Pular para o conteúdo principal

Acordo sobre Agricultura – IV

Continuando nossa análise do vigente Acordo sobre Agricultura, nessa oportunidade vamos atacar as questões relativas aos subsídios, tratamento diferenciado e restrições voluntárias a exportações. Nesse sentido é interessante ler o que já foi postado sobre o acordo disponível aqui e sobre as regras gerais sobre Subsídios, Medidas Compensatórias, Dumping, e Salvaguardas. Aqui. Essa é a penúltima parte de nossa discussão que será encerrado com uma análise sobre a polêmica “cláusula da paz” (cláusula da devida moderação). E assim, teremos bases para analisar o atual imbróglio agrícola. Dividir essas postagens objetivou facilitar a leitura nesse processo continuo de adequação da minha escrita a linguagem típica dos blogs. Sem, contudo, (espero) perder a densidade e a qualidade de análise que os leitores desse blog merecem.

Sem mais delongas.

Subsídios à Exportação

Segundo o AsA, subsídio à exportação é qualquer tipo de medida que se enquadre em uma das situações a seguir:

Subsídios diretos à produção de produtos agrícolas, para a exportação;
Venda de produtos de estoques públicos a preços inferiores aos do mercado doméstico
Subsídios diretos à exportação;
Medidas para redução de custos de comercialização, para a exportação
Subsídios ao frete interno, e
Subsídios a produtos agrícolas que sejam incorporados em produtos para a exportação.

Os subsídios à exportação também estão sujeitos a compromisso de redução, tanto em termos de quantidade como de valor. Assim, os países devem reduzir em 36% o valor monetário dos subsídios concedidos e em 21% a quantidade de produto subsidiada (para os países em desenvolvimento aplica-se somente 2/3 desses percentuais, respectivamente, 24% e 14%). Além disso, os produtos a se beneficiarem desses subsídios só podem ser aqueles identificados durante o período base e devidamente notificados.

Além dessas disciplinas acordadas, os membros também se comprometem a não lançarem mão de práticas de comércio que possam vir a eludir os compromissos de não apoiar de forma desleal as exportações. Um exemplo disso são os programas de crédito à exportação com apoio oficial. Neste sentido, o AsA (Artigo 10:2) reconhece o problema e conclama os países-membros a envidarem esforços para se estabelecer regras multilaterais que disciplinem a concessão e a garantia de crédito às exportações e que, no futuro, estes somente sejam concedidos se em consonância com essas regras. A falta de dispositivos mais restritivos sobre essas práticas pode levar a distorções de mercado.

Tratamento especial e diferenciado

Um dos princípios que regem o AsA, expresso já a partir do seu Preâmbulo, é o de que os países em desenvolvimento terão um tratamento especial e diferenciado. De uma forma geral, este princípio traduz-se na exigência de cumprir apenas dois terços dos compromissos exigidos dos países desenvolvidos. Além disso, o período de implementação dos compromissos para os países desenvolvidos é de seis anos a contar da data de adesão ao Acordo, enquanto que para os países em desenvolvimento é de dez anos.

Além destes, outros dispositivos ao longo do AsA atendem esse princípio como, por exemplo, o Artigo 6:2 que trata das medidas de apoio interno e o Artigo 9:4 que estabelece exceções na área de subsídios à exportação.

Os países classificados como de menor desenvolvimento relativo ficaram isentos de qualquer compromisso.

Restrições às exportações

O AsA prevê que os países não devem fazer uso de medidas que restrinjam ou proíbam as exportações. Este é um tema central e que dá consistência ao conceito de segurança alimentar global através do livre comércio.

A possibilidade de algum país poder restringir, de forma unilateral e não disciplinada, a exportação de determinado produto, coloca claramente em risco o conceito de que uma maior liberdade comercial conduz a uma maior segurança alimentar, através de uma oferta estável a preços compatíveis de produtos agroalimentares.

Assim, o fato de um país poder restringir a saída de um produto diante de uma situação de escassez, ou por outros motivos, dificulta o acesso a estes mercados por parte dos países que dependem dessa oferta, e nela confiam, para o suprimento de suas necessidades (segurança alimentar), colocando em cheque este conceito. Além disso, essas restrições acentuam a oscilação da oferta e dos preços, dificultando o ajuste e impondo custos adicionais aos demais países.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...