Pular para o conteúdo principal

Relações Sino-Africanas - I

Ao proceder ao rotineiro giro pelos jornais e agências de noticias me deparei com uma noticia que ensejou, escrever uma analise sobre as relações África e China. A notícia que despertou meu interesse foi à negativa do governo Sul-Africano de visto de entrada para o Dalai Lama por ocasião de uma conferência sobre Paz, evento para promover a Copa do Mundo, de 2010. (Para saber mais, clique aqui)

Há muito que é noticiado há crescente influencia da China, no continente africano, essa negativa, por parte do governo sul-africano é mais uma mostra dessa influência. Nesse post, vamos analisar como se dá a ação chinesa nesse continente, sua natureza, e suas estruturas. Evitaremos, contudo, análises que levem em conta questões relativas a Direitos Humanos e questões problemáticas como Darfur, que futuramente serão abordadas.

Nesse sentido, analisaremos as relações econômicas e comerciais, é preciso salientar que há uma dificuldade de encontrar estatísticas consolidadas e metodologicamente consistentes, sobre essas relações por isso muito dos números que serão apresentados tem uma defasagem cronológica. Esta análise será estruturada de forma a demonstrar os princípios manifestos da política chinesa para a África, os fluxos comerciais e financeiros, o papel dos bancos públicos chineses, os atores privados (ou de capital misto, na china está cada vez mais complexo definir stakeholders).

No intuito de facilitar a leitura essa analise será divida em vários posts interligados, com o mesmo titulo.

Breve Histórico

As relações sino-africanas são inauguradas em 1956, quando começam as relações diplomáticas no esteio da descolonização subordinado é claro a particularidade da guerra fria.

A China, durante os anos de 1950 enfrentou crises gravíssimas resultantes do “grande salto adiante” que começa em 1958, em decorrência do qual se estima que 30 milhões de chineses tenham perdido a vida. Outra conseqüência atribuída ao fracasso desse plano é o rompimento de relações entre Pequim e Moscou.

A convulsão social resultante e disputas partidárias no seio do Partido Comunista Chinês eclodem em um movimento chamado “Revolução Cultural” em 1966, que em muito se parece com os expurgos stalinistas. A revolução cultural fortalece a presença e a imagem de Mao Zedong e a China adota uma política isolacionista até que a morte de Mao abre caminho para a volta Deng Xiaoping a política chinesa, e eventualmente esse se torna o líder máximo da nação, em 1976, empreendendo reformas como a criação de Zonas Econômicas Especiais, onde empresas estrangeiras passaram a se instalar, abriu relações com ocidente, sendo o primeiro líder comunista chinês a visitar os EUA, em 1979. Atribuí-se a abertura econômica de Deng Xiaping o florescimento do chamado “socialismo de mercado”, que caracteriza a China atual, o mais importante dos chamados países emergentes.

No Front africano esse período é bastante conturbado com seguidas guerras após as independências, guerras essas que resultam de animosidades étnicas, religiosas, e da ação indireta das duas superpotências em busca de ampliar suas zonas de influencia. A tônica do continente tem sido marcado por governos autocráticos e particularmente cruéis em seus meios coercitivos e em seus combates, sendo comum relatos de mutilação de civis, alistamento de menores, estupros entre outros tipos de violência. Contudo, qualquer generalização sobre um continente enorme como a África esta fadada ao simplismo e ao erro.

Fórum de Cooperação Sino – africano

O Fórum de Cooperação Sino – africano, doravante tratado por sua sigla, em Inglês, FOCAC, surge em 2000, como um marco de maior regularidade e institucionalidade nessas relações a partir de uma ótica sul-sul. Suas principais características são o pragmatismo da cooperação, e a lógica dos benefícios mútuos (win-win).

Em 2006, a China assumiu novos compromissos que estão explicitados em um documento intitulado “Política Africana da China” dividido em seis partes esse documento é a manifestação das intenções declaradas da China em relação ao continente africano, entre os vários compromissos assumidos estão à busca pelo desenvolvimento sustentável do comercio, cooperação técnica, notadamente na agricultura, investimentos diretos (FDI), créditos preferências, transferências unilaterais e perdão de dividas externas, dos países menos desenvolvidos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...