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Considerações acerca da Santíssima Trindade

1. Breve Introdução

Esse artigo aborda considerações gerais sobre o dogma da Santíssima Trindade, não pretendente, no entanto, ser exaustivo ou um tratado definitivo sobre o assunto a metodologia aqui empregada se vale do levantamento da Bibliografia e da pesquisa junto a fontes da Igreja.

Vale salientar que este artigo não tem caráter cientifica ou teológica sendo apenas uma exploração de um tema fascinante que é ponto fulcral da fé católica.

Para apresentar esse tema de complexidade elevada o presente trabalho se divide de forma a demonstrar os termos necessários para a compreensão do assunto aqui abordado, a visão que a Igreja pré-Nicéia tinha sobre o assunto, e traçar um breve histórico sobre as disputas doutrinárias que caracterizaram os primeiros Concílios ecumênicos.

Para os cristãos católicos a Santíssima Trindade é um Dogma, ou seja, uma Verdade de Fé, que por definição não pode e nem deve ser contestada. A aceitação tácita das verdades da fé, não obsta, entretanto, a busca do entendimento e da justificação desse dogma. Nesse sentido de busca da compreensão que surge esse estudo, com as devidas ressalvas supracitadas.

2. Conceitos Básicos

O Catecismo da Igreja Católica – CIC, dedica sua primeira parte a profissão de fé, também, conhecido como Símbolo dos Apóstolos, esse credo expressa de forma sintética todo o sistema de crença cristão católico:

Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra.

E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna. Amem.

A afirmação mais básica e primeira do credo é “creio em Deus pai” sobre essa premissa primeira pode-se dizer que “a fé cristã crê e professa que há um só Deus, por natureza, por substância e por essência” (CatRom I. 2, 8, p. 26 apud CIC 200).

Após isso outro pilar básico do cristianismo é a crença em Jesus Cristo, como filho único de Deus assim ensina o CIC 423:

Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que Ele «saiu de Deus» (Jo 13, 3), «desceu do céu» (Jo 3, 13; 6, 33) e «veio na carne» (5), porque «o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 14, 16).

O próximo item do credo católico diz “creio no Espírito Santo” o CIC, 687 ensina:

«Ninguém conhece o que há em Deus, senão o Espírito de Deus» (1 Cor 2, 11). Ora, o seu Espírito, que O revela, faz-nos conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva; mas não Se diz a Si próprio. Aquele que «falou pelos profetas» (5) faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas a Ele, nós não O ouvimos. Não O conhecemos senão no movimento em que Ele nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhê-Lo na fé. O Espírito de verdade, que nos «revela» Cristo, «não fala de Si próprio» (6). Tal escondimento, propriamente divino, explica porque é que «o mundo não O pode receber, porque não O vê nem O conhece», enquanto aqueles que crêem em Cristo O conhecem, porque habita com eles e está neles (Jo 14, 17).

Assim vemos que para o cristão a figura da trindade é fundamental e intimamente ligada a noção de Deus, da Salvação e da Criação nesse sentindo pode-se perceber que o mistério da Trindade não é de fácil interpretação e de fácil compreensão. Pode-se dizer da fé católica:

(Fides autem catholica haec est, ut unum Deum in Trinitate, et Trinitatem in unitate veneremur, neque confundentes personas, neque substantiam sepa-raptes; alia enim est persona Patris, alia Filii, alia Spiritus Sancti: sed Patris et Filii et Spiritus Sancti una est divinitas, aequalis gloria, coaeterna majestas)

A fé católica é esta: venerarmos um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as Pessoas nem dividir a substância: porque uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas do Pai e do Filho e do Espírito Santo é só uma a divindade, igual a glória e coeterna a majestade (Símbolo Quicumque: DS 75 apud CIC 266)

Esse Símbolo nos suscita a necessidade entender as terminologias empregadas nesse sentido a Igreja ensina no CIC, 250-252:

No decurso dos primeiros séculos, a Igreja preocupou-se com formular mais explicitamente a sua fé trinitária, tanto para aprofundar a sua própria inteligência da fé, como para a defender contra os erros que a deformavam. Foi esse o trabalho dos primeiros concílios, ajudados pelo trabalho teológico dos Padres da Igreja e sustentados pelo sentido da fé do povo cristão.

Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de elaborar uma terminologia própria, com a ajuda de noções de origem filosófica: «substância», «pessoa» ou «hipóstase», «relação», etc. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito, a estes termos, chamados a exprimir também, desde então, um mistério inefável, «transcendendo infinitamente tudo quanto podemos conceber a nível humano» (1 Cor 12, 4-6; Ef 4, 4-6.).

A Igreja utiliza o termo «substância» (às vezes também traduzido por «essência» ou «natureza») para designar o ser divino na sua unidade; o termo «pessoa» ou «hipóstase» para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na distinção real entre Si; e o termo «relação» para designar o facto de que a sua distinção reside na referência recíproca de uns aos outros.

3. O que é a Santíssima Trindade?

A compreensão do Mistério da Santíssima Trindade é tarefa árdua e por sua natureza divina inconcebível de ser totalmente vislumbrada com apoio apenas de mecanismo cognitivos[1]. Esse mistério é ponto fulcral da vida cristã. Nesse sentido o Catecismo da Igreja Católica ensina no can 237:

A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos “mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados lá do alto” (I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius, c. 4: DS 3015) É verdade que Deus deixou traços do seu Ser trinitário na obra da criação e na sua revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santíssima constitui um mistério inacessível à razão sozinha e, mesmo, à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo.

Não obstante a essa condição misteriosa é preciso e imperioso que tentemos sempre buscar conhecer e viver esse que é mistério fundamental da nossa fé.

Todas as coisas criadas foram feitas por Deus, Uno e Trino. Deus criou o mundo, ainda que a criação seja atribuída ao Pai; Deus realizou a Redenção, ainda que só a segunda Pessoa “O Filho” se fez homem e morreu na cruz; Deus nos santifica, ainda que a santificação seja atribuída ao Espírito Santo. Assim, pois, quando agradecemos a Deus tudo o que fez por nós e em nós, temos de agradecer a Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo. (PUJOLL; BIELA, 2003)

A luz dos conceitos supracitados fica claro que “o Mistério da Santíssima Trindade consiste em que, em Deus há uma única essência e três Pessoas Distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, cada uma das quais é Deus, sem ser três deuses, mas um único e só Deus”. (PUJOLL; BIELA, 2003)

4. Os Concílios ecumênicos

Concílios[2] são reuniões do episcopado com objetivo de discutir e deliberar assuntos de Doutrina, Fé e Costumes. Aqui nos interessa os Concílios Ecumênicos (universais) que congregavam toda a Igreja, ou seja, tanto Bispos como Patriarcas (do rito ortodoxo). Aqui revisaremos apenas os concílios que trataram de Doutrinas Trinitárias.

4.1 Nicéia I (325)

O fim da perseguição romana levou a Igreja a um rápido crescimento. Esse crescimento acabou por levar a uma multiplicidade de interpretações e doutrinas, as disputas entre os grupos estavam cada vez mais acirradas assim para evitar que mais uma guerra civil lhe estourasse nas mãos o Imperador Constatino (Primeiro Imperador Cristão, mas não quem elevou o cristianismo à religião oficial de Roma) convocou um concílio para definir a questão que foi a primeira controvérsia doutrinária da Igreja, o cerne da disputa era a divindade de Cristo. Essa questão ficou conhecida como controvérsia Ariana (seguidores de Ario).

Os arianos sustentavam que Cristo era filho de Deus, mas de uma substancia diferente da do Pai, não sendo Deus. Portanto, negavam uma das pessoas da trindade. Essa visão foi considerada heresia e o credo de Nicéia deixa claro que a visão que predominou e se considera correta é a que Jesus tem a mesma substancia do Pai. Os arianos ainda persistiram por algum tempo, o próprio Imperador era batizado nessa corrente.

4.2 Constantinopla I (381)

Esse Concílio tratou de questões ligadas a Segunda pessoa da Trindade. Macedônio, Arcebispo de Constantinopla, ensinava que o Espírito Santo era ‘ministro e servo’ no mesmo nível dos anjos. Cria que o Espírito Santo era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Isso era uma negação da verdadeira divindade do Espírito Santo. (CAIRNS, 1992)

Neste 2º Concílio também completou-se o credo (profissão de fé) chamado "Credo Niceno- Constantinopolitano", usado até hoje:

"Creio em Um Só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em Um Só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido Pai antes de todos os séculos: Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro; gerado e não criado, consubstancial ao Pai, por quem tudo foi feito. O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo na Virgem Maria e se fez homem.

Por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. E ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

E novamente virá com glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que do Pai procede e que, com Pai e o Filho, juntamente é adorado e glorificado, e que falou pelos profetas. E na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica. Professo um só Batismo, para remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos e a vida do século futuro. Amém."

4.3 Éfeso (431)

Nesse terceiro Concílio ecumênico novamente os Bispos e Patriarcas reuniram-se para considerar uma nova negação da Trindade. Mais uma vez um Arcebispo de Constantinopla apresentou uma tese herética dessa feita foi Nestório que:

Defendia que Maria havia dado à luz o homem Jesus, e que este possuía uma ligação com Deus unicamente de ordem moral. Nessa assembléia foi condenada a tese nestoriana, confirmando que Jesus Cristo é o verdadeiro Deus, portanto, o título de Theotokos dado a Maria era plenamente cabível, visto o fato de ela haver dado à luz a natureza humana de Jesus Cristo, que, entretanto, é simultaneamente Deus, como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Após a condenação, Nestório seguiu em exílio para a Mesopotâmia, localidade onde organizou a Igreja Nestoriana separada (Igreja Assírica – rito caldeu) que existe até os dias atuais congregando alguns milhares de fiéis”. (LOIACONO, 2005).

4.4 Calcedônia (451)

O quarto Concílio ecumênico foi convocado para combater a Heresia de Monofisismo que nasce de um combate extremado a heresia nestoriana. “Os monofisitas afirmavam que a natureza humana tinha deixado de existir, como tal, em Cristo, sendo assumida pela sua pessoa divina de Filho de Deus.” (CIC, 467).

Karenin(1957) assevera acerca dessa Concilio:

O concílio condenou a heresia dos Monofisitas e deliberou que Nosso Senhor Jesus Cristo é um verdadeiro Deus e um verdadeiro homem; que a sua natureza divina foi gênita do Pai antes de todos os séculos e que sua natureza humana veio ao mundo por intermédio de Nossa Senhora e sempre Virgem Maria, que foi escolhida para ser a mãe do salvador pelo Eterno Pai. Desta forma, Jesus Cristo Homem nasceu na terra em tudo igual a qualquer um dos homens fora o pecado.

Assim declarou o Concílio:

Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, “semelhante a nós em tudo, menos no pecado” (Heb 4, 15): gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade.

Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase. (Concílio de Calcedónia, Symbolum: DS 301-302 apud CIC 467).

4.5 Constantinopla II (533)

Esse quinto Concílio surgiu para combater o ressurgimento da heresia nestoriana nos escrito dos Teodoro, Teodorito e Iva. Manifestou assim a Igreja nessa ocasião:

[...] “não há n'Ele senão uma só hipóstase (ou pessoa), que é nosso Senhor Jesus Cristo, um da santa Trindade” (II Concílio de Constantinopla, Sess. 8ª, Canon 4: DS 424.). Tudo na humanidade de Cristo deve, portanto, ser atribuído à sua pessoa divina como seu sujeito próprio (Concílio de Éfeso, Anathematismi Cyrilli Alexandrini, 4: DS 255); não só os milagres, mas também os sofrimentos (II Concílio de Constantinopla, Sess. 8ª, Canon 3: DS 423) e a própria morte: “Aquele que foi crucificado na carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e um da Santíssima Trindade”( Cf. II Concílio de Constantinopla, Sess. 8ª, Canon 10: DS 432)” (CIC 468).

4.6 Constantinopla III (681)

Surgiu para combater a heresia do monotelismo que segundo Karenin (1957) “Uma idealização do patriarca Sérgio de Constantinopla que, procurando resgatar as igrejas que haviam adotado o monofisismo herético após sua condenação em Calcedônia [...] cria um meio-termo entre o monofisismo e o duofisismo ortodoxo”. Concluí-se nesse Concílio que em Cristo há duas vontades sem divisão porque a vontade humana segue sem resistir ou se opor, submetendo-se livre e amorosamente à vontade divina onipotente.

5. A Santíssima Trindade na Igreja Primitiva

As citações seguintes testemunham o que os primeiros cristãos pensavam sobre a crença na Santíssima Trindade, e refuta acusações que buscam atribuir ao Concílio de Nicéia a “invenção” do conceito de divindade de Jesus, que como vimos é intrinsecamente ligado a noção de trindade. Os trechos ora reproduzidos foram retirado de NABETO (2002).

[...] "No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não houver água corrente, batizai em outra água; se não puder batizar em água fria, façai com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Autor desconhecido, ano 90, Didaqué 7,1-3).

"Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça" (Clemente de Roma, ano 96, Carta aos Coríntios 46,6).

"Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo" (Clemente de Roma, ano 96, Carta aos Coríntios 58,2).

"Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda" (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta aos Efésios 9,1).

"Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros, assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteral a Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual" (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta aos Magnésios 13,1-2).

"Que não somos ateus, quem estiver em são juízo não o dirá, pois cultuamos o Criador deste universo, do qual dizemos, conforme nos ensinaram, que não tem necessidade de sangue, libações ou incenso. [...] Em seguida, demonstramos que, com razão, honramos também Jesus Cristo, que foi nosso Mestre nessas coisas e para isso nasceu, o mesmo que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, procurador na Judéia no tempo de Tibério César. Aprendemos que ele é o Filho do próprio Deus verdadeiro, e o colocamos em segundo lugar, assim como o Espírito profético, que pomos no terceiro. De fato, tacham-nos de loucos, dizendo que damos o segundo lugar a um homem crucificado, depois do Deus imutável, aquele que existe desde sempre e criou o universo. É que ignoram o mistério que existe nisso e, por isso, vos exortamos que presteis atenção quando o expomos" (Justino Mártir, ano 151, I Apologia 13,1.3-6).

"Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos" (Justino Mártir, ano 151, I Apologia 61).

"Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém." (Policarpo, ano 156, Martírio de Policarpo 14,1-3).

"De fato, reconhecemos também um Filho de Deus. E que ninguém considere ridículo que, para mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não pensamos sobre Deus, e também Pai, e sobre seu Filho como fantasiavam vossos poetas, mostrando-nos deuses que não são em nada melhores do que os homens, mas que o Filho de Deus é o Verbo do Pai em idéia e operação, pois conforme a ele e por seu intermédio tudo foi feito, sendo o Pai e o Filho um só. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do Espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai. Se, por causa da eminência de vossa inteligência, vos ocorre perguntar o que quer dizer "Filho", eu o direi livremente: o Filho é o primeiro broto do Pai, não como feito, pois desde o princípio Deus, que é inteligência eterna, tinha o Verbo em si mesmo; sendo eternamente racional, mas como procedendo de Deus, quando todas as coisas materiais eram natureza informe e terra inerte e estavam misturadas as coisas mais pesadas com as mais leves, para ser sobre elas idéia e operação" (Atenágoras de Atenas, ano 177, Súplica pelos Cristãos, 10,2-4).

"Como não se admiraria alguém de ouvir chamar ateus os que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e o Espírito Santo, ensinando que o seu poder é único e que sua distinção é apenas distinção de ordens?" (Atenágoras de Atenas, ano 177, Súplica pelos Cristãos 10).

"Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Espírito Santo]" (Teófilo de Antioquia, ano 181, Segundo Livro a Autólico 15,3).

"Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus..." (Ireneu de Lião, ano 189, Contra as Heresias I,10,1).

"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação" (Ireneu de Lião, ano 189, Contra as Heresias IV,20,4).

"Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula: 'Ide, ensinai os povos batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo'" (Tertuliano, ano 210, Do Batismo 13).

6. Considerações Finais

A trindade é ponto principal da doutrina cristã seu mistério embora esteja além da capacidade intelectual humana, pode ser vislumbrado a partir das pistas deixadas na Doutrina.

Percebemos que muito embora as acusações que a trindade seja uma forma deturpada ou falsa de monoteísmo, vemos que unicidade de Deus em uma única essência divina. E que tanto a divindade de Jesus, como a existência e forma da trindade tem seu fundamento na Igreja Primitiva.

Os primeiros séculos da era cristã foram marcados pela expansão do cristianismo o que acarretou em disputas doutrinárias, que foram pacificadas nos concílios. Apesar de parte importante das discussões conciliares é preciso lembrar que esses encontros, também, versavam sobre Cânones Bíblicos, Regras da Igreja, Veneração de Imagens e principalmente combate a heresias.

Esse estudo objetivou levantar os principais ensinamentos da Doutrina Católica acerca da Santíssima Trindade, embora tenha alcançado seus propósitos não esgota o tema e nem aponta novas descobertas. E cabe relembrar que nem foi feito com objetivo a ser peça apologética e artigo com caráter cientifico sobre teologia.

7. Referências Bibliográficas

CAIRNS, E. E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo. Vida Nova, 1992.

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA. Catecismo da Igreja Católica – CIC. Disponível em

LOIACONO, Mauricio. A Igreja Ortodoxa no Brasil in REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 116-131, set - nov. 2005.

NABETO, Carlos Martins. SOBRE A SANTÍSSIMA TRINDADE in Apostolado Veritatis Splendor:. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/39. Desde 22/10/2002.

PUJOLL, Jayme; BIELA, Jesus Sanches. 05: O MISTÉRIO DA SANTÍSSIMA TRINDADE in Apostolado Veritatis Splendor:. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/688. Desde 20/01/2003.

KARENIN, Jerzy Berkman. Doutrina Cristã Ortodoxa. São Paulo, Santa Igreja Grego-Ortodoxa do Brasil, 1957.



[1] Ver Dt 32. 6: Ml 2. 10

[2] Um apanhado interessante para os não versados no assunto ver [http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlios_ecum%C3%A9nicos_cat%C3%B3licos]

Comentários

Anônimo disse…
Acho muito interessante a abordagem sobre assuntos não exatamente "exclusivos" sobre as relações internacionais, e ainda considero um assunto importante para quem deseja ser um grande conhecedor e debatedor das RI's.
Gostaria de parabenizar o blog sobre o artigo sobre a trindade, visto que é um tema intrigante dentro da igreja católica e desperta sempre a nossa curiosidade.

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