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Nunca antes na história desse país

Mais uma vez me permito pautar pelas notícias do dia, mas com noticias como essas abaixo, não há como evitar. O discurso é coisa complicada no campo das relações internacionais, há inclusive um grupo de teóricos chamados de dissidentes que se dedicam a “desconstruir” todos os conceitos em que as teorias das relações internacionais são construídas, negando inclusive a ontologia da ciência, saindo da esfera acadêmica e adentrando ao mundo prático da diplomacia, o discurso se torna ainda mais elusivo a uma análise sobre seus efeitos, é certo que o impacto do discurso sobre a opinião pública pode ser enorme, ainda mais se seguido de gestos.

É natural que em certo ponto exista uma convergência no discurso esquerdista, que na América Latina sempre foi associado ao antiamericanismo, a chamada luta antiimperialista, nos últimos anos depois do refreamento desse discurso nos anos de 1990, esse esquerdismo altamente ideológico tem voltado a voga no continente, tendo em Hugo Chávez, e na Alternativa Bolivariana, seus incentivadores e no velho líder comunista cubano seu líder moral.

Até aí tudo bem. É do jogo democracia que haja forças antagônicas, desde que respeitadas as regras do jogo, mas não é esse o mérito post, mas sim um discurso associado a esse que vem ganhando força, principalmente com a aproximação dos países sul-americanos aos países árabes, essa convergência, principalmente com os governos mais radicais dessa região (paradoxalmente economicamente, são os países mais moderados melhores clientes, afinal não estão sob embargo), como subproduto dessa aproximação (quero crer) tem havido um crescimento da simpatia por grupos terroristas dedicados a eliminar Israel, e a presença americana, ocidental no golfo pérsico, ou pelo menos assim esses grupos justificam sua existência.

Sempre se teve em mente que todo o tipo de criminalidade acaba em algum momento se integrando, explico, traficantes de drogas, de armas, de diamantes, corruptos, precisam mover somas enormes de dinheiro, a relação é antiga e bem estabelecida, e sempre se teve a suspeita que parte desse esquema montado para as operações ilícitas domésticas e regionais, notadamente, tráfico de drogas, armas, contrabando de produtos falsificados e remessas de dinheiro desviado dos governos, fosse usada para lavar e transportar fundos de organizações terroristas.

Então de certo modo sempre houve o receio de que o Brasil estivesse nessa rota, mas a prisão de alto operativo da Al Qaeda, em território brasileiro, mostra que a situação pode ser pior, muito pior. Por um lado o Brasil pode ser um esconderijo para esses elementos, mas há um cenário mais sombrio, podemos estar assistindo a um processo de recrutamento de jovens brasileiros saturados com um discurso radical, e ainda mais terrível é o cenário de que poderia ser o Brasil alvo de terrorismo. Estaremos equipados pra lidar com isso?

Não somos aliados americanos militarmente falando, mas é inegável que há convergência de muitos interesses, principalmente econômicos, aqui no Brasil, sem contar a Comunidade Judaica, que não obstante a religião são brasileiros.

E ai que digo que o discurso político que é transigente com o radicalismo, que publicamente oferece asilo a um terrorista condenado, que faz uma agenda de visitas ao Oriente-Médio e exclui Israel, pode servir como estimulo a isso.

Quando criticado sobre o envolvimento ativista do Brasil, assim respondeu o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em um artigo intitulado Uma Política Externa do Tamanho do Brasil na Edição especial de 10 anos do CEBRI “DESAFIOS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA”:

“Muitos viram com ceticismo o que condenaram como “excesso de ativismo” em relação ao Oriente Médio. No ano passado, o Brasil foi convidado para a Conferência de Annapolis sobre a paz entre israelenses e palestinos. Teríamos sido chamados se não houvesse uma percepção da nossa disposição efetiva de acompanhar mais de perto a situação política naquela região?”

Ministro Amorim sempre responde ou com ironias ou com acusações de complexo de vira-lata aos questionamentos feitos sobre as posições que o Brasil adota, pois bem agora vemos mais um resultado dessas posições, se não bastassem as constantes derrotas nos candidatos que o MRE, tenta emplacar ou nas alianças, se por um lado o G-20 é um sucesso por ter colocado a agenda emergente no centro das discussões da OMC, por outro são distensões dentro do próprio grupo, principalmente Índia e China, que receiam abrir seus setores agrícolas, pouco dinamizados.

Aliás, não são poucos os que atribuem a isso a não vinda (que fora prometida) do primeiro-ministro Chinês ao Brasil e o encurtamento da visita do Presidente Lula a China, pois bem, tudo isso parece ser pragmático? Sim, por que o pragmatismo ou a “questão de soberania” são sempre as justificativas para ações do governo.

Sei, sei, muito me acusarão disso e daquilo, por discordar do governo petista, mas não estou fazendo por questões ideológicas, mas sim práticas, afinal, essas ações e discursos tem desdobramentos, cômicos, quando o presidente erra por MUITO o tamanho das nossas fronteiras, ou aterrorizadores, quando a falta de ordem, fronteiras permeáveis, um bem estabelecido sistema criminoso, se juntam a possibilidade de servimos de ponto de recrutamento, de esconderijo ou de ataques terroristas. Ainda mais por que segundo especialistas a legislação brasileira não é clara, no que tange ao terrorismo.

As noticias que motivaram esse texto. A essa altura todo mundo já sabe, (mas reproduzo algumas abaixo), muito chama a atenção para a fala do Presidente, que repudia o vazamento, mas não o fato desse elemento esta aqui. (Como assim? Se continuasse em segredo tudo estaria bem?). Volto depois dessas notícias.

Da Folha Online, em Brasília (Link) (pode ser só pra assinantes, realmente não sei)
Membro da Al Qaeda não está mais na prisão
Atualizado às 19h17.
Um integrante da alta hierarquia da organização terrorista Al Qaeda foi preso no Brasil há cerca de dois meses, segundo o Ministério da Justiça. Ele já foi liberado.

A prisão do terrorista foi revelada na coluna de Janio de Freitas, publicada na edição da Folha desta terça-feira.

De acordo com a Polícia Federal, ele foi preso por divulgação de mensagem racista. O nome dele não foi divulgado. A prisão ocorreu em São Paulo em ação de âmbito internacional.

O Ministério da Justiça informou que o membro da Al Qaeda já foi solto e que ele não deve ser expulso. Entre os supostos motivos para permitir a permanência dele no Brasil, segundo fontes do ministério, estaria a comprovação de estabilidade no país --como o casamento com uma brasileira.

Atuação no Brasil

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, disse que vai encaminhar requerimento de informação à Polícia Federal, GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para que a comissão seja informada da prisão do integrante da Al Qaeda.

O deputado teme que o Brasil se transforme numa espécie de "país hospedeiro" de organizações terroristas uma vez que não há legislação específica para enfrentar o problema. "Estamos com uma diplomacia agressiva de aproximação com o mundo árabe. A contrapartida é o país se tornar hospedeiro de organizações terroristas. Eu sei que, antes dele ser preso, ele havia sido seguido aqui. Temos uma ausência clara de comando na questão terrorista", afirmou o parlamentar.

Do UOL (Link)

Depois de se encontrar com o seu colega venezuelano Hugo Chávez em um hotel da orla de Salvador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na tarde desta terça-feira (26) que ficou irritado ao tomar conhecimento do vazamento da informação de que um suspeito de integrar a organização terrorista Al Qaeda teria sido preso pela Polícia Federal há dois meses e, depois, libertado. A informação sobre a prisão do suposto integrante da Al Qaeda, organização comandada por Osama Bin Laden, foi divulgada nesta terça-feira.

"A denúncia não partiu do Brasil. Acho desrespeitoso alguém de fora dar um palpite sobre um cidadão que está sendo processado, independentemente de sua origem. A Polícia Federal não falou nada e alguém de fora dá palpite. Esta não é uma boa política e o Brasil não tem como hábito dar palpite", disse o presidente. De acordo com Lula, o ministro da Justiça, Tarso Genro, determinou uma investigação sob sigilo sobre o vazamento da informação.

Voltei,

As antigas lendas de vampiros dizem que temos que convidar o mal para que ele entre em nossas casas, só nos resta esperar que não tenhamos convidado um mal a mais pra viver entre nós, a intolerância religiosa que não nos é própria. Não custa lembrar que terrorismo não se espanta com alho.

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