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Revisitando uma análise sobre Hugo Chávez

Em 23 de março de 2007 publiquei um post sobre o que eu analisava sobre a figura do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acho pertinente o re-editar. O tripé que identifico creio estar evidenciado, por fatos posteriores. Ah, sim aproveitei para corrigir alguns deslizes lingüísticos que escapam (ainda não fiz a transição para o novo acordo ortográfico)
Breve análise sobre Hugo Chávez

Hugo Chávez é uma figura polemica capaz de suscitar pela simples menção de seu nome uma série de paixões e opiniões muitas delas aparentemente retiradas do século XX direto da lógica do enfrentamento comunismo-capitalismo, nesse post o assunto é abordado de maneira superficial, contudo contendo elementos de análise corroborados por teorias políticas e das relações internacionais.


Hugo Chávez é um homem que se mostra desejoso de manter o poder, isso fica evidenciado pelas constantes alterações das regras do jogo eleitoral visando sua perpetuação, não obstante as vitórias terem a aparente legalidade democrática alguns pontos que serão analisados mais a baixo pões em cheque essa assertiva. Chávez está construindo uma base legitimadora de sua permanência perpétua no poder com base no tripé (foi o que consegui identificar até agora): anti-imperialismo, personalismo e ingerência (ou exportação da Alternativa Bolivariana).

Anti-imperialismo é compreendido aqui como a luta retórica (já q nada na prática é feito) contra o poderia hegemônico no continente, é usada na verdade para criar uma base justificadora e protetora de seu regime, ao levantar uma bandeira que oferece um inimigo, uma razão de ser para sua existência política, esse inimigo é um fator de coesão interna e de atração de admiradores externos (principalmente nos locais onde o antiamericanismo está em alta), o que se observa por meio da manutenção da venda de petróleo e da permanência de empresas norte-americas na Venezuela é que no campo do enfrentamento prático não há e nem tem sido demonstrada desejo de contrabalançar a presença americana na prática. Tem se resumido ao campo da diplomacia do discurso os atos anti-americanos do Líder da alternativa bolivariana, claro que alguns interesses norte-americanos tem sido contrariados na Venezuela e algumas atitudes prejudicaram transnacionais, mas nada comparável a escala agressiva dos (constantes, diga-se de passagem) discursos de Chávez. O que nos mostra que a vontade é pelo enfrentamento retórico num discurso desligado da prática, portando vazio.

Personalismo não é velado ele se coloca na posição de sucessor de Bolívar de "libertador da América", uma prática comum em regimes que baseiam em líderes carismáticos isso aliado a discursos fortes induz a base da população a admirar o homem que enfrenta o “diabo”, logo o convertendo em uma espécie de salvador augusto da pátria, e isso gero um forte culto a sua personalidade que serve ao propósito de eliminar o jogo democrático e o livre exercício da oposição mesmo não sendo institucional há uma censura de origem popular (e não coibida pelo estado, até incentivada) pronta para denunciar agentes do “império” ou “neoliberais”. A isso se alia a ideologia de caráter marxista da opção bolivariana a qual se manifesta na quebra das instituições "burguesas”, ou seja, o jogo democrático é substituído pela bajulação partidária em troca de benefícios e isso também se reflete na administração da justiça assim mesmo havendo formalmente separação de poderes não o há na prática já que faltam de instituições autônomas tudo depende do poder central pra funcionar. O que o transforma em sucessor de Bolívar, ou seja, pai da pátria e do povo.

A ingerência é a face internacional da comparação a Bolívar já que conceitualmente evocar Bolívar é evocar um pan-americanismo ancestral. Isso justifica expansão da influencia bolivariana e, por conseguinte a recente e amplamente divulgada pelos meios de informação, interferência de Chávez nas eleições da América Latina (mesmo sendo somente por discurso, mesmo havendo quem defenda que também houve distribuição de dinheiro). Isso o torna um campeão da esquerda latina um revolucionário, um exemplo que coopta jovens idealistas para sua causa (e “ativistas hollywoodianos” como Sean Pean) emprestando legitimidade internacional a esse regime.

Creio que Chávez construiu uma ideologia com a função de justificar sua permanência no poder e até que ocorra a derrota do inimigo “yanke” essa ideologia o caracteriza como líder de uma revolução sempre prestes a ocorrer. Esse é o gênio desse regime atribuir a si a imagem de libertador e campeão das causas sociais e anti-imperiais, quando na verdade é um regime unicamente motivado pela permanência no poder justificado nas ilusões de igualdade social, solidariedade bolivariana e fim dos egoísmos cruéis do capitalismo e isso só vai gerar um sistema de amigos do rei, e plebe. Contudo, revestido do sonho dourado(Reinaldo Azevedo chamaria isso de pedigree de esquerdista) da luta por um mundo melhor. E pior ainda com muita justificativa teórica amplamente divulgada pelos meios universitários, mas sem nenhuma conexão com a prática, já que é torpe na origem, pois surgiu da manipulação de correntes de pensamento legítimas cooptadas para servir a desejos ditatoriais.

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