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Momento ombudsman sobre a temática desse blog: Uma explicação não solicitada, mas assim mesmo feita

Todos vocês que são leitores assíduos, ou que aqui chegam, pela primeira vez já sabem ou saberão que busco variar a temática nesse blog, variando desde a reflexão teórica até a análise de eventos do dia-a-dia (com os riscos e abrangência limitada de toda análise feita ao calor dos acontecimentos). Há, contudo, uma tendência aqui de procurar por temas que visam não a já manjada releitura e levantamento sobre as correntes teóricas das relações internacionais, suas escolas e seus debates, eventualmente posso abordá-los, mas não é esse o intento primordial aqui, o objetivo, que talvez seja mais recorrente são os que primam por propor reflexões, teóricas, metodológicas e meta-teóricas.

Muitos devem se perguntar o porquê que me atenho a esses assuntos com um mundo em ebulição não faltando fenômenos para serem analisados, posicionamentos a serem tomados. Já é pacifico entre os que lêem com freqüência esse blog que carrego comigo uma preocupação com a cientificidade das opiniões em relações internacionais.

Sendo franco seria muito mais fácil pra mim, e traria muito mais leitores e comentários se eu abordasse os assuntos com paixão, com afirmações categóricas, escolhendo e defendendo lados ideológicos (e acreditem os tenho, são claros para quem me ler, axiologicamente falando fazem parte do modo como abordo os assuntos e nas escolhas arbitrárias que faço que infelizmente sempre estão presentes no escopo de uma análise em ciências sociais), seria tão mais fácil viver da polêmica, ou simplesmente comentar com certa verborragia com um “sotaque” acadêmico opiniões de outros, ou repetir manchetes de jornais, mas já há muitos os que fazem isso.

Não busco esse caminho da polêmica só por querer ser diferente em um oceano de opiniões e idéias que é a internet, faço por que tenho o que costumo chamar de deferência pela minha ciência e respeito por meus leitores, assim busco opinar e analisar com bases e justificativas, aplicando um pensamento coerente com a ciência, mesmo não produzindo artigos científicos, já que esse blog, não seria mídia adequada a isso.

Essa constante busca pela meta-teórica, e pela reflexão, creio eu, é a contribuição que pretendo com esse blog, ou seja, pretendo inspirar quem estuda e pensa relações internacionais (ok, ambição meio megalomaníaca, aceito), a pensar seu próprio pensamento. Gosto de analisar temas específicos e faço com uma certa constância, mas reiteradamente me pego a pensar mais abstratamente, talvez por que por ocupação penso praticamente, então tento me aprofundar nos mistérios dos posicionamentos, meus principalmente, perante as relações internacionais.

Essa já longa justificativa me parece ser necessária para que os leitores compreendam que ao batizar o blog de coisas internacionais, tinha em mente essa abrangência, tinha em mente a liberdade de percorrer vários caminhos e correr riscos, riscos na medida em que se eu escrever algo idiota estará para sempre eternizado na internet.

Imaginava que esses assuntos mais teóricos não seriam tão interessantes aos leitores, contudo os números de acesso continuam a me surpreender positivamente. E isso reforça essa veia, mas aproveito esse tópico pra dizer que apesar de ultimamente ter havido a prevalência desses temas não abandonarei as temáticas específicas, que também, despertam minha curiosidade, como as séries em aberto como a sobre a China e África, sobre conflitos assimétricos e sobre o governo Fujimori. E outras que tenho agendadas, o que acontece, é que estou com problemas com hardware e com conexão de internet, que dificultam deverás a pesquisa competente que baliza essas séries, afinal são métodos e provas que separam uma opinião convicta e cientifica de um palpite ou achismo.

O objetivo desse post, como já está claro é explicar e justificar minha temática, não que ache que eu tenho que me explicar a vocês, ou que me sinto obrigado a justificar, mas é importante ser bem entendido e compreendido em minhas intenções.

Tenho plena ciência que muitos dos que aqui caem vindos de serviços de busca ou de links que divulgo no Orkut procuram por temas específicos, ou respostas prontas, muitos até com o objetivo de fazer trabalhos "Ctrl + C, Ctrl + V" e a proposta desse blog pode os frustrar, não quero aqui ditar o que as pessoas tem que pensar, nem que ângulos estão certos pra resolver o quebra-cabeças global, (ajudo os que tem duvidas, acerca da profissão e do curso, faço de bom grado, compartilhando minha experiência, embora não me arrogue a verdade absoluta, por isso evito nesses temas respostas categóricas) mas faço questão de incentivar o pensamento ordenado, lógico e embasado.

Um pensamento este que resulta da leitura, da compreensão, da reflexão e da auto-análise metodológica e axiológica, aquela auto-análise, que minimiza a chance de emitir opiniões baseadas em preconceitos. Isso eu faço questão de tentar incutir e é a isso que chamo de deferência pela ciência, ou seja, usar, aplicar os métodos e as teorias nas análises práticas, de fenômenos internacionais.

Todos os que escrevem ou têm seu próprio blog, ou fazem seus trabalhos universitários sabem quão gratificante e angustiante é escrever diariamente, ainda mais com objetivos tão “abusados” como os meus de produzir material relevante, mas espero (e sem delírios de grandeza) inspirar os que aqui chegam ansiando “dar um jeitinho” e achar o caminho fácil, a se apaixonarem também, pela pesquisa e pela escrita, sei que posso muitas vezes não agradar com meus temas, ou com a maneira como os abordo e saibam lido muito bem com críticas.

Lido bem por que acerto ou erro com convicção, como já disse em um post, e isso significa que acerto ou erro fazendo pesquisa, procurando pela melhor respostas e isso resulta em duas coisas que são excelentes na vida: a) Tenho convicção para defender minhas idéias de maneira equilibrada, e clara. b) Em caso de convencido que minha posição não era a correta, durante esse processo aprendo mais, melhoro meus métodos, assim não fico preso a idéias pré-definidas. Isso não é fácil, nem tranqüilo, afinal, também, tenho ego, orgulho e teimosias, mas a vontade de ser um cientista é maior que isso.

Sobre o que posto aqui, gosto muito dos textos que costumo chamar de reflexões, eles são produtos de uma tentativa de encontrar respostas, são um processo pré-hipotético, podemos dizer e nem sempre visam ter conclusões, mas sim servir de espaço pra extravasar questões diversas que rondam minha cabeça, muitas vezes esses textos são inspirados pela leitura de artigos acadêmicos, podem ser em alguns momentos até antagônicos, mas são assim pela sua própria natureza, de expor uma idéia em gestação.

Não escrevo esse blog por que me considero “O analista de relações internacionais”, “O especialista”, “O sabe tudo”. Escrevo, por que sinto que tenho algo a dizer, sobre essa ciência e essa profissão que tanto amo. Não escrevo com vistas a ter fã clubes, embora não seja nada desagradável, ler elogios. Também não escrevo pra servir de grupo de auto-ajuda a quem se arrependeu de cursar relações internacionais, nem o outro extremo, não escrevo pra alimentar ilusões utópicas sobre glamorosas carreiras internacionais. Quando perguntado, repondo com sinceridade.

É claro que há um objetivo até uma necessidade de divulgar as relações internacionais, como ciência e como campo de trabalho, escrevo muitos textos sobre isso, e por esse mesmo motivo sou membro e voluntário do Instituto Mundial para as Relações Internacionais.

Mas, sem sombra de duvida, meu principal objetivo pra escrever é individual, é pessoal, é a necessidade de me expor, de dizer o que penso, de continuar aprendendo coisas novas, de continuar atualizado mesmo afastado da academia, a continuar a minha educação, mas agora de maneira livre de obrigações forçadas por professores (parafraseando o discurso de Paulo Roberto de Almeida, em minha formatura), agora pesquiso pelo prazer de aprender e pela responsabilidade que mencionei acima e esse blog sintetiza tudo isso.

Não sei por que escrevo esse post, em pleno domingo, vai ver é a famosa nostalgia dos domingos, não fui cobrado sobre o que escrevo, mas me parece lógico e justo que eu tente explicar as razões de ser desse blog aos leitores. Espero que vocês não cansem dessas elucubrações, nem sejam repelidos pelas discussões teóricas.

Já é o segundo tópico “ombudsman” que faço, mas a idéia como sempre é provocar vocês leitores a refletirem sobre a relação aprender, entender e criar em termos de relações internacionais, não sei se chego perto de fazer isso com o mínimo de destreza, mas procuro, aspiro a isso.

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