Alto, negro, esguio, novo, inteligente, articulado com uma oratória vibrante, Barack Obama surgiu para o mundo com um popstar político, ainda que a luta tenha sido dura na campanha e tenha internamente uma oposição cerrada. O ‘change that we can believe in' teve um impacto enorme sobre o imaginário da esquerda mundial, e principalmente foi adotado como a solução para os EUA e o mundo (e como uma espécie de punição também, não faltaram comentaristas pra dizer algo como “bem feito para esses racistas vão ter que engolir um presidente negro”, como se ele não tivesse sido eleito pela maioria, [lógica, lógica, quanto tu és mau tratada]) pela imprensa mundial, isso é inconteste.
Nem carisma, nem capital político, nem palavras mansas, nem manifestações veementes de apreço a líderes emergentes, amenizam o desafio que enfrenta Obama. Foi eleito prometendo restaurar à ‘posição americana’ no mundo, corrigir o rumo, e usou até a figura de um petroleiro para justificar uma lentidão aparente nesse processo. E seus desafios são enormes, o tabuleiro mundial do xadrez geopolítico está complicado, o tabuleiro econômico desde a Grande Depressão não tinha prognósticos tão negativos. E quanto ao tabuleiro interno, me alinho a corrente majoritária dos analistas vai depender da economia. O tabuleiro multilateral no que tange ao comércio, por sua vez, também, está travado.
E a batalha moral? Essa enquanto ele tiver a mídia a seu lado e com um antecessor controverso e muito contestado como o Bush, fica fácil, embora o recuo na questão dos tribunais militares, a reticência em desclassificar documentos sobre torturas (coisa pedida pelo ex-vice-presidente Cheney), a proibição da veiculação das imagens de tortura nos campos de prisioneiros, os nomeados para cargos importantes envoltos em escândalos de sonegação fiscal e o fato da poderosa figura do Partido Democrata, a Speaker of the House (presidente do congresso americano) Nancy Pelosi, crítica ácida do governo Bush, saber desde 2002, com detalhes sobre o uso de tortura, terem arranhado um pouco a armadura brilhante do galante cavaleiro negro, que veio salvar o mundo.
A indefinição sobre o que fazer com os detidos de Guantánamo, dá uma amostra que governar é muito mais complexo, que discursar em campanha.
É claro, que uma análise profunda, com evidencias e provas de cada um dos pontos que enumerarei aqui resultariam em, apenas, algumas dezenas (se não centenas) de teses e livros, não sou arrogante a esse ponto. Portanto me limitarei a apresentar as várias questões, que identifico, com alguma contextualização, concentrando-me nesse ensaio no que chamo de tabuleiro geopolítico. Enfatizo que não se trata de uma exploração profunda, portanto, não objetiva ser exaustiva sobre o tema, e alguns temas geopolíticos podem ter ficado de fora, ou não suficientemente explicados, já que esse ensaio não tem pretensões de ser um trabalho acadêmico e sim uma análise de conjuntura feita com rigor acadêmico.
Américas
O tabuleiro geopolítico tem como principais complicações no continente americano, lidar com regimes democraticamente eleitos antiamericanos, regimes alias que pautam toda sua política externa, no palanque do antiamericanismo (yankees go home) gostam de dizer. Há problemas perenes de fronteiras com o México, a retórica da guerra contra as drogas, vista pela esquerda latina como “cabeça de praia” para o controle militar da região, foi ressuscitada com toda a força, já na primeira visita de Obama ao México, o que para mim, indica que a Colômbia não será abandonada, como muitos previam.
Há, contudo, condições e espaço de cooperação nessa frente contra o crime organizado, principalmente na América Central onde as gangues de rua (chamadas de Maras, as principais e mais notórias são as quadrilhas: MS 13, Mara Salvatrucha, Mara 18. Há um excelente documentário do Discovery Channel, Chamado: “Maras uma ameaça regional”, que é um bom caminho para quem não conhece o tema, contudo convêm para entender melhor o tema estudar a violência dos esquadrões da morte e das guerras civis que atingiram a região, há artigos na Foreign affairs e muitos trabalhos nesse sentido sugiro esses aqui, aqui e como sempre pesquisa posterior se fará necessária) que tem sua origem em comunidades centro-americanas que ao fugir das guerras na região foram para os Estados Unidos, posteriormente deportados de volta, e então se especializaram além da criminalidade, vandalismo, tráfico de drogas, passaram também a atuar com tráfico de pessoas (como coiotes) e com atividades típicas de mafiosos junto às comunidades hispânicas, nos EUA, ou seja, são ameaças estabilidade desses estados centro-americanos e à segurança regional na América Central e um problema grande de segurança nos EUA.
Na América do Sul, Washington sempre teve o governo brasileiro como interlocutor moderado, que serve como contraponto a chamada Alternativa Bolivariana, de fato há na agenda brasileira muitos interesses comuns na região, mas que não são bem explorados nas relações diplomáticas, por que quando se trata de EUA a polarização (e virtual perda de votos nas eleições) inibem governos brasileiros de cooperarem mais estreitamente, principalmente na esfera da segurança continental, que como nos mostra o episódio do ataque colombiano a uma base da FARC, tolerada em território equatoriano, pode se complicar, principalmente por que há na região uma incapacidade coletiva de impermeabilizar as fronteiras. Contudo, a América Latina e Caribe, se mantêm como assunto menor na pauta americana, com exceção do Brasil, por que no campo econômico, principalmente no campo da OMC, somos atores relevantes, não tão centrais como o MRE gostaria, mas sem duvida influente.
África
Na África o desafio está entre o discurso pró-direitos humanos e a práxis que deriva disso, sejamos claros, é muito fácil, ao lado de estrelas de Hollywood condenar os massacres de Darfur, mas e no campo das ações. Há problemas com campos de treinamento de terroristas na África e como estudamos aqui nesse blog existe a questão do crescimento da influência chinesa sobre o continente, com uma política consistente, pragmática e que vai além da simples ajuda humanitária. E há um problema adicional, a questão dos piratas somalis, não pelas ações em si, mas pela disputa pelo controle marítimo, temos a potencias regionais aspirantes a super-potencias Índia e China, potências européias e claro nações Árabes envoltas em esforços para combater piratas, que podem escalar por uma luta pelo controle da região ou por projeção de poder na região, rota importante de petroleiros para Ásia.
Nem carisma, nem capital político, nem palavras mansas, nem manifestações veementes de apreço a líderes emergentes, amenizam o desafio que enfrenta Obama. Foi eleito prometendo restaurar à ‘posição americana’ no mundo, corrigir o rumo, e usou até a figura de um petroleiro para justificar uma lentidão aparente nesse processo. E seus desafios são enormes, o tabuleiro mundial do xadrez geopolítico está complicado, o tabuleiro econômico desde a Grande Depressão não tinha prognósticos tão negativos. E quanto ao tabuleiro interno, me alinho a corrente majoritária dos analistas vai depender da economia. O tabuleiro multilateral no que tange ao comércio, por sua vez, também, está travado.
E a batalha moral? Essa enquanto ele tiver a mídia a seu lado e com um antecessor controverso e muito contestado como o Bush, fica fácil, embora o recuo na questão dos tribunais militares, a reticência em desclassificar documentos sobre torturas (coisa pedida pelo ex-vice-presidente Cheney), a proibição da veiculação das imagens de tortura nos campos de prisioneiros, os nomeados para cargos importantes envoltos em escândalos de sonegação fiscal e o fato da poderosa figura do Partido Democrata, a Speaker of the House (presidente do congresso americano) Nancy Pelosi, crítica ácida do governo Bush, saber desde 2002, com detalhes sobre o uso de tortura, terem arranhado um pouco a armadura brilhante do galante cavaleiro negro, que veio salvar o mundo.
A indefinição sobre o que fazer com os detidos de Guantánamo, dá uma amostra que governar é muito mais complexo, que discursar em campanha.
É claro, que uma análise profunda, com evidencias e provas de cada um dos pontos que enumerarei aqui resultariam em, apenas, algumas dezenas (se não centenas) de teses e livros, não sou arrogante a esse ponto. Portanto me limitarei a apresentar as várias questões, que identifico, com alguma contextualização, concentrando-me nesse ensaio no que chamo de tabuleiro geopolítico. Enfatizo que não se trata de uma exploração profunda, portanto, não objetiva ser exaustiva sobre o tema, e alguns temas geopolíticos podem ter ficado de fora, ou não suficientemente explicados, já que esse ensaio não tem pretensões de ser um trabalho acadêmico e sim uma análise de conjuntura feita com rigor acadêmico.
Américas
O tabuleiro geopolítico tem como principais complicações no continente americano, lidar com regimes democraticamente eleitos antiamericanos, regimes alias que pautam toda sua política externa, no palanque do antiamericanismo (yankees go home) gostam de dizer. Há problemas perenes de fronteiras com o México, a retórica da guerra contra as drogas, vista pela esquerda latina como “cabeça de praia” para o controle militar da região, foi ressuscitada com toda a força, já na primeira visita de Obama ao México, o que para mim, indica que a Colômbia não será abandonada, como muitos previam.
Há, contudo, condições e espaço de cooperação nessa frente contra o crime organizado, principalmente na América Central onde as gangues de rua (chamadas de Maras, as principais e mais notórias são as quadrilhas: MS 13, Mara Salvatrucha, Mara 18. Há um excelente documentário do Discovery Channel, Chamado: “Maras uma ameaça regional”, que é um bom caminho para quem não conhece o tema, contudo convêm para entender melhor o tema estudar a violência dos esquadrões da morte e das guerras civis que atingiram a região, há artigos na Foreign affairs e muitos trabalhos nesse sentido sugiro esses aqui, aqui e como sempre pesquisa posterior se fará necessária) que tem sua origem em comunidades centro-americanas que ao fugir das guerras na região foram para os Estados Unidos, posteriormente deportados de volta, e então se especializaram além da criminalidade, vandalismo, tráfico de drogas, passaram também a atuar com tráfico de pessoas (como coiotes) e com atividades típicas de mafiosos junto às comunidades hispânicas, nos EUA, ou seja, são ameaças estabilidade desses estados centro-americanos e à segurança regional na América Central e um problema grande de segurança nos EUA.
Na América do Sul, Washington sempre teve o governo brasileiro como interlocutor moderado, que serve como contraponto a chamada Alternativa Bolivariana, de fato há na agenda brasileira muitos interesses comuns na região, mas que não são bem explorados nas relações diplomáticas, por que quando se trata de EUA a polarização (e virtual perda de votos nas eleições) inibem governos brasileiros de cooperarem mais estreitamente, principalmente na esfera da segurança continental, que como nos mostra o episódio do ataque colombiano a uma base da FARC, tolerada em território equatoriano, pode se complicar, principalmente por que há na região uma incapacidade coletiva de impermeabilizar as fronteiras. Contudo, a América Latina e Caribe, se mantêm como assunto menor na pauta americana, com exceção do Brasil, por que no campo econômico, principalmente no campo da OMC, somos atores relevantes, não tão centrais como o MRE gostaria, mas sem duvida influente.
África
Na África o desafio está entre o discurso pró-direitos humanos e a práxis que deriva disso, sejamos claros, é muito fácil, ao lado de estrelas de Hollywood condenar os massacres de Darfur, mas e no campo das ações. Há problemas com campos de treinamento de terroristas na África e como estudamos aqui nesse blog existe a questão do crescimento da influência chinesa sobre o continente, com uma política consistente, pragmática e que vai além da simples ajuda humanitária. E há um problema adicional, a questão dos piratas somalis, não pelas ações em si, mas pela disputa pelo controle marítimo, temos a potencias regionais aspirantes a super-potencias Índia e China, potências européias e claro nações Árabes envoltas em esforços para combater piratas, que podem escalar por uma luta pelo controle da região ou por projeção de poder na região, rota importante de petroleiros para Ásia.
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