Hoje inauguro uma nova seção desse blog, em que dúvidas que me chegam por e-mail são esclarecidas, ou pelo menos tento esclarecê-las. É muito bom saber, que existem leitores para esse blog o que me incentiva ainda mais a continuar com esse esforço.
Quando decidi colocar o link para responder as duvidas dos que desejam cursar relações internacionais, tinha consciência que questões difíceis iriam chegar. Quem acompanha a comunidade relações internacionais no Orkut. Sabe o quanto o assunto empregabilidade gera controvérsias. Recebo um relato de uma jovem estudante de São Paulo (vou suprimir seu nome para preservar a sua identidade), o resto transcrevo como chegou.
O e-mail me chegou com o titulo “Info. R.I. please help me”
“Olá.. Eu sou a [...] estou no segundo semestre de RI na [...] em São Paulo.
Escolhi RI, pois primeiramente me identificai muito com a grade do curso(Ciência Política, Ciências sociais, Economia, Política externa, História etc).. Além disso por ser um curso "diferente".. pois antes de começar a faculdade de RI, pensei em fazer comércio exterior.. mas vi que era mto focado em importação e exportação.. e aí quando conheci RI, me apaixonei!.. No primeiro semestre foi tranquilo, lógico que bateu algumas dúvidas da minha escolha, mas foi tudo passageiro.O fato é que nesse segundo semestre tenho uma professora que está começando a "desmascarar" de certa forma, o curso de RI em relação ao mercado de trabalho. Diz ela que a nosso curso surgiu da seguinte maneira: Ciências Sociais --> Ciência política --> Política externa.. e depois R.I. . Tudo bem está certo, mas ela fica dizendo e meio que desanimando a gente, que o mercado de trabalho para essa área é escasso, por exemplo nas empresas, é preferível que contratem um economista, sociólogo, etc. que estudou a fundo, do que um internacionalista, que viu apenas "tudo por cima". E também diz que a faculdade de R.I. não é tão reconhecida internacionalmente, diz ela que na europa, mais precisamente Inglaterra, não há um curso superior com o nome de RI.. existe um outro nome nao me lembro bem mas é algo assim: ciencia politica externa em negociações. Ou seja, um internacionalista não tem uma identidade ainda, como disse o meu prof. de ciencia política no primeiro dia de aula, " muita gente pensa que RI é como uma salada de frutas, mas na verdade um bom internacionalista pega essa salada de frutas bate no liquidificador e tem uma vitamina".. ele quis dizer que temos que criar uma identidade no mecado(grande desafio), que a salade de frutas seria a variedade de assuntos que estudamos, e que a vitamina seria a integração de todas esses uns com os outros. Nesse momento estou a procura de um estágio, mas já estou sentindo muita dificuldade, não encontro quase nada. Tenho me preocupado mto msmo! Desistir do curso, nem pensar, tudo que eu começo vou até o fim. Eu quero trabalhar em uma empresa multinacional como uma analista internacional, ou na área financeira como em bancos internacionais. Outra opção seria o governo também e ONGs. Gostaria que me dissesse o que pensa sobre tudo isso, e como eu posso encontrar um estágio que me encaminhe a tais áreas desejadas, e o que devo dizer em entrevistas de emprego sobre o diferencial e a versatilidade de um internacionalista.
Muuuiiito Obrigaaada! [...] de [...]”
Vou me ater aos pontos principais de suas indagações. Mas, lembre-se não sou a grande autoridade nesse assunto, tenho alguma experiência é verdade. Vou responder suas questões, começando pela ultima.
Vou me ater aos pontos principais de suas indagações. Mas, lembre-se não sou a grande autoridade nesse assunto, tenho alguma experiência é verdade. Vou responder suas questões, começando pela ultima.
O que eu penso sobre isso?
Bom [...] eu vivi uma experiência muito parecida com a sua no sentido que a incerteza sobre a empregabilidade foi sempre uma certeza (se permite o vulgar jogo de palavras). Ainda mais nos primeiros semestres quando encontrava informações destoantes por parte dos meus veteranos uma parte totalmente apaixonada pelo curso e esperançosa e outra parte cética e desestimulada pela carreira. E pelos mesmos motivos que você aponta. Alias, muitos foram os colegas de turma que capitularam diante dessa pressão.
Eu me mantive na linha dos esperançosos céticos por assim dizer, não conseguia ver aplicação prática do que aprendia, não conseguia me ver fazendo alguma coisa. Até que fiz meu estágio na ACDF [Por sinal o texto da parte de comércio exterior ainda é o que escrevi] e aquilo abriu meus olhos para uma possibilidade de empregabilidade que a de ser um executivo de assuntos internacionais, explico. Com a nossa formação genérica somos habituados a conviver com correntes de expressão e de idéias distintas, somos acostumados a pensar de forma crítica e estruturada, somos muito acostumados a buscar e absorver informações complexas muito rapidamente.
Isso nos torna (de maneira geral) bons tomadores de decisão, pessoas que rapidamente consideram vários ângulos e conseguem lidar com muitas tarefas simultâneas e distintas o famoso 'multitasking’. (pra mim, isso é um subproduto da formação genérica e multidisciplinar, afinal por várias vezes temos semestres inteiros de matérias muito pouco relacionadas entre si, a não ser pela capacidade de abstração pra ver a unidade).
Por motivos que qualquer hora eu abordarei aqui a vida me levou a ser empreendedor e ser consultor (mesmo que ainda com poucos clientes).
[...] você mora em uma cidade com excelentes oportunidades que é São Paulo, não dá pra comparar com Brasília (onde estudei e me formei), onde fora da iniciativa pública e embaixadas (que não deixa de ser iniciativa pública) não há muito campo pra estagiar. Você ainda está no segundo semestre e é muito difícil conseguir estágio antes do quarto semestre. Então ainda há esperança.
O mercado de trabalho
Não se iluda quanto ao mercado de trabalho em relações internacionais ele é restrito e difícil. Não há muitas ofertas de vagas e há ainda muito desconhecimento acerca do curso, o que não é ajudado pela amplitude de enfoques das universidades que não forma uma cultura.
Isso posto há maneiras de atenuar essas dificuldades a primeira e mais óbvia é buscar por uma ‘profissionalização’ por meio de pós graduações mais aplicáveis (marketing, comércio exterior, câmbio, logística e por ai vai). Outro caminho, também um tanto claro é buscar pelos programas de ‘treinee’. Muitos dizem que nesses programas há preconceitos com graduados em rel (RI), mas eu conheço muitos que foram aprovados e efetivados ao término do programa. Em breve pretendo publicar algumas entrevistas com esses profissionais para partilharem com mais detalhes suas histórias.
Área financeira de bancos em geral contratam economistas, entretanto conheço muitos casos de graduados que trabalham nessa área, nesse sentido um grande amigo meu, e tremendo pesquisador foi funcionário de um banco em Brasília, por alguns anos e sua capacidade cognitiva que já descrevi antes o levaram a galgar rapidamente postos na hierarquia do Banco.
Posso te recomendar o seguinte, procure cursos (tipo da aduaneiras, a FIRJAN, o CDE - Centro de Diplomacia Empresarial, entre outros) mais profissionalizantes para ir reforçando seu currículo, se sua universidade oferecer, busque a empresa jr, enfim enfrente a dificuldade se preparando, inclusive mentalmente e se mantenha alerta e aberta para as oportunidades, agente nunca sabe onde nossa carreira nos levará, leia muito, se espera de nós, em geral, muita cultura.
Em entrevistas você pode usar a multidisciplinaridade do curso em seu favor, seja altiva, vale muito a ‘vibração’ que você passa.
Tenha força, fé (em Deus se for seu caso, e em você) e se prepare, pois não será fácil, mas é maravilhoso fazer o que gosta.
Meus votos de sucesso e, por favor, continue visitando, são vocês leitores a razão de ser desse blog.
Comentários
me ajudou bastante.