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Relações sino-africanas – III

Nesse post avaliaremos números gerais do fluxo monetário entre China e Africa vital para o entendimento da Política Africana da China, já que essa estratégia se sustenta em cooperação técnica, fluxo comercial e fluxo monetário. A parte anterior desse post está aqui.

Como na série sobre o Acordo sobre Agricultura a intenção da divisão é facilitar a leitura nesse sentido reproduzo gráficos que ilustram bem as trocas financeiras.

Fluxo Financeiro

Assistência financeira Oficial e Dívida Externa Africana.

Oficialmente a China assume a posição de que sua Assistência financeira não está atrelada a condições especiais ou privilégios seus mecanismos são transferências unilaterais, empréstimos sem cobrança de juros, e empréstimos com juros subsidiados. Com a possibilidade de re-negociação dos prazos dos empréstimos. Os projetos enfocados são no campo da cooperação técnica, na agricultura, treinamento e qualificação de africanos na China, ações humanitárias como construção de hospitais rurais, escolas, projetos habitacionais, projetos esportivos, bibliotecas e construção de prédios públicos e projetos de infra-estrutura.

As transferências unilaterais chinesas para a África datam do inicio das relações diplomáticas entre os países da região e o gigante asiático atingindo o valor estimado de USD$ 5,7 bilhões, divididos em mais de 800 projetos. (HE, 2006)

Segundo estimativas mais conservadoras o fluxo de ajuda chinesa gira em torno de USD$ 1,5 bilhões por ano (descontando o valor da mão-de-obra na assistência técnica), que mostra uma evolução significativa entra a média de USD$ 310 milhões entre os anos de 1989-1992. (TAYLOR, 1989)

A partir dos compromissos assumidos na criação do FOCAC, o governo chinês se comprometeu, em 2000, a perdoar o equivalente a USD$ 1,3 bilhões distribuídos em 156 em contratos vencidos. Em 2006, por ocasião da nova política africana, um compromisso de perdão adicional de USD$ 1,3 bilhões, para os 33 países mais endividados até 2007, 22 deles já haviam chagado a um acordo com o governo de Pequim.

Investimento Estrangeiro Direto (IED – FDI)

O investimento direto chinês na África, de acordo com que o bureau de estatísticas da China relata que o montante em investimentos foi da ordem de USD$ 392 milhões, no ano de 2005.

Outras fontes, também, do governo chinês, contudo, apresentam números contrastantes e significativamente maiores o Ministério do Comércio da China

Há um fluxo de investimentos africanos na China, principalmente da empresas sul-africanas, que tem experiência em exploração de minérios, celulose e produtos de consumo.


Atuação dos bancos chineses

Banco Chinês de Exportação e Importação, (China Exim Bank)

Atua tanto como financiador das exportações chinesas como banco responsável pelas transferências, uma vez que a China não tem uma agência especializada, como a USAID, por exemplo.



Figura retirada de WANG, (2007, p. 14).


Banco de Desenvolvimento Chinês (CDB)

Criado em 1994 com vistas a investir em grandes projetos de infra-estrutura e de indústrias vitais como petroquímicas e oleodutos. O CDB, também, trabalha com créditos a indústria chinesa, e tem sido um instrumento para operacionalizar a Ajuda Externa da China no continente africano. Como o China Exim Bank, o CDB se vale de securitização dos seus contratos de longo prazo como forma de captação de fundos no mercado (ou seja, altamente exposto a atual crise financeira global).

Corporação Chinesa de Seguros e Exportação (SINOSURE)

Empresa seguradora dos projetos de capital de risco das empresas chinesas oferecendo apólices que cobrem contra riscos tais como nacionalizações, risco-país, inadimplência dos importadores, restrições de remessa de capital. Sendo que 30% dos seguros de médio e longo prazo do SINOSURE são para África.

Figura retirada de WANG, (2007, p. 16).

Os 4 grandes bancos, também estão presente no continente africano, são eles: Banco comercial e industrial, Banco da China, Banco da Construção e Banco da Agricultura, todos eles financiando projetos executados por empreiteiras chinesas na África ou projetos industriais chineses.

Bancos privados e bancos ligados as províncias chinesas, também, atuam no continente, contudo de maneira menos subordinada a Estratégia Chinesa para África expressa no documento a Política Africana da China.

No próximo post da série abordaremos a política supracitada, analisaremos o modelo de parceria comercial da China com a África, algumas considerações gerais sobre os porquês da ação chinesa e o impacto da crise mundial sobre essas relações já que vimos que os bancos chineses usam da captação monetária por meio de lançamento de títulos (bonds).

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