Como acompanha o leitor assíduo desse blog, tenho uma preocupação constante com o pensar relações internacionais como objeto cientifico, o pensar e refletir as teorias tendo como objeto as próprias teorias, não buscando identificar o que é o cerne da interpretação de cada corrente, (sejamos honestos, os livros e artigos dos teóricos que as propõem o fazem com maestria e qualquer repetição aqui seria um pendulicário inevitavelmente vazio), mas sim o entendimento sobre a própria natureza da teoria, seus limites e principalmente sua aplicação prática ao construir uma análise.
Sei que esse tema é repetitivo aqui no blog e que teria muito mais leitores se engendrasse uma polêmica ou análise contundentes (e fatalmente parciais) das relações internacionais e acreditem gosto muito do exercício da análise internacional (tanto que o faço como profissão), contudo temos que pensar sobre esses temas “áridos” da meta-teoria, como bem diz em uma tese do CEBRI, intitulada relações internacionais atores e agendas o competentíssimo Professor Antonio Jorge Ramalho da Rocha (com quem tive a honra de trabalhar junto em mais de uma ocasião, mas sem humildade excessiva ele é mais um dos que não deve lembrar-se de mim, se não por características físicas). Nesse texto ele parte de outro ponto e outro tipo de abordagem para propor a mesma reflexão sobre a validade do saber cientifico, como ele é construído, como se valer desses conceitos, como se deram os debates. Recomendo muito a leitura desse texto que está disponível para download gratuito no site do CEBRI.
Não que eu não tenha apreço por outras áreas de investigação pelo contrário sou fascinado pelas pesquisas sobre comércio internacional, regras desse sistema, seu funcionamento e etc. Mas quem nunca se deparou com o desafio de tentar compreender por que não há uma teoria abrangente com origem na academia brasileira? E um dos muitos fatores que constroem a resposta a essa perguntam passam necessariamente pela reflexão meta-teórica.
A importância dessa reflexão reside na multiplicidade teórica e interpretativa das relações internacionais, ou seja, deriva da coexistência de modelos contrastantes de explicação do fenômeno que embora falseados pela metodologia do Popper, continuam a prosperar sustentados na subjetividade que é inerente ao fenômeno internacional. Não sou de qualquer maneira um teórico das relações internacionais, sou um estudante esforçado dessa ciência (e um bom analista de alguns de seus sub-temas) tenho a consciência que ainda faltam pelo menos de 15 a 20 anos de estudo e dedicação antes que possa me arrogar qualquer lugar no mapa cientifico das RI.
Um analista internacional que se veja como um cientista deve constantemente se auto-avaliar, não de um modo inseguro de quem não tem certeza de cada passo que toma, ou como um indeciso, mas sim com o espírito da humildade dos que sabem que a ciência e conhecimento se fazem com base no rigor e na aceitação de novos postulados que superem os antigos em poder de explicação e obviamente sustentados empiricamente.
Nesse sentido se apresentam alguns desafios para um analista como manter a coerência lógica interna de sua análise e a coerência lógica externa (aquela que o liga a uma ou outra estirpe de pesquisadores, ao que os filósofos do conhecimento chamam, de comunidade cientifica), uma vez que nenhum modelo apresenta uma explicação abrangente e exaustiva de um fenômeno, somos obrigados a usar conceitos que nascem de teorias distintas e aí reside o perigo da inconsistência e incoerência interna, ou seja, devemos ser atentos aos nossos eixos analíticos e mais na busca de coerência externa devemos aplicar o mesmo cuidado e método na escolha do referencial, ou seja, devemos também conhecer como foram construídos os conceitos que pretendemos usar e não só seu ‘DNA’ filosófico, ou político, mas até mesmo a axiologia (as escolhas pessoais e preconceitos dos pesquisadores que formularam o conceito).
Muitos são os conceitos que têm como pano de fundo as agendas dos pesquisadores e dos países de onde vêm e ai vemos a razão de enfoques variados em questões de poder, legitimidade, sistemas internacionais e soberania. E inclusive já escrevi sobre isso e apontei alguma bibliografia sobre o assunto.
É comum vermos principalmente na imprensa pretensos analistas que constroem suas carreiras embasadas em referenciais que embora expliquem o fenômeno internacional, não são instrumentais científicos, justamente por não terem um corpo teórico definido nem tem uma argumentação que possa ser validada cientificamente, pelos processos que vocês todos conhecem e que, também, descrevi de maneira superficial, admito, em posts anteriores.
O que eu quero com esse post? Apenas uma coisa, muito simples, meus amigos analistas internacionais. Sejamos críticos e criteriosos, sejamos cientistas, que tenhamos cuidado com nossas fontes, com nossos conceitos e com nossas análises, assim com um esforço pessoal de aperfeiçoamento avançamos toda a ciência, assim com esforço pessoal dos consultores avançamos todo o setor de consultoria em relações internacionais. Enfim tratemos nossa ciência com a deferência que a ciência necessita.
A cautela que proponho não é covardia ou desprezo pelo novo, mas sim o uso do discernimento e dos métodos de análise. Proponho que não aceitemos “carteiradas” intelectuais, que não deixemos a mídia nos embaçar, que mantenhamos nossa capacidade analítica, pois somos todos responsáveis por difundir e aprofundar o exercício das relações internacionais não obstante quais vertentes de empregabilidade seguimos.
Ok, isto está parecendo um manifesto, uma declaração de normas de condutas. Detesto isso, sério mesmo, é só uma sugestão, uma reflexão desejo mesmo que todos os meus leitores se juntem a mim nesse difícil mais prazeroso exercício de pensar, ai incluso o pensar o pensar.
Deixo uma ultima provocação com vistas a gerar uma reflexão, leiam o trabalho já citado, nosso conhecimento cientifico é uma forma de construir saber, mas não tenhamos a arrogância de supor que só essa construção explica o mundo, existem outras formas, a vantagem da analise cientifica está em seu método, seja uma analise acadêmica, seja uma consultoria, quando feita com bases sólidas é bem provável que seja mais eficiente em alcançar a contento o seu propósito.
Sei que esse tema é repetitivo aqui no blog e que teria muito mais leitores se engendrasse uma polêmica ou análise contundentes (e fatalmente parciais) das relações internacionais e acreditem gosto muito do exercício da análise internacional (tanto que o faço como profissão), contudo temos que pensar sobre esses temas “áridos” da meta-teoria, como bem diz em uma tese do CEBRI, intitulada relações internacionais atores e agendas o competentíssimo Professor Antonio Jorge Ramalho da Rocha (com quem tive a honra de trabalhar junto em mais de uma ocasião, mas sem humildade excessiva ele é mais um dos que não deve lembrar-se de mim, se não por características físicas). Nesse texto ele parte de outro ponto e outro tipo de abordagem para propor a mesma reflexão sobre a validade do saber cientifico, como ele é construído, como se valer desses conceitos, como se deram os debates. Recomendo muito a leitura desse texto que está disponível para download gratuito no site do CEBRI.
Não que eu não tenha apreço por outras áreas de investigação pelo contrário sou fascinado pelas pesquisas sobre comércio internacional, regras desse sistema, seu funcionamento e etc. Mas quem nunca se deparou com o desafio de tentar compreender por que não há uma teoria abrangente com origem na academia brasileira? E um dos muitos fatores que constroem a resposta a essa perguntam passam necessariamente pela reflexão meta-teórica.
A importância dessa reflexão reside na multiplicidade teórica e interpretativa das relações internacionais, ou seja, deriva da coexistência de modelos contrastantes de explicação do fenômeno que embora falseados pela metodologia do Popper, continuam a prosperar sustentados na subjetividade que é inerente ao fenômeno internacional. Não sou de qualquer maneira um teórico das relações internacionais, sou um estudante esforçado dessa ciência (e um bom analista de alguns de seus sub-temas) tenho a consciência que ainda faltam pelo menos de 15 a 20 anos de estudo e dedicação antes que possa me arrogar qualquer lugar no mapa cientifico das RI.
Um analista internacional que se veja como um cientista deve constantemente se auto-avaliar, não de um modo inseguro de quem não tem certeza de cada passo que toma, ou como um indeciso, mas sim com o espírito da humildade dos que sabem que a ciência e conhecimento se fazem com base no rigor e na aceitação de novos postulados que superem os antigos em poder de explicação e obviamente sustentados empiricamente.
Nesse sentido se apresentam alguns desafios para um analista como manter a coerência lógica interna de sua análise e a coerência lógica externa (aquela que o liga a uma ou outra estirpe de pesquisadores, ao que os filósofos do conhecimento chamam, de comunidade cientifica), uma vez que nenhum modelo apresenta uma explicação abrangente e exaustiva de um fenômeno, somos obrigados a usar conceitos que nascem de teorias distintas e aí reside o perigo da inconsistência e incoerência interna, ou seja, devemos ser atentos aos nossos eixos analíticos e mais na busca de coerência externa devemos aplicar o mesmo cuidado e método na escolha do referencial, ou seja, devemos também conhecer como foram construídos os conceitos que pretendemos usar e não só seu ‘DNA’ filosófico, ou político, mas até mesmo a axiologia (as escolhas pessoais e preconceitos dos pesquisadores que formularam o conceito).
Muitos são os conceitos que têm como pano de fundo as agendas dos pesquisadores e dos países de onde vêm e ai vemos a razão de enfoques variados em questões de poder, legitimidade, sistemas internacionais e soberania. E inclusive já escrevi sobre isso e apontei alguma bibliografia sobre o assunto.
É comum vermos principalmente na imprensa pretensos analistas que constroem suas carreiras embasadas em referenciais que embora expliquem o fenômeno internacional, não são instrumentais científicos, justamente por não terem um corpo teórico definido nem tem uma argumentação que possa ser validada cientificamente, pelos processos que vocês todos conhecem e que, também, descrevi de maneira superficial, admito, em posts anteriores.
O que eu quero com esse post? Apenas uma coisa, muito simples, meus amigos analistas internacionais. Sejamos críticos e criteriosos, sejamos cientistas, que tenhamos cuidado com nossas fontes, com nossos conceitos e com nossas análises, assim com um esforço pessoal de aperfeiçoamento avançamos toda a ciência, assim com esforço pessoal dos consultores avançamos todo o setor de consultoria em relações internacionais. Enfim tratemos nossa ciência com a deferência que a ciência necessita.
A cautela que proponho não é covardia ou desprezo pelo novo, mas sim o uso do discernimento e dos métodos de análise. Proponho que não aceitemos “carteiradas” intelectuais, que não deixemos a mídia nos embaçar, que mantenhamos nossa capacidade analítica, pois somos todos responsáveis por difundir e aprofundar o exercício das relações internacionais não obstante quais vertentes de empregabilidade seguimos.
Ok, isto está parecendo um manifesto, uma declaração de normas de condutas. Detesto isso, sério mesmo, é só uma sugestão, uma reflexão desejo mesmo que todos os meus leitores se juntem a mim nesse difícil mais prazeroso exercício de pensar, ai incluso o pensar o pensar.
Deixo uma ultima provocação com vistas a gerar uma reflexão, leiam o trabalho já citado, nosso conhecimento cientifico é uma forma de construir saber, mas não tenhamos a arrogância de supor que só essa construção explica o mundo, existem outras formas, a vantagem da analise cientifica está em seu método, seja uma analise acadêmica, seja uma consultoria, quando feita com bases sólidas é bem provável que seja mais eficiente em alcançar a contento o seu propósito.
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