No primeiro capítulo do seu célebre (e clássico) livro “A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz” de Hans J. Morgenthau ao explicar o quarto ponto do realismo político em Relações Internacionais o referido autor diz textualmente: “O realismo sustenta que os princípios morais universais não podem ser aplicados às ações do Estado em sua formulação universal abstrata, mas que devem ser filtrados, por meio das circunstâncias concretas de tempo e lugar. O indivíduo pode dizer “Fiat justitia, pereat mundus” (Que se faça justiça, mesmo que pereça o mundo), mas o Estado não tem o direito de fazer o mesmo em nome daqueles que estão aos seus cuidados.” (MORGENTHAU, p 20) Esse trecho me suscitou um questionamento quando confrontado a retórica utilizada em discursos de Política Externa.
É comum ouvirmos de líderes, em especial os do mundo em desenvolvimento, palavras altamente emotivas quando falam de política externa, uma imagem comum é a de que um país não mais será ‘humilhado’, teremos ‘honra’, não ficaremos de braços cruzados essa figuras de linguagem ensejam uma reação automática, principalmente nas massas que justifica os ‘sacrifícios’ que a nação fará para não ser humilhada. Uma análise mais próxima nos mostrará que sentimentos são sensações individuais, ou seja, precisam de um sistema nervoso central que os decodifique e o atribua valor, logo há certa irracionalidade nessa linha de argumentação que atribui à coletividade características que não podem ser coletivas por existirem em âmbito intimo e pessoal, por exemplo, uma humilhação nunca será sentida por um Estado, no máximo haverá um somatório dos sentimentos individuais.
Esse tipo de discurso para as massas típico dos Estados de inclinação totalitária ou de políticos populistas, apesar de aparentemente ser uma retórica inócua na verdade encerra em si uma lógica perversa aos indivíduos, por exemplo, que vantagem prática tem o cidadão pobre de um país que por ‘orgulho’ nacional, insiste em agendas políticas conflitivas?
Não deveria ser o bem estar e segurança da população a justificativa para existência de um Estado organizado?
Devemos ser atentos a linguagem que usamos por que expressões emotivas em discursos em analises podem acabar por levar a situações perigosas ou justificar políticas que inevitavelmente levam ao sofrimento posterior maior dos cidadãos. Toda a retórica em torno da humilhação alemã no entre guerras, suscitou nas massas (não foi fator único, obviamente) um espírito em que sacrifícios pela pátria eram necessários e nobres e isso levou a cultura altamente militarizada e a campanha pelo “espaço vital” e o resto como dizem é história.
Como nos adverte Morgenthau nem sempre algo é conveniente ao Estado, por que ele tem dever de proteger seus cidadãos isso vale tanto para políticas externas moralistas (mormente terminam por ser intervencionistas) como para a análise dos discursos, tendemos a diminuir o poder e o impacto do discurso em nossas análises, mas as massas sempre foram justificativas de políticas externas digamos assim heterodoxas, que disfarçadas de aspirações populares não passam de idealizações das elites dominantes (elite pode ser de qualquer lado do espectro político, ou de dotação financeira).
Então, escolhamos nossas palavras e analogias com cuidado, por que podemos inadvertidamente iniciar movimentos que podem ser trágicos. Alias, façam um exercício de reflexão (proponho muitos deles eu sei) sobre o discurso político da América Latina e o tipo de conseqüência real que isso traz para os cidadãos.
O que é mais vantajoso para quem tem fome, fomentar o comércio de maneira sustentável? Ou desafiar hegemonias? Ou modernizar armas em nome da honra da nação? Que cobrará seu preço em sangue, quase sempre da fatia mais pobre e justamente menos favorecida pelos objetivos da política que os leva a morte.
Tudo isso deriva da idéia que Estados se comportam como indivíduos uma premissa que pode como vimos acima ser trágico. Analisar as relações internacionais é sempre um desafio por que mesmo nossos paradigmas mais queridos como os modelos focados na preponderância do Estado e do interesse nacional, podem nos trair na busca eterna por uma análise, empírica, objetiva e cientifica.
É comum ouvirmos de líderes, em especial os do mundo em desenvolvimento, palavras altamente emotivas quando falam de política externa, uma imagem comum é a de que um país não mais será ‘humilhado’, teremos ‘honra’, não ficaremos de braços cruzados essa figuras de linguagem ensejam uma reação automática, principalmente nas massas que justifica os ‘sacrifícios’ que a nação fará para não ser humilhada. Uma análise mais próxima nos mostrará que sentimentos são sensações individuais, ou seja, precisam de um sistema nervoso central que os decodifique e o atribua valor, logo há certa irracionalidade nessa linha de argumentação que atribui à coletividade características que não podem ser coletivas por existirem em âmbito intimo e pessoal, por exemplo, uma humilhação nunca será sentida por um Estado, no máximo haverá um somatório dos sentimentos individuais.
Esse tipo de discurso para as massas típico dos Estados de inclinação totalitária ou de políticos populistas, apesar de aparentemente ser uma retórica inócua na verdade encerra em si uma lógica perversa aos indivíduos, por exemplo, que vantagem prática tem o cidadão pobre de um país que por ‘orgulho’ nacional, insiste em agendas políticas conflitivas?
Não deveria ser o bem estar e segurança da população a justificativa para existência de um Estado organizado?
Devemos ser atentos a linguagem que usamos por que expressões emotivas em discursos em analises podem acabar por levar a situações perigosas ou justificar políticas que inevitavelmente levam ao sofrimento posterior maior dos cidadãos. Toda a retórica em torno da humilhação alemã no entre guerras, suscitou nas massas (não foi fator único, obviamente) um espírito em que sacrifícios pela pátria eram necessários e nobres e isso levou a cultura altamente militarizada e a campanha pelo “espaço vital” e o resto como dizem é história.
Como nos adverte Morgenthau nem sempre algo é conveniente ao Estado, por que ele tem dever de proteger seus cidadãos isso vale tanto para políticas externas moralistas (mormente terminam por ser intervencionistas) como para a análise dos discursos, tendemos a diminuir o poder e o impacto do discurso em nossas análises, mas as massas sempre foram justificativas de políticas externas digamos assim heterodoxas, que disfarçadas de aspirações populares não passam de idealizações das elites dominantes (elite pode ser de qualquer lado do espectro político, ou de dotação financeira).
Então, escolhamos nossas palavras e analogias com cuidado, por que podemos inadvertidamente iniciar movimentos que podem ser trágicos. Alias, façam um exercício de reflexão (proponho muitos deles eu sei) sobre o discurso político da América Latina e o tipo de conseqüência real que isso traz para os cidadãos.
O que é mais vantajoso para quem tem fome, fomentar o comércio de maneira sustentável? Ou desafiar hegemonias? Ou modernizar armas em nome da honra da nação? Que cobrará seu preço em sangue, quase sempre da fatia mais pobre e justamente menos favorecida pelos objetivos da política que os leva a morte.
Tudo isso deriva da idéia que Estados se comportam como indivíduos uma premissa que pode como vimos acima ser trágico. Analisar as relações internacionais é sempre um desafio por que mesmo nossos paradigmas mais queridos como os modelos focados na preponderância do Estado e do interesse nacional, podem nos trair na busca eterna por uma análise, empírica, objetiva e cientifica.
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