúpula foi discreta nas expectativas da mídia, mas deixou boas oportunidades, para uma maior concertação nesse bloco emergente, oportunidade para que via comércio e cooperação técnica se possa forjar laços mais institucionalizados e concretos entre esses países. Ao falar em resultados concretos, o único mesmo tangível é que a próxima reunião será no Brasil. Vamos acompanhar se as intenções se tornarão ações.
O noticiário internacional se focou nos últimos dias nas manifestações decorrentes da suspeita sobre a eleição iraniana, novas sansões econômicas e militares a Coréia do Norte com apoio da Rússia e China (coincidentemente ou não o comércio de armas leves não foi embargado, um monopólio chinês, mas esse não é ponto nesse texto), e pela controvérsia sobre o mapa de votação do Brasil no âmbito da comissão de Direitos Humanos da ONU, capitaneada pela força e prestigio da ONG Human Rigths Wacth, nesse contexto os parcos minutos devotados ao internacional nos telejornais e as páginas de jornal alocadas para isso não fizeram uma cobertura mais incisiva sobre uma reunião de cúpula há uma matéria da Reuters, que tem um título interessante “Much-trumpeted BRIC summit ends quietly” (aqui).
A matéria se justifica por que a Rússia ventilou muito uma possível resolução em prol da adoção de uma nova moeda de conversão mundial, diminuindo a exposição ao Dólar, mas já era previsível que não haveria consenso além do retórico nesse assunto já que a China está indubitavelmente atrelada ao destino do Dólar, como já previa em meu texto “Lula em Genebra, mas a expectativa mesmo é pela cúpula dos BRIC’S” publicado aqui, nesse mesmo blog.
A declaração conjunta, como todo documento proveniente de um consenso é o mínimo denominador comum, a linguagem é clara, mas ao mesmo tempo evita vinculações tácitas, mesmo por que como diz a matéria supracitada da Reuters, não se pode esperar que uma reunião de poucas horas produza alterações significantes na esfera global, o texto, contudo, reafirma compromissos e aspirações já materializadas na Reunião do G-20 (financeiro, não custa reiterar, não confundir com o G-20 da OMC), como melhorias na governança e no método de tomada de decisões em organismos financeiros multilaterais, vis a vis uma maior participação do próprio grupo naturalmente.
O documento agrega interesses nacionais como, por exemplo, a reiterada condenação ao terrorismo sob todas as formas e justificativas. Evidente agenda indiana e russa. Pode-se dizer que a cúpula foi discreta, por que na maior parte sua declaração só reafirma compromissos assumidos na cúpula do G-20 e manifestam interesse de supervisionar os resultados na reunião de ministros das finanças em junho.
Há um compromisso que se materializado será bastante interessante que é a cooperação cientifica em pesquisa básica e aplicada e no campo da agricultura, assim do ponto de vista do Brasil seriamos recipientes de tecnologia e ao mesmo tempo fornecedores de tecnologia agrícola e know how, esse tipo de agenda se seguida de rodadas de negócio pode aumentar as trocas nesse grupo, no qual o Brasil o tem um relevante contato apenas com a China.
Há compromissos de segurança energética e de liberdade e facilidade de escoamento dessa produção de energia, petróleo notadamente, já que Índia e China são consumidores de energia e a Rússia fornecedora o texto de certa forma acomoda esses interesses aliados a agenda brasileira por bicombustíveis, agora com o epíteto sustentáveis, para se separar das iniciativas a base de milho e soja. E claro, compromissos na busca de energias alternativas, incluindo verbas do Banco Mundial nesse intento. O resto da declaração segue a linha da construção e harmonia entre os povos, cooperação em desastres nacionais, todas aquelas declarações de intenção que podem ou não ser seguidas de atos concretos, se forem levadas a cabo, serão experiências de cooperação muito interessantes, e nesse marco há espaço para que agentes para-diplomáticos de entes sub-nacionais busquem instrumentalizar isso. Por pressão nas chancelarias, já que há um marco amplo que cobre isso. Uma oportunidade para nossos estados e municípios.
Sinteticamente o documento demonstra consenso não aprofundado em matérias de reforma de governança nos organismos multilaterais refletindo as mudanças na política internacional em duas frentes: a) maior poder de voto dos emergentes nos organismos econômicos, b) reconhecimento do status de Índia e Brasil na ONU, entrelinhas na reforma do Conselho de Segurança. O documento, também, repete muito sobre Rule of Law, resolução pacífica de controvérsias, maior controle no sistema financeiro (principalmente em agências de classificação de risco) diálogo, enfim o de sempre, mais a retórica do G-20 como Fórum mais legitimo e compreensivo que o G-8.
O que é intrigante é um documento anexo a declaração final que é uma declaração conjunta sobre Segurança Alimentar Global, tema que tinha caído da primeira linha com a crise econômica, mas mesmo assim é raiz da divisão entre os emergentes na Rodada Doha. Por isso intrigante, realmente eu imaginei que não tocariam de maneira tão explicita no assunto, evocando até as Metas do Milênio. Ao observar esse tema temos que pensar que a China e a Índia com superpopulações têm interesses em agricultura de duas maneiras como garantir preços e fornecimento regular externo e como meio para fixar o homem no campo evitando um inchaço urbano, e nesses dois países a agricultura é pouco dinamizada e com uso intensivo de mão-de-obra. Portanto, a esses países interessa diminuir distorções na formação de preços e paradoxalmente interessa também manter níveis elevados de proteção. Isso parece ter se mantido, mas pode haver uma construção em processo que destrave isso em Doha, o que pra mim, seria muito surpreendente.
O interessante é que esse documento clama por investimentos em agricultura familiar, que agrada aos dois estados supracitados e ao Brasil, que consegue conciliar um agronegócio pujante com uma agricultura familiar relevante, mas claro o Brasil já se urbanizou. E tocam novamente na cooperação técnica, que se concatenada de maneira concreta com a política africana da China, pode resultar em avanços de produtividade nesse continente, influenciando o preço pelo lado da oferta, além claro de contribuir para gerar renda e emprego e progresso econômico nesse continente que pode ser um novo destino comercial, ainda mais com o chamado primeiro mundo em recessão, óbvio isso não seria um plano de curto prazo como a própria declaração ressalta.
Pois bem a cúpula foi discreta nas expectativas da mídia, mas deixou boas oportunidades, para uma maior concertação nesse bloco emergente, oportunidade para que via comércio e cooperação técnica se possa forjar laços mais institucionalizados e concretos entre esses países. Ao falar em resultados concretos, o único mesmo tangível é que a próxima reunião será no Brasil. Vamos acompanhar se as intenções se tornarão ações.
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