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Reflexão sobre minhas reflexões teóricas - uma nota sobre meus limites.

Esse texto não é de maneira alguma um exercício de auto-piedade ou de busca por simpatias, ou mesmo de pedido de compreensão, ou qualquer coisa assim, tampouco um exercício de humildade (quem me conhece sabe que mesmo em face dos meus constantes esforços humildade não é uma das características que definem minha personalidade, uma pena.), mas uma tentativa de criar um diálogo sobre assuntos que apesar de parecerem aborrecidos, são vitais para a construção de um saber. Como o modelo que descrevi no post anterior seu objetivo é servir de parâmetro e diminuir ao máximo nosso próprio subjetivismo. Muitos afirmam que devemos esquecer as teorias e pensarmos na prática, vejo diferentemente são boas e bem fundamentadas teorias que nos dão bases para entender e quiçá prever com algum grau de acerto desdobramentos futuros de ações presentes.

O leitor assíduo e detalhista já deve ter percebido uma série de contradições entre minhas posições expressas em alguns textos, (algo que poderia ser chamado de caos de idéias claras. Por isso chamo esses textos de reflexões são exercícios em busca de entendimento), mas não tenham duvidas posso ser contraditório em alguns momentos, mas nunca relativista. Tenho convicções inabaláveis em matéria de fé, mas em termos de ciência sou dado à constante reavaliação (falseamento) das minhas posições, por que acredito que o eu – religioso possa ser dogmático, o eu – cientista social, tem que buscar a verdade (sim, não sou adepto da dialética em método estou mais alinhado com Popper e seu método hipotético-indutivo)

Tenho escrito muito sobre aspectos teóricos (e até enveredado pelo caminho da filosofia, meu grande amigo e professor do UniDF Carlos Nogueira deve estar se divertindo as minhas custas, logo eu que sempre brinquei com sua veia filosófica) e claro gosto muito do tema, embora tenha consciência que não sou uma autoridade em metodologia científica e tampouco meu conhecimento teórico seja enciclopédico. Sou um analista em formação, de alguma maneira avançado, mas em formação. Tento empregar minhas experiências pessoais, empíricas na busca do entendimento das relações internacionais como um todo, embora seja um profissional de uma parte ínfima das mesmas.

Do ponto de vista profissional não sou um pesquisador, professor, sou um analista, consultor, faço pesquisas, utilizo métodos, mas não objetivo solucionar problemas da ciência e sim os problemas dos meus clientes. Assim dedico muito do meu tempo a investigação de métodos que me permitam entender os mercados internacionais, os mecanismos de venda, técnicas de negociação, técnicas de identificação de intenções de atores envolvidos nos projetos dos meus clientes entre outras coisas que tem se convencionado chamar de diplomacia empresarial, ainda escreverei sobre isso (posso dizer, no entanto que a interdisciplinaridade do curso vista por muitos como defeito no mercado é o que me permite fazer o que faço). Ou seja, eu vivo o mundo do comércio internacional e do comércio exterior, mas como Carr acredito que a atuação em coisas internacionais, pode sim trazer ao analista benefícios. Afinal de certa forma eu vejo como aspectos teóricos ganham vida, principalmente aspectos marginais e pouco ‘formalizados’ como a cooperação interestatal, a atuação de entes subnacionais e transnacionais, bem como de cidadãos. Todos esses aspectos enumerados nas formulações teóricas, mas sem relações e explicações normativas, todos sabemos que a cooperação, por exemplo, ainda mantêm o chamado debate inter-paradigmático vivo.

Sou sim partidário daquele grupo de analistas que influenciados por Holten, Kuhn e outros acredita que um novo debate é necessário para o avanço das TRI, nas palavras de Rafael Grasa e Oriol Costa* (Membros do IBEI – Instituto Barcelona de Estudos Internacionais) “In effect, a discipline with a strong mainstream, which, in the language of Kuhn, is a discipline that seeks to develop as a normal science as opposed to being constantly subjected to scientific revolutions, needs vigorous analytical debates that are supported by work on the phenomenic, while the latter must have theoretical projection.”

Noto na bibliografia, em especial, a nacional um direcionamento para o eixo fenomênico alguns até com um grau interessante de análise desses fenômenos específicos, mas não vejo um esforço teórico na mesma intensidade, contudo sou otimista (mesmo tendo pitadas hobbesianas, outro paradoxo) creio que o esforço analítico feito em prol das investigações fenomênicas acabará por criar mecanismos e métodos que possam apontar para criações teóricas novas, com alguma originalidade.

Creio que avanços devem ser sempre objetivados ainda mais no campo dos ferramentais analíticos que possam, por exemplo, identificar e explicar a contento os aspectos marginais que descrevi acima sem ter que recorrer aos esquemas da Teoria dos Jogos, que embora tenha contribuído na construção da cientificidade nas relações internacionais (introduzindo métodos quantitativos e questões interessantíssimas acerca da escolha racional e da própria racionalidade dos atores). Tem seu alcance explicativo diminuto e existem como citam muitos autores provas empíricas que nem sempre a cooperação se dá no âmbito do famoso Dilema do Prisioneiro.

A questão que proponho vira e mexe nesse blog é muito mais ampla que tentar dizer como tal teoria vê tal fenômeno internacional, e sim a questão de como nós mesmo nos vemos (não sugiro uma análise psicológica ou neurológica, mas ontológica, a epistemológica e axiológica). Sugiro uma coisa incomoda e nem sempre fácil, na verdade quase sempre difícil que é deixar a zona de conforto. Que é pensar no sentido mais amplo e ao mesmo tempo profundo da palavra.

Uma coisa é certa tenho muitas incertezas no que tange os aspectos teóricos das relações internacionais e muito resta por ser explicado pela teoria. Há de se louvar, no entanto, o trabalho de todos que se aventuram a analisar as relações internacionais cientificamente abandonando paixões, aos que formulam e executam políticas (mesmo sem contar com marcos teóricos mais abrangentes e confiáveis), aos que se dedicam a operacionalizar as relações internacionais seja no âmbito governamental, privado com ou sem fins lucrativos que trabalham garantindo que tudo corra da maneira mais tranqüila, àqueles que se dedicam a levantar e pormenorizar a história que com seu laborioso trabalho cientifico muitas vezes lidando com documentos empoeirados em salas subterrâneas nos dão dados vitais para compreender a própria essência das relações internacionais. Louvo e respeito a todos que empreendem o esforço, por vezes hercúleo, de tentar decodificar o mundo, dissipar preconceitos, aumentar a confiança e executar ações que efetivamente nos levam em rumo da cooperação, da atração de IED, do comércio.

Resumidamente, não sei o que quero com essas reflexões, na verdade sei sim o que quero. Quero aprender, quero me expressar, quero dialogar e crescer intelectualmente, esse blog assim é fruto de um chamado ao autodidatismo que devemos nutrir nesse campo. Esse blog me obriga a pesquisar a analisar assuntos tão diversos, posso resumir como sendo uma catarse cognitiva, mas isso é uma digressão... Mais uma digressão. Reitero o objetivo desse blog e desse texto é pensar, nem sempre preso pelo rigor auto-imposto pelo método cientifico.

Voltarei às análises habituais nesse espaço. Mas as reflexões teóricas, também, voltarão. Sei que posso ter escrito besteiras, mas se o fiz foi por ignorância, então me alertem dos erros aqui presentes desde que fundamentem e apontem caminhos e bibliografias.

Espero não estar matando meus leitores de tédio.
_________________
*GRASA, Rafael e COSTA, Oriol. Where Has the Old Debate Gone? Realism, Institutionalism and IR Theory. In IBEI WORKING PAPERS. February. CIDOB edicions Barcelona, 2007. disponível em: http://ssrn.com/abstract=965758

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